Como esconder a informação

Não gosto de copiar o que já foi publicado alhures (senão, qual o motivo de visitar este blog?), mas o texto abaixo, que é o comentário que o Luciano Martins Costa fez para o programa radiofônico do OI no dia de hoje, e que foi reproduzido pelo site Observatório da Imprensa, está bom demais! Boa leitura!

Eleições e CoP16

Acabaram de acontecer eleições no Chile, mas este ano ainda reserva sufrágios em países como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Filipinas, Iraque... nóis aqui... Municipais, estaduais ou federais, os pleitos trarão à tona os temas mais quentes para cada uma dessas sociedades. E orientarão, por consequência, os políticos eleitos (ou saindo do poder) em suas futuras decisões.

Já pensou se as questões ambientais não estiverem na pauta??

Dia 31 está chegando

Embora o secretário geral da UNFCCC, Yvo de Boer, tenha tentado minimizar a importância do próximo dia 31 de janeiro - prazo para que os países participantes da CoP15 formalizem suas propostas de redução nas emissões de CO2 - a verdade é que o próximo domingo funcionará como um termômetro para vermos como está a temperatura das negociações climáticas pós o fiasco da Conferência de Copenhagen. No site do braço norte-americano da Climate Action Network (rede que congrega quase 500 ONGs ambientalistas em todo o mundo), é possível conferir um quadro com os nomes dos países que já declararam sua posição sobre o Acordo de Copenhagen. A lista cresce a cada dia e, com exceção de Cuba, todos sinalizam que assinarão o Acordo.

Yvo de Boer fala pela primeira vez depois da CoP15

O secretário geral da Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas (UNFCCC, órgão responsável pela organização das CoPs) falou hoje com a imprensa. Em uma coletiva que reuniu jornalistas de todo o mundo, Yvo de Boer tentou salvar a imagem da CoP15 e do Acordo de Copenhagen, afirmando que este último é um "importante instrumento político" para alavancar as negociações. Ao mesmo tempo, adiantou que países que não cumprirem o prazo de 31 de janeiro para envio de suas metas e os respectivos planos de ação não precisam se preocupar: nas palavras de Yvo, o Acordo de Copenhagen ficará no site da UNFCCC como um "documento vivo", que será constantemente atualizado à medida em que os países envoluírem com suas metas e planos de ação. Para encerrar com chave de ouro, ele disse que não devemos esperar um acordo vinculante agora em dezembro, na CoP16: segundo ele, tal acordo só deve ser atingido em 2015, quando chegarem as revisões científicas sobre os estudos sobre aquecimento global.

Uma tese inconveniente – parte II

A tese de Robert Brulle de cansaço da opinião pública em relação a temas ambientais (veja aqui) é reforçada pelo conceito de “normalização” das coisas. Às vezes nos esquecemos, mas já existe uma geração que cresceu sob a égide do aquecimento global: a Rio-92 ocorreu há quase 20 anos! Para esses jovens, sempre existiu o aquecimento global – e aí reside o problema, se analisarmos a questão pelo conceito de amnésia ambiental geracional, desenvolvido em estudo de Peter Kahn, de 1999. Segundo ele, nós tomamos o mundo no qual vivemos nossa infância como parâmetro de normalidade; como a cada geração o mundo de nossa infância é mais degradado, cada geração tende a achar normal um índice mais elevado de degradação ambiental. Ok, concordo com você: para isso existe escola e todo o trabalho de educação ambiental que faz com que nossas crianças nos dêem bronca quando deixamos a torneira aberta ou quando não reciclamos o lixo. Mas a questão aqui é o senso de normalidade, de como o mundo é: e para os jovens abaixo de 17 anos, o mundo já vem com aquecimento global. Sendo normal, não é notícia. Não sendo notícia, não se presta atenção no assunto. E forma-se o círculo vicioso que mantém o tema restrito aos nichos.

Uma tese inconveniente - parte I

Longe de mim querer apresentar o raciocínio a seguir como uma verdade! Ele é apenas uma teoria. Aliás, uma percepção – chamar de teoria é certamente muita arrogância para quem nunca foi ongueira e só começou a ter contato com esse universo no ano passado, por causa da CoP15. Por isso, o que eu escrever abaixo corre o sério risco de ser uma visão equivocada ou superficial. Isso eu não sei. Só sei que o texto ficou longo e eu vou dividi-lo em partes. Hoje posto a primeira, que, basicamente, declara minha percepção de que o movimento ambientalista tem um teto. É como se fosse o Paulo Maluf, que a cada eleição saia lá com um determinado percentual nas pesquisas, porque tem um eleitorado fiel, mas que já não conseguia ultrapassar essa cota. Vejo o mesmo fenômeno com as questões ambientais: elas encontram uma grande adesão, de coração mesmo, entre um determinado número de pessoas. Ponto. Como se fosse um nicho - um nicho de imagem dúbia, que abriga ao mesmo tempo os “salvadores do planeta” e os “ecochatos” e “biodesagradáveis”.

