Me perdoem pelo sumiço

Querido(a), eu peço desculpas se vc tem vindo aqui e não tem encontrado novidades. Mas a CoP15 foi um rolo compressor do qual ainda estou me recuperando - fisica, mental e emocionalmente. Não sei quando, mas quando voltar vou postar minhas reflexões sobre o evento e as consequências do seu fracasso. É mais provável que isso aconteça por volta do Ano Novo. Então, se puder, não deixe de passar aqui novamente em janeiro.

Aproveito para lhe desejar Boas Festas e um 2010 nota 10!

bjs,

silvia

Tem coisas que só dá para escrever no blog pessoal

É meia-noite e dez aqui em Copenhagen. Ainda estou no Bella Center. Ao meu lado, o embaixador Sérgio Serra, do Itamaraty, entra ao Vivo no Jornal Nacional. A COP15 chegou ao fim de fato, embora não oficialmente: ainda há negociadores trabalhando em cima de um texto que pode ser apresentado a qualquer hora. Mas todas as lideranças já partiram. E deixaram para os assessores apagarem as luzes.

A COP15 era para ser como a Primeira Guerra Mundial, a guerra para acabar com todas as guerras e que acabou gerando um dos massacres mais traumatizantes da história da humanidade. Aqui, a idéia era fechar um acordo que pudesse contribuir com a atual tendência de alteração do clima decorrente da ação humana. Ok, vamos deixar o romantismo e o exagero de lado: todo mundo sabia que não ia sair um acordo decente. Mas nunca ninguém pensou que no final os chefes de estado abandonariam a conferência dando coletivas para os jornalistas de seus países defendendo as posições retranqueiras e atacando-se mutuamente.

Para mim, da CoP15 ficaram as seguintes lições:

1 - Os Estados Unidos ainda são a grande potência hegemônica do planeta. Mesmo com uma economia combalida, mantêm o poder graças à relação simbiótica com a potência-to-be, a China. Juntos, eles afundaram, pelos países desenvolvidos e pelos países em desenvolvimento, as chances de um acordo minimamente decente. Pelo andar das conversas até agora, só houve consenso em relação ao limite de aumento da temperatura: 2 graus centígrados. Metas, financiamento, mecanismos de governança - tudo ficou em aberto.

2 - Falam que a questão ambiental é, na verdade, econômica. Não: a questão é política. Em duas dimensões:

2.1 A democracia imaginada no Iluminismo provou-se insuficiente para representar efetivamente os diversos setores da sociedade, que buscam novas formas de participação (ou engajamento, em comuniquês) das partes envolvidas (stakeholders - argh!). Com a comunicação on line, a articulação e a transparência crescem esponencialmente. A soma desses fatores faz com que os governantes tenham que adicionar uma nova peça no tabuleiro do xadrez eleitoral: a opinião pública mundial. O que a CoP15 evidenciou foi a presença e a força deste novo ator, desconhedido para o establishment - e, como tal, tratado como inimigo no ato de expulsão das ONGs do Bella Center e no confinamento da imprensa no penúltimo dia da conferência.

2.1.1 Apesar disso, sou muito crítica em relação ao movimento ambientalista: ao mesmo tempo em que explicitou que a opinião pública hoje é global, a CoP15 também expôs que a questão climática é assunto de um nicho da sociedade: perto do conjunto de cidadãos alfabetizados, com acesso a computador etc., os números de mobilização foram muito tímidos, embora impressionantes, em termos absolutos.

2.2 Um mundo globalizado exige uma governança internacional que a ONU, definitivamente, não consegue entregar. Não faz sentido ter uma substituição de presidente da CoP na fase final de negociações por não ter status político condizente com os chefes de estado que seriam recebidos. Ou ainda não ter os mecanismos para cobrar o cumprimento de acordos já fechados (abrindo espaço para justificar o não fechamento de um novo tratado). A fragilidade da ONU foi, sem dúvida, o que permitiu que o processo em si fosse questionado hoje, no último dia, por todos os participantes - que alegam dúvidas sobre a transparência do processo etc. etc. Nunca pensei que isso fosse colocado em xeque aqui. Mas foi. Não bateram neste ponto, mas ele ficou exposto.

3 - Não é possível continuar tratando da questão climática como um assunto separado da fazenda, do planejamento, da saúde, da indústria e comércio, da agricultura... O ministro do meio ambiente, Carlos Minc, está aqui do meu lado falando com jornalistas. Mas ele que me perdoe: meio ambiente é muito grande e muito importante para ficar com uma única pasta ministerial, no nível doméstico, ou na Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas, no nível internacional. Enquanto não houver uma nova abordagem, não chegaremos a novas soluções para os novos problemas que estamos enfrentando. Neste momento, aqui no Bella Center, tudo isso cheira a mofo.

