Quem se importa se Bangladesh afundar?

Vídeo produzido pela ActionAid mostrando como as mudanças climáticas estão afetando na prática a vida das pessoas. No caso, de pessoas pobres - porque o aquecimento do planeta afetará prioritariamente os menos favorecidos, que habitam as regiões tropicais. O vídeo está em inglês, mas mesmo que vc não fale essa língua, não deixe de ver as imagens: elas falam por si.


Buy Nothing Day: você compra essa idéia?

Criado pelo artista canadense Ted Dave e promovido pela revista Adbusters, o Buy Nothing Day, ou Dia Mundial sem Compras, acontece amanhã em todo o mundo, com exceção de Canadá e Estados Unidos. Nesses dois países, o Buy Nothing Day foi hoje, junto com a tradicional Black Friday. Não conhece? Pense bem: talvez hoje mesmo você tenha visto alguma matéria a respeito em algum telejornal. É aquele dia de grandes liquidações, com filas de consumidores esperando a abertura das portas das lojas. Guardadas as devidas proporções, é como a liquidação de começo de ano do Magazine Luiza.

Black Friday versus Buy Nothing Day: uma pesquisa no google não deixa dúvidas - o consumo ganhou. E, sinceramente, não haveria de ser diferente. Ou você deixaria de comprar aquele eletrônico de seus sonhos pela metade do preço para protestar contra o consumismo? Aliás, deixar de comprar algo em dia de liquidação é a melhor forma de protestar contra o consumismo??
Buy Nothing Day é mais um exemplo daquelas ações de comunicação que não conseguem ir além da paróquia: quem já é sensível ao tema, adere; quem não é, nem dá bola. Trata-se de uma iniciativa muito mais midiática do que efetiva, pois não leva à revisão dos (pré)conceitos que sustentam hábitos inadequados de consumo.

Porque o consumo em si não é bom ou mau: ele é simplesmente necessário. Do momento em que somos gerados precisamos de alimento e calor. Se hoje compramos nossa comida no supermercado e a gasolina no posto é porque somos incapazes de suprir todas as nossas necessidades e, sabiamente, fomos dividindo tarefas ao longo da História, gerando um dos mais humanos e democráticos exercícios de convivência: o comércio. Independente da cultura, do grau de urbanização, nível educacional ou econômico, todos nós vamos ao mercado para vender e comprar. Da antiga praça aos sites de internet, passando - por que não? - por este blog, que oferece minhas idéias para seu consumo (gratuito, porém consumo), o mercado nos une, quando é justo.

Então, a questão não é o consumo, mas a educação para o consumo: o entendimento dos motivos que nos levam a consumir, do que realmente precisamos, do que é preço e o que é valor, de conceitos básicos de finanças domésticas. Fala-se muito em empoderamento do consumidor, e isso é verdade: quem compra dá as cartas. Mas quem compra precisa ter conhecimento sobre seus direitos e deveres, sobre o impacto e consequências de suas ações, para usar tal poder em seu favor. Caso contrário, continuaremos, como manada, a seguir os ditames dos publicitários e marqueteiros.

E esse senso crítico o Buy Nothing Day não fornece, nem estimula as pessoas a procurar.

Doha versus Copenhagen

Quem disse que não existe inovação nas negociações internacionais?

Doha foi uma lição de como melar um acordo mundial: arrastando-o até a exaustão. Nada de negar o acordo ou brigar por posições. Para quê, se dentro das regras da diplomacia internacional existem tantas formas de se adiar as coisas?

Mas como ficamos todos escaldados com Doha, a sociedade intensificou a cobrança por resultados. Ficar de fora da solução para o clima mundial passou a carregar um ônus político pesado. O teste foi feito há algumas semanas, quando China e EUA declararam que não se comprometeriam com metas de redução nas emissões dos gases causadores do efeito estufa. A opinião pública não engoliu e, não por acaso, esta semana (ontem e hoje, mais precisamente), EUA e China anunciaram suas respectivas metas de redução. Com números até que impressionantes, no caso da China: entre 40% e 45%.

Mas honrando a tradição diplomática de jogar habilmente com palavras, a China anunciou uma redução sobre sua "intensidade de carbono". Traduzindo: a China se compromete a gerar menos CO2 para cada unidade de seu Produto Interno Bruto, ou seja, cada parcela do PIB chinês será gerada com menos emissão de CO2. Até aí, beleza, né? Só que como a China tem crescido 9% ao ano e deve manter ritmo semelhante para os próximos anos (ou eles fazem isso ou eles não conseguem manter o controle político do país), no computo final a emissão de CO2 será maior. Porque o coeficiente de multiplicação será maior.

Exemplificando: se hoje eles emitem 10 carbonos para 100 de PIB, são 1000 carbonos no total. Crescendo 10% ao ano, em 10 anos o PIB chegaria a 269. Nesse cenário, a emissão de 6 carbonos para cada unidade de PIB (o corte de 40% que eles propõem) somaria 1614 carbonos, ou 60% a mais do que hoje. Há redução, sem dúvida: sem essa meta, seriam emitidos 2690 carbonos. Mas não há diminuição, que é o desafio de todos.

A favor da China, devo informar que ela é hoje o país que mais investe em energias limpas. Porém, simultaneamente, abre duas novas termelétricas por dia, conseguindo, paradoxalmente, ser a mais suja e a mais limpa das grandes economias da atualidade.

