Marcelo Cardoso (*)
Guapiruvu é um bairro da cidade de Sete Barras, no Vale do
Ribeira, litoral sul de São Paulo.
Esta é a região de maior índice de pobreza no Estado de São Paulo, mas é
também uma região importante pela preservação e pela unificação entre o social
e o ambiental. Foi aqui que o Vitae Civilis deu início a seu trabalho em 1997
com uma agenda local de desenvolvimento.
E agora, em 2013, voltamos para olhar essa trajetória e avaliar o
trabalho realizado para esta comunidade e a contribuição dada pelo Vitae
Civilis a este processo.
Na encruzilhada entre a ocupação tradicional e a legislação
ambiental surgiu a perspectiva de organização social: baseado na metodologia da
Agenda 21, o Vitae Civilis trabalhou com a comunidade do Guapivuru na
construção de uma agenda local de desenvolvimento. Foram anos de mapeamento, conversas, diagnóstico e desenho
de mapa, que partia de onde a comunidade estava em direção a onde ela sonhava
chegar.
Com a agenda de desenvolvimento local, sonhou-se, mas também
se realizou. O trabalho foi
desenvolvido em quatro programas: organização social, políticas públicas,
negócios sustentáveis e ecocidadania.
Eles geraram três instituições com CNPJs próprios: a Associação, a
Cooperativa e o Clube Ambiental. A elas veio se juntar, mais tarde, o
assentamento de 61 famílias, promovido pelo INCRA. Cada família recebeu cerca de 6 hectares, com 1-1,5 hectare
de área média de plantio por lote, uma vez que muitas áreas não podem ser
derrubadas.
Olhar a partir de uma perspectiva de 15 anos depois do
início da caminhada confirma a importância do longo prazo para iniciativas de
sustentabilidade. O que aconteceu
no Guapiruvu comprova que é no médio e longo prazo que elas maturam – e com
resultados surpreendentes. Pois a
agenda de desenvolvimento local contribuiu também com o amadurecimento dos
líderes comunitários, que passaram a se articular na busca de políticas
públicas por conta própria. O Vitae Civilis pode se retirar do Guapiruvu e
ainda assim as ações, a execução desse plano de desenvolvimento tiveram
continuidade.
Do ponto de vista econômico, a base do projeto de
desenvolvimento local do Guapiruvu é a agroecologia da banana e da pupunha,
vendida nos mercados de Sorocaba, Santo André, Mauá, Embu. Ela permite a preservação ambiental e
exercita a economia solidária.
De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), 870
milhões de pessoas passam fome no mundo, apesar de produzimos
comida
suficiente para alimentar a todos. A
cada 60 minutos, cerca de 300 crianças morrem em decorrência de desnutrição
crônica – ou 5 a cada minuto --
segundo estudo publicado pela ONG Save the Children.
Mudar esta realidade passa obrigatoriamente pelo fortalecimento da agricultura
familiar e da agroecologia. Pois como a dinâmica do agronegócio é voltada à
produção de commodities para suprimento de ração animal, esse modelo não
consegue dar conta da fome no mundo.
Não por acaso, ao lado do combate ao desperdício, consumo sazonal e
regional, exploração de novos sabores e cozinha eficiente, está o apoio ao
pequeno agricultor, com aquisição de alimentos de produção agroecológica, entre
as soluções que a Oxfam propõe para equacionar o problema da fome no mundo.
Hoje a agenda de desenvolvimento do Guapiruvu serve de
modelo para outras comunidades que estão em uma região ambientalmente frágil,
pobre e que precisam desses modelos de experiência para se desenvolver e
compreender esse processo de sustentabilidade.
(*) Marcelo Cardoso é
coordenador executivo do Vitae Civilis
Se o progresso chegar infelizmente a natureza pagará o preço.
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