Quando o Estado não garante a segurança do cidadão

Parabéns! Agora você trabalha para você mesmo! Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o brasileiro precisa trabalhar 149 dias por ano – o equivalente a quatro meses e 29 dias – apenas para sustentar a carga tributária imposta pelo governos federal, estadual e municipal. Ou seja, tudo que você trabalhou até este domingo, 29 de maio, foi direto para os cofres públicos. Segundo o Impostômetro, instalado em São Paulo, hoje foi atingida a marca de R$ 600 bilhões recolhidos. Com este dinheiro, o governo paga, entre outras coisas, as estruturas federal e estadual de segurança. Foram R$ 8,5 bilhões em 2009, segundo o site Contas Públicas, que contabilizou a quantia desembolsada por seis unidades federais, incluindo os departamentos de polícias federal e rodoviária federal. O Estado mantém um efetivo de 287 600 soldados em seu Exército e 600 mil policiais, somando o total de profissionais dos órgãos estaduais de segurança pública, agregando policiais civis e militares e corpos de bombeiros militares. E, no entanto, nada disso é suficiente para garantir a segurança do cidadão, como admitiu hoje a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Note que ela não estava falando de todos os 190 milhões de brasileiros, mas das 1855 pessoas ameaçadas de morte entre os anos de 2000 e 2010 por conta de conflitos no campo, segundo dados que a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Trata-se, sem dúvida, de uma excelente notícia para todos aqueles que já usaram e para os que pretendem fazer uso da força para impor sua vontade, como tem ocorrido na região Norte. Segundo a CPT, já são 1580 mortes em conflitos agrários no Brasil desde a década de 80, com 94 criminosos condenados, mas só um preso.

Não dizem que a história é a versão dos vencedores? Pois é...

O que é a História senão a versão de quem venceu e ficou para contar? E, na política brasileira, quem mais exibe a face de vencedor do que José Sarney? Nascido em 24 de abril de 1930, este maranhense do município de Pinheiro disputa com a também taurina Elizabeth, regente da Inglaterra, quem fica mais tempo no poder. Porque apesar de nosso regime não ser monárquico, ele reina desde 1954, quando elegeu-se suplente de Deputado Federal pelo falecido PSD-Partido Social Democrático. Chegou a governador de seu estado em 1965, com o apoio da ditadura militar. Apesar de integrar a ARENA, o partido de direita dos anos de chumbo, rompeu com esta na transição para a democracia fundando o Partido da Frente Liberal-PFL (sim, aquele que, recentemente, mudou o nome para DEM), com o qual associou-se ao PMDB. Com a morte prematura de Tancredo Neves, de quem era vice, passou a envergar a faixa presidencial e, desde então, não abandona Brasília: em 2011, assumiu a presidência do Senado Federal pela quarta vez. E foi, nesta condição, que ele inaugurou uma exposição de 16 painéis a título de comemoração pelos 185 anos de existência do poder legislativo no Brasil. Como história de um vencedor, esta também omite tudo que lhe desagrada. Por exemplo, o impeachment de seu aliado Fernando Collor.

Mas quem foi o historiador que se submeteu a assinar esta exposição?


Quatro camponeses e um papagaio

Sente aí, seu moço: vou lhe contar um causo. Não se avexe que é história rápida e rasteira porque defunto fresco merece respeito e presteza, senão começa a cheirar! Chamava-se Adelino Ramos e era que nem gato: sete vidas! Não caiu em Corumbiara, nos idos de 95, caiu agora, na frente da família, enquanto vendia verdura. Mas dizem que foram precisos cinco tiros para abater o cabra! E ele ainda chegou a ser socorrido num hospital! Esse era duro na queda, mas não teve jeito: os homi da madeira e do carvão são mais duros porque são duros de coração. Tem respeito à vida não, seu moço! Com eles, é na base do trator, da motosserra e do tiro: nada pode ficar em pé na frente deles! Só essa semana foram quatro: o Adelino, em Rondônia, e o José Cláudio Ribeiro da Silva, a Maria do Espírito Santo e o Erenilton Pereira dos Santos, no Pará.

Com modernização, câncer passou a ser a principal causa de mortes na China

Na China, o Ministério da Saúde acaba de anunciar que o câncer tornou-se a principal causa mortis, respondendo por um quarto das mortes no país. Essa transição das tradicionais pragas das nações pobres (doenças infecciosas e altas taxas de mortalidade infantil) para câncer, problemas cardíacos e AVCs coincide com a urbanização do Império do Centro. E as estatísticas mostram uma prevalência desse mal nas cidades industriais onde, como você deve saber, a poluição é tamanha que chega a ofuscar a vista, como uma neblina. Lembra dos Jogos Olímpicos, quando havia o receio, por parte do comitê organizador, da falta de condições respiratórias para provas envolvendo corridas (e, portanto, maior esforço cardiovascular)?