A favor dos EUA, nem isso. Eles anunciaram uma meta pífia que evidencia a fragilidade dos democratas, que não conseguiram, ao longo do ano, fazer passar pelo Congresso Americano uma lei que regule as reduções. Sem isso, nenhum acordo internacional vingará por lá porque a soberania de um país é, como a própria palavra indica, soberana.

Diante destes dois novos fatos, fica a dúvida: melhor um mau acordo que acordo nenhum? Ou vice-versa?

Para quem luta por um acordo justo, ambicioso e legalmente vinculante, fica a dúvida: aceitar esse tipo de proposta, que deve levar ao firmamento de algum tipo de compromisso, ou denunciar e correr o risco de postergar tudo para a CoP16?

Copenhagen - quem diria? - poderá entrar para a história como a CoP que trouxe inovações à diplomacia: uma nova forma de melar um acordo internacional.

Agressividade no trânsito? Shell responde!

Todo mundo sabe que o trânsito deixa as pessoas mais agressivas e todo mundo acha que o grande culpado é o stress de ficar parado nas ruas, assando debaixo do sol, correndo o risco de ser assaltado, inalando aquele fumacê brabo... O que ninguém imaginava é que este é justamente esse último item, o fumacê, que altera as reações químicas do cérebro, deixando as pessoas mais agressivas.

Estudo conduzido na Universidade do Cairo, no Egito, e publicado na Science Daily, comprovou que ratos expostos à fumaça de gasolina com chumbo e gasolina sem chumbo exibiam um comportamento notadamente mais agressivo do que os que inalaram apenas ar limpo. As mudanças iam da adoção de posturas beligerantes a ataques factuais a outros animais. Amal Kinawy, autora do estudo, monitorou as reações neurológicas dos animais e comprovou que a exposição à fumaça da gasolina altera o nívei de neurotransmissores do córtex cerebral. Ou seja, além de causar problemas de saúde e contribuir para as mudanças climáticas, a fumaça do escapamento também nos deixa mais agressivos...

E infelizmente quem vive em grandes centros urbanos aqui no Brasil terá que se conformar com isso: na tarde de hoje, nosso ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a prorrogação da redução de IPI para carros flex até março de 2010. E ainda teve a cara-de-pau de chamar isso de "imposto verde"!!!

O trânsito é uma das principais causas de morte no Brasil. Quem não morre de vez, em algum acidente, morre aos poucos, deixando preciosos momentos de sua vida nas ruas congestionadas. É tempo que não volta. É vida que nos é roubada.

Não se trata de negar o direito a ter um carro. Mas de ter alternativas. Peguemos a cidade de São Paulo como exemplo. Ela é a sexta maior metrópole do mundo, com mais de 19 milhões de pessoas. Pois você sabe quantos ônibus atendem essa população?? 15 mil. Isso mesmo: há um ônibus para cada 1267 habitantes. E isso é anunciado em TV pela nossa prefeitura como se fosse suficiente!!! Acho que eles não fizeram as contas: considerando-se que cada ônibus tem capacidade para transportar uns 40 passageiros sentados e outros tantos de pé, seriam necessárias 190 viagens por dia para transportar a quantidade de pessoas que corresponde a cada veículo na capital. Supondo-se que eles rodassem 24 horas por dia, isso seria o mesmo que 7,91viagens a cada hora por ônibus. Ou uma viagem a cada 10 minutos. Bom, quem anda de ônibus sabe que em 10 minutos não se vai mais longe que cinco quarteirões. Entonces...

Então que tal isentar os ônibus de IPI e colocar uma maior quantidade deles nas ruas? Construir mais linhas de metrô? Incentivar o uso bicicletas? Que tal pensar em soluções coletivas de transporte com energia alternativa? Porque de nada adianta ter UM ônibus movido a hidrogênio e UM outro movido a etanol - isso rende matéria na imprensa, mas não faz diferença prática no nosso dia a dia.

Mas numa época em que tudo é verde (e se não for, pintam de verde), o imposto do carro também é verde... E para dizer que tudo continuará verde, o Mantega anunciou que o governo está formando um grupo para trabalhar junto às montadoras para trazer ao Brasil tecnologias com emissões menores - e melhorar em termos de redução de emissões os motores flex!!! Ou seja, como todo mundo já sabia, ele admitiu que o carro flex é uma tecnologia pouco eficiente e, portanto, poluidora. E comprovou que, se depender do governo, não teremos transporte público.

A fina linha que separa tolerância de hipocrisia

Está para ser votado no Senado Nacional o Projeto de Lei 122, que define os crimes resultantes de "discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero". Ele estabele que toda forma de discriminação, direta ou indireta, cometida ou induzida, é crime e deve ser tratada como tal.

Se aprovada, esta lei significará um importante passo na consolidação da cidadania democrática, pois permitirá a coexistência respeitosa das diferenças. Porque não oferecer condições iguais de empregabilidade e salário não é uma coexistência respeitosa. Ofender as pessoas por conta de seu sexo, orientação sexual, religião, cor ou origem não é democrático. Um Estado que se orgulha de supostamente ser uma democracia racial - termo invocado tantas vezes no rádio e na TV na última sexta, Dia da Consciência Negra - não deveria temer esta lei.

Mas teme.

Grupos religiosos alegam que esta lei vai contra a liberdade religiosa pois supostamente os impediria de pregar a Biblía, a Torá e o Corão, que supostamente seriam publicações condenadas por conter trechos homofóbicos. Ignoram que o texto da lei criminaliza a discriminação religiosa, portanto eles têm seus credos respeitados. A opinião é respeitada. O que não pode ser respeitado são atos e posturas de violência e discriminação.

Falam em tolerância. Agem com hipocrisia.