Você achou a CoP15 um fracasso? Pode ficar pior!

Você achou Copenhagen um fracasso? Pois é: acho que tem gente que acha que o fracasso da CoP15 não foi suficiente e está trabalhando para jogar mais pás de terra em cima das negociações. Estou falando de Jonathan Pershing, o enviado especial dos Estados Unidos para mudanças climáticas que liderou a participação daquele país na CoP15 até as chamadas sessões de alto nível, quando chegaram o negociador chefe, Todd Stern, a secretária de relações exteriores, Hillary Clinton, e o presidente Obama. Depois de passar várias plenárias questionando a “responsabilidade histórica” das nações desenvolvidas nas emissões de CO2 na atmosfera, contribuindo para minar os avanços obtidos com o Protocolo de Kyoto, agora ele resolveu virar sua metralhadora em direção à ONU e questionar sua capacidade de conduzir as negociações climáticas – e de gerenciar o fundo de US$ 30 bilhões previsto naquela ata de reunião que estão tentando transformar em Acordo de Copenhagen.

BASIC se reúne na Índia na próxima semana - o que esperar desse encontro?

Vou interromper a sequência de reflexões sobre a conferência de Copenhagen porque está agendada para o outro domingo, dia 24 de janeiro, um encontro de representantes do BASIC - coalização informal entre Brasil, África do Sul, Índia e China para apresentação de propostas e posições conjuntas nas negociações climáticas. O motivo do encontro é o vencimento, no próximo dia 31 de janeiro, do prazo que os países ligados à ONU tem para enviar suas metas de redução dos gases causadores do efeito estufa e dos anexos contendo os planos para que tais metas sejam atingidas. Se todos os países aderirem, aí sim teremos um Acordo de Copenhagen - porque o documento que até agora tem sido marqueteado como tal não tem qualquer valor legal dentro das regras do jogo das negociações climáticas.

E como fica a mobilização da opinião pública agora?

2009 foi um divisor de águas na história das organizações não governamentais de cunho ambientalista: foi o ano em que elas decidiram unir forças em escala mundial para sensibilizar a opinião pública em torno de um tema, a urgência de um acordo climático. Foi assim que nasceu a campanha Tic Tac (ou, em inglês, TckTck, onomatopéia do som do relógio que visava chamar a atenção para o fato de que estamos correndo contra o tempo). Sob sua égide foram promovidos eventos no mundo todo, bem como um abaixo-assinado com alcance quase planetário. Este é, sem dúvida, o grande avanço trazido pela CoP15 para o movimento ambientalista. O outro ganho, obviamente, foi o maior engajamento da sociedade.

Mas, e agora? Ainda existe espaço para mobilizações?

Perspectivas pós CoP15 - parte II

1. Do ponto de vista das negociações, tudo será retomado na CoP16 no final deste ano, no México. Antes, porém, os países devem enviar à UNFCCC suas metas individuais de redução de emissões até o dia 31 deste mês. E a movimentação já começou: o BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) está se reunindo na Índia no próximo dia 24 - certamente para definir se aderem ou não ao Protocolo de Copenhagen (sempre há a opção de não assinar e não enviar as metas, o que não seria nada mau, pois sinalizaria para o próximo país-anfitrião que é preciso seriedade para deixar o nome de sua cidade na história). No final de maio está prevista uma nova rodada de negociações em Bonn, Alemanha, para tentar amarrar as coisas, já que o tal do Protocolo de Copenhagen só vale como ata de reunião, se tanto! Ou seja, para os negociadores 2010 é ano de colocar ordem na bagunça e tentar retomar os trilhos da negociação (me perdoem o trocadilho, mas não dava para perder a chance de fazer alusão aos dois trilhos das negociações climáticas, estabelecidas no Mapa do Caminho, na CoP13: o do Protocolo de Kyoto, por meio do AWG-KP, e do documento que complementa o protocolo, por meio do AWF-LCA) - o que, por si só, é uma boa notícia, já que boa parte dos problemas enfrentados nos últimos anos nas negociações climáticas é justamente a tentativa de derrubada dos trilhos de negociação.

Perspectivas pós CoP15 - parte I

Encerrada a 15ª Conferência das Partes da Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas, a grande incógnita passa a ser: e agora? O que acontece?