4 - A CoP teve o resultado que teve porque quem estava aqui queria isso: tinha quem queria acabar com o protocolo de Kyoto, tinha quem queria ficar sem metas, tinha quem não queria meter a mão no bolso... E todos saíram vencedores desta CoP. Só não têm como justificar tal vitória perante a tal da opinião pública, por isso saíram de mansinho deixando o terceiro escalão cuidar disso.

O que o futuro reserva? Mais blablablá? Como manter a mobilização da opinião pública? Se por um lado é bom que todos tenham a clara percepção do fracasso que foi a COP15 - e que esse fracasso deveu-se aos representantes dos diversos governos aqui reunidos - por outro havia um momentum da opinião pública que talvez não seja fácil repetir. Sabíamos disso e quem lutava para derrubar as chances de um novo acordo também sabia. E eles ganharam.

Minha experiência de duas semanas trancada o dia inteiro neste centro de convenções foi muito boa. Tive a sorte de trabalhar com pessoas adoráveis, com quem me entrosei muito bem. Descobri que gosto muito de acompanhar estas chatices e tentar entender o que rola por aqui. Ainda sou junior na área - e quem me conhece sabe o quanto eu sou idealista, o que explica minhas lágrimas ao ouvir a fala do filho da puta do Obama. Mas foi uma experiência muito rica.

Que venha a CoP16! Até lá, estarei melhor preparada. Me aguardem.

Algumas poucas imagens da CoP15











Se eu fosse um neandertal, eu não viria para a Dinamarca

Chego cedo e saio tarde aqui do Bella Center, onde até 18 de dezembro está rolando a CoP15 - e não reclamo. Dinamarca nesta véspera de inverno está longe de ser um programa de viagem digno de matéria em publicação de turismo. Amanhece tarde, anoitece cedo. O "dia" é um pequeno intervalo de céu cinza. Já me acostumei ao frio, então já posso concordar com os "nativos": este inverno está bastante ameno! Mas isso não significa que seja interessante. Muito pelo contrário: apesar da temperatura baixa, não neva - chove! Ontem, na abertura da CoP15, a neblina era tão forte que não se enxergava nada. Aliás, todo dia de manhã temos neblina: só quando cheguei pude ver o monte de cataventos instalados no mar Báltico. E do pouco que vi, posso lhe garantir que se eu fosse um neandertal, eu não viria para cá: a paisagem é plana, sem nada que se destaque. Os arredores de Copenhagen e o sul da Suécia se parecem com qualquer subúrbio alemão. As cidades em si são bonitinhas, cheias de luzinhas e enfeites natalinos e prédios antigos. Mas nada muito diferente do que se vê mais ao sul da Europa - e com um tempo muito mais agradável. Bonitas são as pessoas daqui: todos têm olhos claros, cabelos lisos, claros... Peguei um ônibus conduzido por uma loira que, no Brasil, pararia o trânsito! Mas são todos muito sérios: nas filas, no metrô, no trem, quem está rindo normalmente é estrangeiro.

Os suecos e os dinamarqueses que me perdoem, mas não vejo a hora de voltar para o Brasil!

Vai ser uma feira!

Hoje tive acesso ao interior do Bella Center, onde as negociações da CoP15 acontecerão a partir desta segunda, 7 de dezembro. Se você é de São Paulo, imagine um Anhembi novo e muuuuito grande. Acrescente umas 30 máquinas de revista como aquelas de aeroporto na entrada. Coloque banheiros grandes, com cabines espaçosas. Não esqueça da chapelaria, imensa – afinal, o sistema de aquecimento funciona e boa parte dos casacões acabam pendurados ali o dia todo. E um pouco de tudo: ONGs, governos, empresas... O governo dos Estados Unidos tem um estande enorme, com auditório próprio. A União Européia fez um estande como esses de feiras de negócios, cheias de sofás e bancos altos para as pessoas sentarem rapidamente para networking. O computer center é imenso: são cerca de mil máquina disponíveis para todo mundo. A internet é totalmente liberada! Ou seja, estrutura nota 10. Sò tem um detalhe: cabem 15 mil pessoas no lugar. Sò de ONGs, tem 20 mil credenciados. Jornalistas, outros cinco mil. Aliás, a sala de imprensa é impressionante: são 1,1 mil estações de trabalho, sendo 400 com computadores e 700 com tomadas e plugs para os equipamentos próprios. Agências de notícias televisivas são mais de 50 - vai da MTV à AlJazeera!

Do lado de fora, só tem evento de meio ambiente, clima etc. Em todos os hotéis e centros de convenções há uma miríade de side events com empresas e governos. O Brasil tem de tudo também: da Camargo Correa ao JBS Friboi, passando por entidades classistas como Bracelpa, UNICA, Fiesp, CNA (-Kátia Abreu)...

Se eu conseguisse acreditar que metade desses caras estão comprometidos com a questão ambiental, eu sairia daqui feliz!

