Lufthansa lança vôo comercial movido a biocombustível que contém gordura animal

O setor de transportes, notadamente o aéreo, tem estado na mira das negociações climáticas há anos. Eles escaparam de regulamentação específica na época em que foi firmado o Protocolo de Kyoto porque prometeram empreender uma iniciativa voluntária de redução nas emissões dos gases causadores do efeito estufa. Porque esse segmento é um dos maiores poluidores individuais do mundo. Bom, chegou a CoP15 e nada – a não ser trocas de acusações entre a IATA, a entidade que representa o setor, e a ONU. Mesmo sem uma legislação, o setor corre porque sabe que, mais cedo ou mais tarde, ela virá – e quanto mais cedo eles se adaptarem, menores os custos depois. E nessa corrida, a Lufthansa aparentemente saiu na frente ao anunciar sua primeira rota comercial a usar biocombustíveis. Beleza! Não fosse por um detalhe: o tal do “biocombustível” é uma mistura de combustíveis fósseis com óleos vegetais... e gordura animal! Como alguém pode considerar sustentável um combustível feito às custas de seres vivos? Inclusive porque não é apenas uma questão de sensibilidade aos direitos dos animais: sua criação para corte é uma das principais fontes de gases causadores do efeito estufa. Ou seja, estão trocando seis por meia dúzia.


A rota comercial movida a “biocombustíveis” terá início em 15 de julho. Trata-se do trecho entre Frankfurt e Hamburgo, na Alemanha. O fornecedor de biocombustíveis é a finlandesa Neste Oil, que já começa a divulgação com números questionáveis. Ela declara que a redução nas emissões será da ordem de 40% a 60%. Porém a mistura contém 50% de combustíveis fósseis. Para que os outros 50% conseguissem responder integralmente por esse percentual de redução, seria necessário que suas emissões fossem equivalentes a 20% das atuais emissões dos combustíveis fósseis, o que não acontece.

Mas além desse pequeno erro de cálculo, há a questão da origem do combustível: gordura animal. Se essa tecnologia se espalhar, corremos o risco de ter a criação de animais de corte com a finalidade de abastecer aeronaves – o que elevaria a pressão por mais cereais (para alimentá-los) e mais água ao mesmo tempo em que elevaria a emissão de gases. Se entrarmos no mérito da crueldade que é a criação de animais de corte, aí então a situação passa de um absurdo econômico para um acinte moral.

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