Pois é...

A incrível história do lago que sumiu

Ele se chama Urmia e fica no Irã. Seus primeiros registros foram feitos pelos assírios no século 9 AC. Com uma superfície de 5.200 Km2, 140 Km de comprimento, 55 Km de largura e 16 metros de profundidade, era o maior lago do Oriente Médio e o terceiro maior lago salgado do planeta. O Urmia era destino migratório dos flamingos, pelicanos e gaivotas no Oriente Médio. Era também um centro turístico, que atraia visitantes interessados em navegar e ganhar-se em suas águas salgadas. Hoje, os barcos não navegam mais: estão presos no sal.


Hoje, o lago é um salar.

(Fotos de Vahid Salemi/AP)


Cordel nada encantado

Hoje foi difícil distinguir a realidade da ficção!

No plenário da Câmara dos Deputados, era como se Coronel Timóteo estivesse negociando o casamento de sua irmã, Antônia, com o delegado Batoré, para deste obter proteção e vantagens.

No Pará, o camponês e líder extrativista José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo, foram assassinados. em um projeto de assentamento agroextrativista. Lembrou, mais uma vez, o "cornérzim" da novela mandando seus jagunços fazerem sua "justiça".

No Mato Grosso, madeireiros usavam correntes para derrubar árvores. Aí, não me lembrou nenhuma novela: parecia simplesmente o fim do mundo. Ou, pelo menos, o fim do bom senso.

Se cão e gato são mercadoria, Código de Defesa do Consumidor em quem vende!

Está fazendo quase um ano. Era uma noite bem fria. Cheguei em casa, cliquei no controle remoto e o portão começou lentamente a se abrir. Nessa hora, passava na calçada um cachorrinho, numa perfeita conexão das coordenadas tempo-espaço: um minuto a mais ou a menos e o Mulekinho não faria parte da minha vida. Junto com ele, veio essa pergunta que até hoje me intriga: quem, em sã consciência, pode ter deixado na rua uma coisinha tão pequeninha e indefesa? Um animalzinho tão alegre, brincalhão, simpático?

Quem teria coragem de abandonar um filhotinho?

Sacolas plásticas: como viver sem elas

Tem horas que meus (muitos) cabelos brancos ajudam: eles indicam que vivi (e sobrevivi) ao tempo em que simplesmente não existiam sacolas plásticas. Por isso, acho graça quando vejo hoje tantas pessoas se perguntando como farão para viver sem elas. A boa notícia é que não é tão complicado assim.

Violência na USP

Moro ao lado da USP há 38 anos. Das janelas da escola (estadual), dava para ver o campus. No último ano do ensino médio (à época, chamado de "colegial"), isso era uma tortura! Pois os professores apontavam para os prédios e diziam "no próximo ano, quando vocês estiverem lá". E o medo crescia. Será que conseguiríamos passar no vestibular? Naquela época, o medo também se fazia presente quando íamos passear no campus por causa dos rumores de um estuprador que atuava por lá. Quando finalmente passei na Fuvest, comecei a ter contato com os roubos e saques. A difícil convivência da USP com a comunidade do entorno tem história. E uma história que piora a cada capítulo.

A frente fria e as ruas

Sou informada pela imprensa de que podemos ter um recorde de frio esta noite: 5 graus. Em noites como essa, cresce a busca por albergues pelos moradores de rua de São Paulo. Eles são, em sua maioria, homens (86%), mais da metade dos quais (62,8%) não completaram o ensino fundamental e que majoritariamente (74,4%) consomem álcool ou drogas. E a perda do emprego foi o principal motivo apontado para justificar a permanência nas ruas. Este é o perfil oficial do morador de rua de São Paulo, traçado em censo conduzido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 2009. Naquela época, já existiam 13.666 pessoas ao relento - mais gente que o total da população de metade dos 645 municípios paulistas. Esse número é consequência de um crescimento de 57% nos últimos dez anos - ironicamente, um período de estabilidade e crescimento econômico. Mas que, como se pode ver, não foi suficiente para incluir a todos.