Esquentando os tamborins

Cheguei à Dinamarca ontem e hoje passei o dia andando para cima e para baixo em Copenhagen (sim, eu me perdi, óbvio!) atrás de credenciamento na CoP15, chip para celular, reuniões de preparação... Por isso, posso lhe assegurar que “esquentando os tamborins” – aliás, esquentando qualquer coisa – é uma expressão muito bem vinda aqui: não só porque, na antevéspera da conferência sobre mudanças climáticas da ONU, a cidade está em ritmo de preparação, mas, principalmente, porque está um frio do cão aqui!!! Quer dizer, não na opinião do pessoal daqui: segundo os dinamarqueses, há anos que não havia um dezembro tão “ameno”! Bom, o “ameno” deles para mim representou dificuldade em falar, na rua, sob o vento, porque o maxilar começou a congelar...

Copenhagen é uma cidade pequena, comparada com São Paulo ou com outras capitais européias, como Londres ou Paris. E por algum motivo que eu desconheço, mesmo sabendo que iam receber milhares de turistas de outros países, eles mantêm em dinamarquês os cardápios do lado de fora dos restaurantes (um costume europeu que eu adoro: vc tem a oportunidade de checar o menu e os preços antes de entrar).

A Dinamarca não faz parte da zona do euro, por isso estou ainda penando para me adaptar à coroa dinamarquesa... e à coroa sueca! Sim, porque estou hospedada do outro lado do mar Báltico, numa cidade chamada Malmö, na Suécia. Vai-se de trem de um lado ao outro, não é preciso mostrar passaporte para cruzar a fronteira, mas a moeda muda. Sim, a cotação também muda: há tempos que eu não usava tanto a tabuada! Estou craque em conversões – mas sem muita noção do que é caro e do que é barato porque para nós, brasileiros, tudo é caro aqui. Então, o máximo que consigo distinguir é o que é muito caro e o que é um pouco menos caro.

Ao contrário de outros países europeus, onde se vê mais cachorros do que bebês, vi poucos cães e muitos carrinhos de bebê – e um percentual bastante alto de gêmeos! Não sei dizer se o motivo é genético ou conseqüência de inseminação artificial. Todos carrinhos naturalmente têm algum tipo de proteção contra o vento, formando uma pequena cabana ambulante. Chama também a atenção a quantidade de pessoas que usa a bicicleta como meio de transporte. Há vários estacionamentos exclusivos para bicicletas em todos os lugares. Como a cidade é plana e todas as ruas têm ciclovias, é bastante conveniente e seguro optar por essa forma de transporte. E para alguém que vem de São Paulo, é um grande alívio não ter encontrado até agora nenhuma bicicleta!!

Na parte da tarde, participei de apresentações sobre mudanças climáticas na Universidade de Copenhagen patrocinadas pela Climate Action Network, rede com mais de 400 ONGs ambientais afiliadas em todo o mundo (incluindo o Vitae Civilis, pelo qual estou aqui). Por fora, um prédio antigo, de tijolinho aparente. Por dentro, instalações modernas, excelente acústica... mas nenhuma rede wireless disponível :-(

Já encontrei restaurantes italianos, gregos, japoneses, tailandeses, franceses... os onipresentes McDonald´s, Burger King, Pizza Hut, Domino´s, Subway, 7-11... Mas nenhuma plaquinha de “comida típica dinamarquesa”. Encontrei, em Malmö, um restaurante de comida sueca que servia... bife de rena!! Na véspera do Natal!!! Como podem deixar Papai Noel sem suas renas?????

Não, não tenho imagens do que descrevi aí em cima: estava muito frio para tirar as luvas e operar a máquina fotográfica. Vamos ver se tiro a diferença nos próximos dias, quando eu já estiver mais acostumada com a temperatura.

VOLTAREI A ATUALIZAR DE COPENHAGEN

Embarco esta semana para acompanhar a CoP15 como membro do Vitae Civilis, organização não governamental brasileira que milita nos debates sobre mudanças climáticas há 20 anos. Por isso, estou correndo que nem uma louca e não vou ter tempo de atualizar este blog.

A boa notícia é que as notícias que entrarão aqui a partir deste sábado, dia 5, serão postadas diretamente lá de Copenhagen!

Também escreverei textos para o hotsite do Vitae Civilis sobre a CoP15, além do twitter @vitaecivilis, @dias_silvia e @avivcomunicacao. Vou tentar dividir as informações da seguinte maneira:

* informações sobre as negociações: http://www.vitaecivilis.org/ (sem o .br) e @vitaecivilis

* informações e curiosidades sobre comunicação, RP e a cobertura jornalística: http://www.avivcomunicacao.com.br/ e @avivcomunicacao

* curiosidades, inutilidades, desabafos & afins: aqui e em @dias_silvia

Eu estou muito feliz com esta oportunidade e espero que vc curta o conteúdo que produzirei de lá.


Bjs,

Silvia Dias
(friozinho na barriga, coração batendo a milhão!)
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