Nada muito diferente do que nosso país já protagonizou: invocando a soberania nacional, pela qual estabelecemos relações diplomáticas e comerciais com quem queremos, o Brasil já apoiou o polêmico presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Falou-se muito em comércio internacional, energia nuclear, mas ela tem importância ínfima na nossa matriz energética: nosso potencial em energias renováveis, como solar e eólica, é enorme!

O Brasil, embalado pelo sonho de ter um assento no Conselho de Segurança da ONU (posição defendida pelo presidente do Irã), tenta se mostrar um interlocutor qualificado para intermediar pepinos internacionais. E invocando a tolerância para com quem pensa diferente de nós, o país agiu com hipocrisia. Porque na prática da diplomacia mundial, o que o Brasil fez foi apoiar um dirigente e um regime que discriminam mulheres e gays, que negam a existência do Holocausto e o direito à existência de Israel. Um dirigente que se reelegeu mediante fraude eleitoral. Que faz uso de milícias especiais para reprimir os opositores. Que censura TVs - tanto que a "coletiva de imprensa" aqui no Brasil só teve duas perguntas de jornalistas.

Pena que nenhuma delas foi sobre sua opinião a respeito da PL122...

Brasil e Mudanças Climáticas

Entenda melhor o peso e o papel do Brasil na questão das mudança climáticas com esta entrevista de Rubens Born, coordenador da ONG Vitae Civilis. Ele acompanha o tema desde a Rio-92 e é uma das pessoas que mais entende do assunto no Brasil.


Quem disse que desenvolver um produto sustentável é complicado?

Como deixar uma lata de Coca-Cola mais sustentável? Tirando a tinta! Isso porque o processo de impressão gasta energia, além de poluir o ar e a água. Como a lata de alumínio é reciclável, a ausência de tinta ambém facilitaria o processo, já que dispensaria a separaçao da tinta tóxica do alumínio. Simples, não? E sem comprometer a beleza e a elegância do produto! Idéia do designer Harc Lee, que deveria ser rapidamente adotada pelo fabricante!

Consciência tem cor?

Um engraçadinho me perguntou se minha consciência era branca ou negra, numa clara alusão (preconceituosa) ao Dia da Consciência Negra que é comemorado em todo o Brasil (em alguns lugares com feriado, em outros não). Tem muita gente que não vê sentido nessa data, comprovando os resultados da pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, que mostrou que 97% dos brasileiros admitem que há discriminação racial no país, mas apenas 4% da população se considera racista. Como se fosse possível haver racismo sem racistas!

Sobre este assunto, achei lapidar o diálogo que abre o filme Bastardos Inglórios, no qual o nazista compara judeus a ratos e depois pergunta porque gostamos de esquilos e não de ratos, se ambos são roedores e se ambos transmitem doenças - e se são até parecidos, tendo apenas a cauda como principal diferença! Pois é: não há diferença entre aqueles que são e os que não são discriminados. Somos todos iguais, apesar das diferenças aparentes. Não por acaso, o alemão, que associa judeus a ratos, age como um rato no final do filme, numa das inúmeras finas ironias de Tarantino.

No caso do negro, não há como negar que o peso simbólico da cor foi determinante no destino desse povo. Mas esta simbologia data da época em que a humanidade sequer dominava o fogo e via-se fragilizada na escuridão. Daí a cor negra ser associada, no ocidente, quase que exclusivamente a qualidades negativas. E também por associação direta, ela passou a qualificar toda uma gama de povos de aspecto diferente. E de tal forma e com tal intensidade que permanece até hoje: segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IGBE, que reúne dados sobre as seis maiores regiões metropolitanas do País, a remuneração média de trabalhadores brancos foi 90,7% maior que a de pretos e pardos em setembro deste ano. Como diz o Reinaldo Bulgarelli, da Txai Consultoria, ainda estamos no dia 14 de maio de 1888: na lei, os negros foram libertos; na prática, eles continuam submetidos a um sistema de oportunidades desiguais que perpetuou o preconceito, a discriminação e a diferença.

Mas como vivemos a ilusão de uma grande democracia racial, nos chocamos com políticas de cotas, por exemplo. E criamos um debate estéril no qual a classe média apenas exercita o pior de sua vertente excludente para tentar manter seu frágil status quo. Tanto que após quase dez anos tramitando no Congresso, o projeto de lei que cria o Estatuto da Igualdade Racial só conseguiu avançar para aprovação do Senado após a eliminação dos seus aspectos mais polêmicosm, como o estabelecimento de cotas para a população negra em universidades públicas e em programas de TV.

Pois pegue os opositores das ações afirmativas e leve-os a passear pelos shoppings caros de São Paulo. Pelas grandes academias de ginástica. Vá ao teatro. E conte quantos negros frequentam esses lugares - existe maior evidência de que eles não tiveram as mesmas opções, apesar de 121 anos de Lei Áurea? Ou alguém acha que eles não são tão inteligentes como "os outros", tão esforçados como "os outros", tão honestos como "os outros"?

É, você sabe: tem gente que acha isso, sim. Por isso é que precisamos de muitos dias de consciência negra - não um 20 de novembro, mas os 365 dias do ano. Com ações afirmativas que possam compensar as injustiças históricas que foram cometidas contra esse povo.

Finalmente alguém falou!!!!

Finalmente alguém teve coragem de questionar o tabu da natalidade: hoje o Fundo Populacional das Nações Unidas recomendou o controle da natalidade para combater o aquecimento global!!!!