Olhe para qualquer lado – governos, empresas, ONGs – e a conclusão é uma só: aconteça o que acontecer, avançaremos. Não há mais volta – e não é por causa dos supostos efeitos do aquecimento global que digo isso: é por causa de uma nova percepção de mundo que está se formando e que foi reforçada com a visibilidade que a CoP15 deu à questão ambiental. Uma visão de mundo na qual os desastres ambientais não são vistos mais como mera fatalidade, como acidente ou exceção à ordem natural das coisas ou ainda como fruto da vontade divina. O que começa a tomar forma neste começo de século XXI é a percepção de que muito do que antes era atribuído à “natureza” é, na verdade, consequência de atos e (falta de) responsabilidade das pessoas. E a partir do momento em que se enxerga o mundo assim, aqueles que são percebidos como responsáveis – e governos e empresas se encaixam nessa categoria – passam a ser responsabilizados (se não legalmente, pelo menos do ponto de vista moral, vértice último da opinião pública).

Como era o dia a dia na CoP 15

Me perdoa o narcisismo, mas você há de concordar comigo que não faria sentido deixar de incluir no meu blog o vídeo abaixo, no qual narro como era um dia na CoP15! Vale a pena caso você queira ter uma noção de como eram as coisas por trás do que as câmeras de TV mostraram.


O Brasil ganhou ou perdeu com a CoP15?

Primeiro, tem uma coisa meio chata que eu preciso contar para você: lá fora o Brasil não teve toda essa visibilidade ou atenção que aqui dentro as pessoas achavam, sei lá!, talvez por causa de termos a floresta amazônica... Na CoP15, os países que, individualmente, eram alvo da atenção de jornalistas e demais negociadores eram China e EUA. Fora isso, durante as duas semanas de negociação quem se movimentava eram os grupos: União Européia, o chamado Grupo Guarda-Chuva (Umbrella Group), que reune os países industrializados fora da União Européia, o BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China), o G-77 (grupo das nações em desenvolvimento) e o AOSIS (países insulares, que inclui as ilhas do Pacífico que estão literalmente afundando e que protagonizaram alguns dos momentos mais emocionantes da CoP15).

Quem ganhou e quem perdeu com a CoP15

A busca por um bode expiatório que levasse a culpa pelo anti-clímax proporcionado pela CoP15 teve início ainda durante a realização da conferência e intensificou-se nas semanas seguintes. China e Estados Unidos foram os alvos preferenciais, mas sobrou para todo mundo, dos países da Comunidade Européia às chamadas "nações bolivarianas". Porque embora o fracasso da CoP tenha atendido aos interesses de todo mundo - e olha que tirando Tuvalu e as ilhas da Oceania que estão afundando, era literalmente todo mundo: quem não queria continuidade do Protocolo de Kyoto, quem não queria meter a mão no bolso para financiar a migração para uma economia de baixo carbono, quem não queria adotar metas ou ter que prestar satisfação sobre as metas auto-declaradas... - e, neste sentido, todos saíram vencedores, ninguém tinha o que comemorar porque a vitória foi obtida às custas de um preço altoque somou ônus de imagem perante a opinião pública e falta de controle sobre o processo.

Por que a CoP15 deu no que deu?

Mesmo não chegando ao acordo que os ambientalistas desejavam e que a maioria dos cientistas recomenda, ainda assim a CoP15 poderia ter tido um final diferente. Duvido que qualquer um dos 120 chefes de estado presentes ao evento tenha gostado de sair à francesa, sem foto oficial ou uma boa notícia para levar de volta aos seus eleitores. Então por que a CoP15 deu no que deu?

A CoP15 foi um fracasso?

Qualquer reflexão sobre a CoP15 passa obrigatoriamente pela pergunta: a conferência foi um fracasso? Não, não é ingenuidade fazer tal questionamento - é, na minha opinião, um dos melhores pontos de partida para analisar o que ocorreu durante as duas semanas que precederam o solstício de inverno na fria Copenhagen. Porque ela remente a outra pergunta, mais crítica: o que esperávamos da CoP15?

Este blog em 2010

Não tenho qualquer garantia de que eu vá conseguir acompanhar a CoP16. Pelo contrário: receio um maior rigor maior por parte da ONU no credenciamento de participantes depois do fracasso de Copenhagen. Mas isso não importa: eu já decidi que este ano Ascendidamente será um blog sobre negociações climáticas - perspectivas, impasses, novidades no andamento dos procedimentos que ocorrerão de agora até dezembro deste ano, quando mais uma vez as delegações das 192 nações signatárias da ONU estarão reunidas para tentar fazer algo em nível global sobre clima.
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