Higienópolis e Sé

Em 2009 fui agraciada com a oportunidade de falar com a profissional que cuidava das ações de Responsabilidade Social da vetusta FIESP. A conversa resvalou para o cyberativismo, que foi por ela duramente criticado como ineficiente e pouco legítimo. Embora não citado diretamente, o comício das Diretas Já, que reunião um milhão de pessoas na Praça da Sé, era a referência óbvia. E a crítica é que reclamações no twitter eram apenas desabafos e não posições políticas. E desde então isso me incomoda. Afinal, se a democracia é baseada na livre expressão de ideias e se graças aos meios de comunicação já disponíveis no século XX essas ideias podem ser formadas e expressadas virtualmente, por que essa fixação no meu corpitcho? Por que eu tenho que estar de corpo presente para que minha opinião seja considerada válida?

Dois anos depois, o Churrascão da Gente Diferenciada mostra que no século XXI, a opinião online é tão válida como aquela que é expressa offline.

Higienópolis explica Brasília

"Entre a intenção e a ação cai a sombra", disse T.S.Eliott no poema Homens Ocos. Hoje, entre a intenção e a ação, o que caiu foi a máscara. Em Higienópolis, caiu a máscara da hipocrisia. Pois não se trata de uma questão de quantos metros separa uma estação de outra, mas na qualificação como "interesse dos moradores" a supressão do livre direito de ir e vir das pessoas de outros bairros. Em Brasília, está caindo a máscara do agronegócio: a cada novo discurso em plenário, enquanto se aguardava o texto do relator Aldo Rebelo, ficava mais evidente que são as razões da economia - e não da prudência, do bom senso ou da responsabilidade - que norteiam a pressa em aprovar o Código Florestal.

Mas estas não foram as únicas máscaras que caíram hoje.

Gisele Bundchen vai plantar uma floresta. Vamos ajudá-la?


Enquanto aqui no Brasil a bancada da motosserra só pensa em derrubar e queimar árvores, em Nova York nossa belíssima Gisele Bündchen mais uma vez usa sua beleza e poder de sedução à favor da natureza. A novidade agora é que ela assumiu o desafio de plantar uma floresta até o Dia Mundial do Meio Ambiente. Sim, uma floresta inteira até o próximo dia 5 de junho?

Eu acho que ela vai precisar de ajuda...

Por um Código que defenda nosso patrimônio Florestal

Eu não ia escrever sobre o Código Florestal, porém mais uma vez recebi um email muito esquisito, como se fosse troca de mensagem entre duas pessoas e eu lá, copiada inadvertidamente. Linguagem jovem, links para vídeos e tudo mais - tudo defendendo os ruralistas. Obviamente não tenho provas, mas isso não me impede de ter essa sensação de que tem dedo da CNA por trás disso. E sensação/intuição, sabe como é, né? Batata!! Então, vamos descascá-las!

Que prazer há em matar?

Assisti, chocada, a uma matéria do Jornal Nacional que mostrava Beatriz Rondon, uma ruralista que já participou de um programa de preservação da onça pintada - animal que, não custa lembrar, está em risco de extinção - e que hoje recebe grupos de turistas estrangeiros que vem aqui para matar o felino.


(i)mobilidade urbana

Mobilidade Urbana: mais que um conceito, trata-se de uma aspiração para quem mora nos grandes centros urbanos dos chamados países em desenvolvimento. Aqui em São Paulo, é comum uma pessoa passar de duas a quatro horas do seu dia parada no trânsito. Em cinco dias úteis, esse total pode chegar a 20 horas, quase um dia de vida perdido! E esse lento assassinato é executado com requintes de crueldade: barulho, poluição, stress.... Motoboys, no caso dos motoristas de carro. Carros e ônibus, no caso de condutores de motos e bikers. Lotação absurda, falta de espaço, de ar e de respeito, no transporte público. Parece uma maldição. E talvez seja: a maldição de JK.

Educação ou entretenimento?

O Jornal da Band produziu uma série de matérias sobre boas práticas educacionais de escolas públicas e privadas no Brasil. Denominada Missão Educar, a série pode ser conferida no YouTube - o link para o primeiro programa é http://www.youtube.com/watch?v=6l-mR84A9OM. Porém depois de ver as reportagens, me ocorreu que muitas vezes o que classificamos de "boas práticas educacionais" não tem nada a ver com educação. São puro entretenimento. :(

O que esperar da votação do Código Florestal Brasileiro

Tudo indica que as negociações em torno do texto do novo Código Florestal Brasileiro prosseguirão para viabilizar uma votação nesta quarta, 4 de maio de 2011. E o que podemos esperar como resultado?

2 de maio de 2011: parece diferente, mas é mais do mesmo

Não dá para falar de qualquer outra coisa hoje a não ser sobre Osama Bin Laden. Não foi ele quem inventou, mas certamente foi ele quem consolidou o novo modelo de conflito armado que, infelizmente, deve prevalecer no século XXI: o terrorismo.
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