A correlação é óbvia: no atual ritmo (e olha que a taxa de natalidade já caiu em vários países) seremos 9,2 bilhões de pessoas em 2050, daqui a meros 40 anos. Nunca a humanidade reproduziu-se em tamanha velocidade! O mérito é dos enormes avanços em higiene, saneamento e medicina, que reduziram drasticamente a mortalidade infantil. Beleza! Só que alimentar 9,2 bilhões de bocas - e vestir 9,2 bilhões de corpos, dar escola, trabalho e dignidade a 9,2 bilhões de seres com desejos e direitos a uma vida com qualidade - coloca a capacidade de regeneração dos recursos naturais em xeque, mesmo considerando-se que a tecnologia avança.

Mas as religiões mais prevalentes no planeta têm na reprodução um de seus tabus: aconteça o que acontecer, elas acham que precisamos ter mais e mais filhos. E nisso encontram o apoio de vários Estados Nacionais que ainda acreditam que uma população numerosa é uma vantagem político-militar. E para defender o status quo que se baseia no aviltamento do direito da mulher sobre seu próprio corpo, invocam a tal da liberdade individual. Pergunto-me que liberdade é essa que muitas vezes não permite que a mulher opte por não ter filhos. Que liberdade existe quando a mulher é criada brincando de casinha e recebendo informações de que casar e ter filhos é condição sine qua non para sua realização pessoal.

Sonho com o dia em que alguém vai abrir a Bíblia, ler o "crescer e multiplicai-vos" e ticar do lado: tarefa cumprida! E passar para a próxima! Qual seria mesmo? Ah, dar condições de vida dignas às almas encarnadas? Contribuir para seu aprimoramento moral, de forma que possamos ter melhores seres humanos sob a face da Terra (e não só mais seres humanos)???

Pois é...

A agência da ONU não chega a recomendar aos países que estabeleçam limites ao número de filhos por casal - o que, cá entre nós, seria extremamente anti-democrático: basta investir em educação, acesso à saúde e, principalmente, no reconhecimento social de que não é preciso ter filhos para ser feliz. E aí cada um escolhe o que quer!

Como este assunto é tabu e não é estudado, a agência admite não haver provas empíricas de que o controle de natalidade conterá as mudanças climáticas. "As conexões entre população e mudanças climáticas são, na maior parte das vezes, complexas e indiretas" - parte do documento que, naturalmente, está sendo invocada por todos os que têm na reprodução um tabu.

A controvérsia existe dentro da própria ONU. Este mês, a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um boletim no qual dois especialistas declaram que é perigoso relacionar taxa de fertilidade e mudanças climáticas. "Na melhor das hipóteses, (o tema) causa controvérsia e, no pior caso, autoriza a supressão de direitos individuais", escrevem os pesquisadores Diarmid Campbell-Lendrum e Manjula Lusti-Narasimhan, em uma tremenda falácia lógica, pois: 1) criar controvérsia não é um problema - o conhecimento e a ciência muitas vezes evoluem graças à controvérsia; 2) não é preciso suprimir direitos individuais para reduzir a natalidade - pelo contrário, é preciso empoderar a mulher e reconhecer o direito que ela tem sobre seu corpo para que isso aconteça!!!

Mas finalmente colocaram o assunto na pauta!

Ruralistas ganham 18 meses para derrubar o Código Florestal

Quando comecei este blog, minha intenção era NUNCA repetir matérias publicadas na grande imprensa. Afinal, não faz sentido para você, leitor, vir até aqui e encontrar algo que já leu em outro lugar... Mas hoje eu sou obrigada a abrir uma exceção - e ainda por cima para repetir notícia velha - para ser mais exata, notícia deste sábado, 14 de novembro, publicada na Folha de S. Paulo: Lula atende a ruralistas e adia o prazo para recuperar matas. Porque eu fiquei muito revoltada quando li o texto.

O lance não é o prazo maior dado aos ruralistas. Eles precisam de apoio para se adaptar ao código, que não é uma tarefa fácil ou barata. Não custa lembrar que em muitos casos o produtor não agiu na ilegalidade: o governo efetivamente os incentivou a ocupar as áreas que hoje são consideradas zona de preservação. O que mudou foi justamente o marco legal: a primeira versão da lei que regula o uso das áreas de vegetação nativa data de 1965 - época em que não existiam preocupações ambientais. Por isso, ele precisou ser revisto e atualizado, o que ocorreu em julho do ano passado. Desde então, quem tem terras na Amazônia deve preservar 80% da propriedade. Se for no cerrado da Amazônia Legal, 35%. Nas demais áreas do país, 20%.

Obviamente o código gerou críticas de quem tem terras nessas regiões: se fosse comigo ou com você, a reação certamente não seria muito diferente. Mas estamos vivendo um daqueles momentos de transição na história da humanidade nos quais alguns setores acabam sendo prejudicados em favor do bem comum. Foi o que aconteceu com as datilógrafas e os milhares de trabalhadores que produziam máquinas de escrever e que simplesmente perderam o emprego com a chegada dos computadores. E o que dizer dos ascensoristas que pilotavam os elevadores dos prédios? Nos dois casos, as pessoas diretamente afetadas tiveram que se requalificar e se recolocar no mercado. Não foi um processo fácil, do ponto de vista individual - e essa é a lição que deveríamos ter aprendido: como ajudar na transição. E não questionar a transição - que é justa e necessária, se quisermos manter a competitividade do próprio agribusiness, que é, ironicamente, a atividade produtiva que mais depende do clima!

