No último domingo li uma entrevista do sociólogo Alain Touraine no Estadão (http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup316240,0.htm). Nela, entre outras coisas, ele apontou a desregulamentação como fator-chave para o fortalecimento da economia e o simultâneo enfraquecimento da política nos últimos anos e concluiu que a atual crise econômica deverá resultar no fortalecimento da política porque ela está aumentando a demanda da sociedade por regulamentação.
Confesso que fiquei um tanto decepcionada com este raciocínio mitológico (volta à idade do ouro). Ok, não fiz Sorbonne, não sou PhD, mas sei que nada volta - nem nas nossas vidas, nem na História. Touraine parece se esquecer que a importância que o Estado já teve deve-se à sua forte presença econômica, gerindo companhias dos mais variados setores. E embora exista uma marola nessa direção atualmente (com questionamentos sobre se os Estados deveriam assumir bancos falidos, por exemplo), a sociedade pós-privatização quer mudanças, sim, mas não a volta para o passado. Queremos taxas mais competitivas e SACs mais eficientes. Mas alguém quer de volta a fila do Plano de Expansão da Telesp??? (nunca ouviu falar nisso?? converse com seus pais ou avós)
Mesmo a demanda por ecologia, que Touraine identifica como um exemplo dessa demanda por regulamentação, ocorre hoje em esferas paralelas aos Estados. Davos-Belém é a prova cabal dessa tese: os Estados estavam em Davos. Quem estava em Belém, discutindo ecologia, era a sociedade civil organizada (ou tentando se organizar).
Mas o que a entrevista de Touraine me fez pensar foi: a sociedade hoje demanda regulamentação ou hedges? Porque depois de um longo período de expansão econômica, parece que esquecemos de fatores básicos da economia, como risco, por exemplo. E quando digo "esquecemos", falo de pessoas jurídicas e de pessoas físicas também (que estão chorando as perdas na Bolsa de Valores, mas nunca se questionaram de onde vinha a valorização de 15%, 20%, 40% acima dos índices do mercado).
Parece que esquecemos também (PJs e PFs) de outras noções básicas, como saturação de mercado, por exemplo. Pegue o mercado automotivo como exemplo: será que o crescimento de vendas vivido nos últimos 2 anos, graças ao crédito abundante, permaneceria em patamares semelhantes, mesmo se o crédito continuasse fácil? Não chega um ponto em que há saturação de mercado?
E visão de longo prazo? Alguém aí lembra que as commodities metálicas se valorizaram em grande parte por conta da demanda do mercado chinês - sendo que parte dessa demanda vinha das obras para as Olimpíadas - ou seja, tinham data para acabar?
Ooops, vamos voltar ao tema: embora me parece que oportunisticamente muita gente está querendo é garantias, e não regulamentação, vamos supor que Touraine está certo e que há, sim, uma demanda por regulamentação por parte da sociedade. Se isso for verdade, é muito mais grave porque pelos exemplos e por inúmeros outros exemplos (Enron, Lehman Brothers etc) percebemos que o mercado (=as pessoas, gente como eu e você) encara as regras como algo a ser burlado. Então, qual será o modelo de aplicação da "regulamentação"? Vigiar e Punir??? Estaremos dispostos a pagar o custo da estrutura de fiscalização e punição que este modelo exige? Estaresmo dispostos a sermos tratados como crianças irresponsáveis, que é a premissa desse modelo??
Enfim, este é o ponto que mais me frustrou na entrevista de Touraine. Porque olhar para trás, para a Idade do Ouro, e invocar Regulamentação e Estado? Não está na hora de olhar para a frente e cobrar Auto-Regulamentação e Responsabilidade de TODOS os agentes - econômicos, políticos, sociais?
Solução / revolução coletiva foi a ilusão dos anos 60. Hoje, está cada vez mais evidente que os problemas coletivos exigem soluções individuais. Emprego, aquecimento global, violência... Pode parecer loucura, mas a solução de tudo passa pelo engajamento individual e parte de nossos valores e crenças e posturas e atitudes.
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