Eu acredito que existam produtores sérios, que vão usar o prazo maior dado pelo governo (18 meses) para legalizar suas propriedades. E isso é mais revoltante: porque que os representa não dos produtores não estão à altura de quem faz a coisa certa. Como a própria matéria da Folha afirma, os 18 meses não serão usados para regularizar nada, mas sim para tentar novamente a derrubada do Código Florestal Brasileiro!

Isso é lamentável!

Ao invés de usar o prazo produtivamente para tentar ajudar na transição, mais uma vez eles querem nos colocar no passado - junto com queimada para limpar o solo, mão de obra escrava, desperdício de água e várias outras técnicas ultrapassadas e desrespeitosas com o ser humano e com o meio ambiente.

Não custa destacar que o governo já fez de tudo para facilitar essa transição: diante das críticas, Lula editou no final do ano passado uma versão mais amena do Código, com multas mais leves e prazo maior para o produtor se adequar às leis. Quando o decreto entrar em vigor, o proprietário autuado pela fiscalização sem a totalidade da reserva legal terá prazo de 120 dias para formalizar uma proposta de recuperação da área. Feito isso, o que já o livra da multa, terá até 2031 para recuperar a área de floresta.

Também fiquei revoltada com a falta de transparência desse governo: a decisão acima foi tomada na segunda passada, mas ele não quis ofuscar anúncio da redução do desmate, feito pela candidata do governo à presidência da República dentro da estratégia de torná-la mais "verde" - e por isso simplesmente omitiu-se o fato da opinião pública!!! E nem é preciso dizer que a decisão em si de prorrogar o decreto é uma forma de buscar o apoio dos ruralistas à candidatura da Dilma.

Por isso, peço desculpas a você, leitor - especialmente se vc for também leitor da Folha - mas não dava para não comentar essa história aqui.

Líderes políticos não tem o direito de adiar o acordo climático

Vitae Civilis alerta: qualquer atraso no fechamento de um acordo global para reverter as mudanças climáticas é uma sentença de morte para milhões de pessoas

O Vitae Civilis, organização não governamental que acompanha as negociações sobre clima desde a Rio-92, considera como imoral e inaceitável a orientação de líderes políticos de alguns países em querer adiar decisões que esperamos sejam ainda tomadas na Conferência da Convenção de Mudanças de Clima em Copenhague em dezembro próximo. Nada justifica politicamente um atraso de meses ou um ano nas decisões que devem articular os novos compromissos legais do Protocolo de Quioto e da Convenção de Mudança de Clima, como levam a crer o anúncio, realizado neste final de semana ao término da assembleia do Fórum da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec, da sigla em inglês), feito pelos presidentes dos Estados Unidos e China, junto com algumas nações emergentes.

Aos que alegam razões econômicas para este impasse, não custa lembrar das conclusões do Relatório Stern, de 2006: se não fizermos nada, os prejuízos globais provocados pelas mudanças climáticas representarão 5% do PIB mundial a cada ano. Ou seja, para sempre, sem retorno. E dependendo da evolução dessas mudanças, eles podem atingir 20% do PIB global. Para se ter uma idéia do que isso significa: estima-se que a crise financeira de 2008, considerada a pior desde o crack da bolsa de Nova York em 1929, cortou 30% das riquezas globais. Ou seja, o prejuízo com o clima pode representar uma crise tão severa quanto a que mobilizou esses mesmos líderes atrás de recursos para cobrir o rombo do sistema financeiro. Como esse mesmo relatório estimou em 1% do PIB mundial os gastos para reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa, é fácil concluir que reverter o atual quadro é muito mais uma questão de vontade política do que de orçamento ou bom senso econômico.

"Os líderes que anunciaram sua decisão unilateral acabam de se tornar cúmplices do aquecimento global e dos impactos de mudanças de clima e devem responder moral, legal e politicamente por seu agravamento e por suas conseqüências ", afirmou Rubens Harry Born, coordenador do Vitae Civilis. Qualquer atraso no fechamento de um acordo global para reverter as mudanças climáticas é uma sentença de morte para milhões de pessoas. “Nada justifica politicamente a decisão de fazer de Copenhague somente um momento de mais diálogos e compromissos políticos sem validade jurídica. Afinal, as negociações para o segundo período do Protocolo de Quioto deveriam ter começado em 2005, segundo um artigo do próprio protocolo. Mas de 2005 a 2007 só houve diálogos políticos para definir a agenda e metodologia específica das negociações. Portanto, já se passaram quatro anos de diálogo político. Copenhagen é o momento das decisões legalmente vinculantes”, afirma.

O Vitae Civilis alerta para o fato de que a figura do acordo “politicamente vinculante” não existe do ponto de vista legal ou das normas da ONU para tratados desta natureza. “É a mesma coisa que uma declaração política, uma promessa de campanha”, explica Gaines Campbell, Conselheiro do Vitae Civilis. “O que está previsto é a assinatura de um acordo internacional legalmente vinculante, que é um instrumento que passa por um processo de ratificação pelos representantes das legislaturas dos países. Ai sim passa ser um acordo que os países aceitam e não apenas seus Chefes de Estado. O que nós precisamos em Copenhagen é um acordo legalmente vinculante. Nada menos. Não quer dizer que o acordo vai agradar na totalidade mas pelo menos ninguém ficará de fora. O grande desafio de Copenhagen é esse”, completa.

O Vitae Civilis também questiona a legitimidade desta iniciativa dos líderes de uma minoria das nações signatárias da ONU que desconsidera a expectativa de milhões de pessoas e de mais de uma centena de países. "A decisão de que a CoP15 seria o prazo máximo para fecharmos um acordo climático data de 2007. Ninguém pode alegar desconhecimento ou falta de tempo para fazer a lição de casa", completa Rubens Born, referindo-se à CoP13, realizada em Bali, na Indonésia, quando foi definido o Bali Action Plan (Mapa do Caminho de Bali), o qual estabelece os eixos em torno dos quais as negociações sobre mudanças climáticas devem ser conduzidas, bem como o prazo (dezembro de 2009) para elaborar os passos posteriores à expiração do primeiro período do Protocolo de Quioto (que vai até 2012).

Esta tentativa unilateral de inviabilizar um acordo climático prejudica a todos os seres humanos, especialmente os mais pobres e os que residem em países tropicais, afirma o Vitae Civilis. "As conclusões da comunidade científica que levaram a este processo de negociação sobre clima tem sido reforçadas pelos novos estudos e pelos cada vez mais frequentes desastres ambientais", explica Rubens Born. "Há um custo humano e financeiro enormes envolvidos nesta tentativa de empurrar o acordo climático com a barriga", destaca Gaines Campbell, que pergunta: “quantas vidas precisarão ser sacrificadas até que os líderes políticos se dêem conta da dimensão do problema?”.

Por que o acordo climático vive sob ameaça constante

Por que o compromisso da CoP13 em Bali, não foi cumprido? Qual é a razão ou quais são as razões que contribuíram para o atraso e que nos coloca na porta de Copenhagen de mãos vazias?

Para Gaines Campbell, do Vitae Civilis, “muitas são as razões, mas duas precisam ser destacadas. Primeiro os países desenvolvidos fizeram muito pouco para conquistar a confiança dos países em desenvolvimento. Confiança é um ingrediente de qualquer negociação de sucesso, quer seja para comprar um carro, aprovar uma lei ou fazer um acordo sobre clima. A falta de confiança resulta em posições defensivas, jogo escondido ou paralisação. Segundo, o mundo econômico que nós conhecemos é baseado em princípios de produção e consumo predatório. Não é sustentável. Os países desenvolvidos sabem muito bem o nível de sacrifício que será necessário para transformar suas economias em economias sustentáveis e não querem abrir mão. Os países em desenvolvimento também tem a sua dose de culpa porque querem atingir o mesmo nível de desenvolvimento que os outros e tentam trilhar o mesmo caminho. Esses dois fatores contribuíram, e muito, para os atrasos das negociações da UNFCCC. Quando nós chamamos os Chefes de Estado para tomar a liderança nos processos de negociação temos que exigir que resolvam o problema de falta de confiança e do modelo econômico que tem que prevalecer daqui para frente”, detalha.

Se as crianças soubessem...

Se as crianças soubessem do ônus que estamos deixando para elas, certamente protestariam com mais veemência do que a mostrada no vídeo abaixo, parte da campanha Take an Action criada pela agência Zig para o grupo canadense Mom’s Against Climate Change (mães contra as mudanças climáticas). A desproporcionalidade entre os envolvidos explicita a injustiça que subjaz todas as discussões sobre mudanças climáticas e nos obriga a responder, sim, se estivéssemos no lugar delas, nós também protestaríamos.

Então, por que não protestamos mais? Ainda dá tempo de assinar o abaixo assinado da campanha TicTac em favor de um acordo climático decente nas negociações que acontecerão agora em dezembro. Não deixem os lobistas, os burocratas e as grandes corporações ligadas ao petróleo empurrarem essa história com a barriga para a próxima reunião da ONU, no final de 2010. Não há tempo: estamos correndo contra o relógio!

O apagão da democracia

Primeiro, o governo disse que a causa do apagão que deixou 60 milhões de brasileiros sem luz na noite da última terça-feira teria sido uma falha em Itaipu. A binacional negou, por meio de nota à imprensa e nas várias entrevistas que seu presidente concedeu ao longo do dia. Depois, disseram que foi na rede de transmissão. Furnas soltou nota dizendo que suas linhas estavam ok. Aí falaram em problemas climáticos: em entrevista coletiva ontem, o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, declarou que "todos (sic!) chegaram à conclusão que foram descargas atmosféricas, ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá. Houve uma concentração desses fenômenos atmosféricos ali. O que provocou um curto circuito nos 3 circuitos que levam a Itaberá, que vêm de Itaipu".

E mesmo depois que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, negou veementemente essa hipótese em relatório e em várias entrevistas à imprensa, o governo decidiu manter a versão no dia de hoje. E mais: o próprio ministro Lobão afirmou que o governo federal encerrou o "problema". Nas palavras do digníssimo: "Buscamos a causa do problema e resolvemos. O problema está encerrado. Cada parte do sistema se empenhou em resolver o problema a tempo".

Detalhe: além de não explicarem a causa do apagão, em momento algum o governo falou em medidas para para evitar que o problema se repita ficou estabelecida.

Com esta atitude, o Ministro Lobão e demais atores governamentais ligados à área de energia (sem trocadilho) juntam-se a todos aqueles que recentemente resolveram ignorar alguns princípios básicos da democracia, como transparência e o dever de prestar satisfação / contas ao povo / aos eleitores. Entre eles estão o deputado federal Sérgio Moraes, do PTB-RS, autor da pérola "estou me lixando para a opinião pública", e nosso imortal José Sarney, que conseguiu, graças ao apoio de sua gangue, oooops, de seu partido, o PMDB, manter-se à frente do Senado Federal e, pior, manter a maioria das iniciativas escusas da qual era acusado - apenas para citar dois exemplos de maior repercussão. Porque todos os dias as páginas dos jornais trazem novos casos de membros dos poderes executivo e legislativo que fazem o que querem e não prestam a mínima satisfação, como se governar fosse um direito, e não um dever.

Vivemos um apagão de energia na terça. E um apagão da democracia nos dias subsequentes.

Como diria Dick Vigarista: "raios! raios duplos! raios triplos!".

PS - a quantidade de negativas às várias tentativas do governo de fornecer uma explicação para o apagão indica como os quadros do governo rejeitam a candidatura da Dilma - ninguém colaborou para aliviar o lado do Poder Executivo!

Aquecimento global e o apagão de energia elétrica

É meio dia desta quarta, 11 de novembro, e o governo ainda quebra a cabeça para explicar o apagão que atingiu ontem 12 estados do Brasil e parte do Paraguai. A versão inicial de problemas em Itaipu foi substituída, agora há pouco, por um tal de queda em três linhas de transmissão. Mas Furnas já divulgou nota dizendo que não detectou nada em suas linhas... Ou seja, estão todos muito ocupados tentando provar que são inocentes. Mas tenho fé de que conseguirão arrumar um tempinho para descobrir efetivamente o que aconteceu!

Fico pensando porque a primeira versão da culpa tenha sido Itaipu. Ora, é fácil saber se uma turbina está ligada ou não, se está gerando energia ou não. Aí o governo fala que Itaipu parou - e Itaipu solta uma nota dizendo que não, que estava funcionando! E o governo se vê obrigado a voltar atrás e procurar outro culpado. Do ponto de vista de comunicação, isso é um desastre: tira a credibilidade de quem está fornecendo informações e evidencia a falta de gestão e controle que há sobre a questão. Mas acho que há algo mais.

Ao tentar jogar a culpa primeiro no produtor (Itaipu) e não na empresa de transmissão (Furnas), abrem-se as portas para, mais uma vez, malhar os ambientalistas que questionam os atuais projetos da área de energia. Não custa lembrar que este setor do Programa de Aceleração do Crescimento, grande plataforma eleitoral da candidata Dilma Roussef, está aquém das expectativas do próprio governo. Seria muito cômodo falar que o apagão se deu no fornecimento porque Itaipu estava sobrecarregada, precisamos de mais hidrelétricas, os ambientalistas têm que ceder, são urbanóides radicais etc. etc. Além de explicar o ocorrido, ainda justificaria porque o PAC permanece empacado.

Porque o governo recusa-se a admitir que os projetos de energia elétrica que estão parados têm problemas ambientais derivados, na quase totalidade dos casos, da própria concepção do projeto. Ou seja, podiam ser evitados, se seus autores tivessem incluído a variável ambiental ao projetar a hidrelétrica, a termelétrica, a linha de transmissão... Porque quem os aprovou, em primeira instância, foi a atual candidata à presidência pelo governo, Dilma Roussef - que vem da área energética e mesmo depois de assumir a Casa Civil permaneceu como a manda-chuva dessa seara. E foi sua voz forte que fez prevalecer a noção de que apagão era coisa do governo anterior e de que na atual gestão não havia qualquer problema.

Bom, acabamos de perceber que há: como a jornalista Míriam Leitão colocou brilhantemente em seu blog, começando pelo ministro que ocupa a pasta das Minas e Energia e que sequer sabia que a interligação do sistema energético no Brasil não é recente. Ou seja, o blecaute começa com o apagão de idéias, informações e gestão.

Mas a grande ironia foi a reviravolta que esta história deu: o governo insiste que foi o "mau tempo" que derrubou as linhas. Porque falar em problemas meterológicos é assinar atestado de incompetência: se a matriz energética brasileira é prevalentemente hidrelétrica, sua gestão pressupõe um olho constante nos humores de São Pedro já que dependemos literalmente do tempo - foi justamente a falta de chuva o gatilho da última grande crise energética do Brasil. Já devia fazer parte do business as usual do setor acompanhar a questão climática - inclusive com orientações e práticas de gestão de crises para os sistemas de transmissão, cujas torres são vulneráveis a raios e ventanias.

O aquecimento global deve intensificar esses fenômenos, a explicação do governo apenas atesta que a questão climática não pode ser ignorada ou subestimada pela gestão pública. E para reduzir as chances de que esse tipo de incidente ocorra, é fundamental empreendermos esforços para uma economia de baixo carbono - algo que a Ministra Dilma insiste em refutar, em nome do crescimento econômico. E esta é a segunda grande ironia dessa história: explicar o maior apagão da história deste país com um motivo que a candidata do governo insiste em ignorar.

Poluição e saúde - o que fazer?

Queria compartilhar com você esta excelente entrevista feita pela TerraTV, que infelizmente não oferece mecanismo para incorporar seus vídeos em outras páginas da internet. Ou seja, você precisa clicar no link abaixo e entrar no site deles. Mas vale a pena o "esforço": trata-se de um papo com o médido Paulo Saldiva, que coordena o Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo, que traz dados contundentes sobre os efeitos da poluição na capital paulista:

* a poluição causa 20 mortes por dia em São Paulo;

* os habitantes da região metropolitana de São Paulo tem um ano a menos de expectativa de vida por causa da poluição;

* a poluição reproduz o que o cigarro causa na saúde das pessoas - a diferença é que o cigarro pega prioritariamente quem fuma e a poluição pega todo mundo;

* ficar duas horas parado no trânsito de São Paulo equivale a fumar um cigarro.

Ele demonstra, com clareza cristalina, como a noção de que o petróleo é um combustível barato nada mais é que um mito, uma vez que no preço do litro da gasolina ou do diesel não estão contabilizados os gastos com abertura e manutenção de ruas e estradas. Ou com saúde pública: só na cidade de São Paulo, essas despesas superam US$ 200 milhões por ano, considerando-se só internações, ou US$ 1,5 bilhão por ano, incluindo mortalidade.

Não deixe de assistir: http://terratv.terra.com.br/Noticias/Brasil/4194-254485/Medico-da-dicas-para-viver-melhor-em-cidade-poluida.htm - e, se puder, repasse-o para o Serra: já que a poluição causa a mesma natureza de problema do fumo, ele poderia complementar a lei anti-fumo com um projeto anti-trânsito, investindo em transporte público (ao invés de ampliar a Marginal Tietê para os carros).

O erro de cálculo da Uniban

A chapa esquentou para o lado da Uniban. Pudera! Mostrando uma total falta de sintonia com o espírito do tempo, eles resolveram usar o malhado recurso de imolar a mulher no altar sagrado dos bons costumes para encerrar o triste episódio da barbárie no campus.

Pergunto-me o que os levou a tomar uma decisão tão absurda. Será que contavam com a solidariedade do conservadorismo e do machismo de nossa sociedade? Pois é, descobriram da maneira mais dura que esse machismo e esse conservadorismo existem, sim, mas não mais no centro do poder. Não mais entre os chamados "formadores de opinião".

Trata-se de mais um passo dentro de uma longa caminhada, que teve na extinção dos chamados "crimes de honra" seu episódio mais marcante. Sim, se você tem menos de 30 anos talvez não saiba, mas antigamente a Constituição assegurava ao homem o "direito" de matar sua mulher caso ela comprovadamente tenha "atentado contra sua honra"! Sim, você leu direito: houve um tempo, não muito distante, quando o Estado dava autorização a seus cidadãos para cometerem assassinatos dentro de casa. Não por acaso, luta-se até hoje contra a violência doméstica, herdeira direta dessa lei hedionda: estatísticas indicam que a cada 15 minutos uma mulher é agredida no Brasil, sendo que em mais da metade dos casos o agressor é alguém da família (marido, irmão, filho, pai).
Condenar a mulher é algo tão corriqueiro que desde ontem a maioria dos comentários que ouvi foi que a Uniban "devia saber de algo" que não revelou para a sociedade, para ter tomado a decisão que tomou. A moça "deve ter feito algo" que não sabemos. A culpabilidade da mulher está tão introjetada (em boa parte, graças ao mito judaico-cristão de Adão e Eva) que mesmo diante das evidências de uma total arbitrariedade os olhos recusam-se a enxergar, a mente duvida e o coração não acredita.

Mas assim como o ataque dos bárbaros ocorreu em um campus de periferia, também tais comentários não aparecem no centro dos debates. São frases de ambientes e situações informais, ditos com o cuidado de não fechar posição. Porque felizmente pega mal hoje em dia ser preconceituoso e machista. Neste ponto, devemos muito ao movimento gay e suas passeatas, que disseminaram a noção de respeito à diversidade de forma alegre, gostosa e fácil de compreender. Mas isso a Uniban não compreendeu.

Assim como a barbárie que deu origem à crise ocorreu em um campus de periferia, da mesma forma o machismo e o preconceito que justificam a ação encontram-se na periferia da opinião pública. Nos rincões e Requiões da vida. Cada vez mais distantes e isolados. Cada dia mais, uma lembrança (desagradável) do passado.
Que assim seja!

Fale pro Lula que vc quer um acordo climático de verdade!

A partir das 14h00 desta segunda, 09/11, ocorrerá uma mobilização em frente ao Center 3, na Avenida Paulista. Motivo: o Lula estará naquele prédio participando do Fórum Brasileiro de Mudanças de Clima. Trata-se de mais uma etapa de debates sobre a posição que o Brasil deve assumir sobre o tema na conferência da ONU que aconterá agora em dezembro, em Copenhagen, e que deverá gerar um acordo global que permita interromper o avanço das mudanças climáticas que todos nós já estamos sentindo.

Ocorre que a última reunião ministerial sobre este tema terminou em impasse, sem a definição de metas para controle de emissões. E se não há consenso no Governo, a opinião pública pode fazer a diferença. É hora de pressionar as autoridades brasileiras para definirem metas concretas, independente das decisões do G8. Essa é a missão do abaixo assinado da campanha TicTacTicTac, disponível em www.tictactictac.org.br. Entre no site da campanha e deixe sua assinatura. E dê uma passada lá na Paulista para pressionar o governo sobre medidas efetivas para combater o aquecimento global. Temos até o dia 14 para fazer a diferença, já que nessa data o Lula deve anunciar a proposta que o Brasil levará para a COP 15.

Então, agora é a oportunidade de mostrar ao Governo que queremos um compromisso com força de lei internacional e não uma carta de boas intenções. Um acordo climático ambicioso e justo, baseado nas necessidades cientificamente comprovadas, e comprometido com a justiça e a inclusão social.

Nos vemos lá!

O tempo não para

Foi impossível não lembrar da letra do Cazuza ao ler os comentários sobre o encerramento das negociações em Barcelona, última etapa de preparação para a Conferência do Clima da ONU agora em dezembro, em Copenhagen. Mais uma vez, não houve avanço: a mensagem que ficou é "resolveremos no ano que vem" - já existe uma CoP16 programada para dezembro de 2010 no México (ao menos, escolheram um país melhor: não deixa de ser uma grande ironia discutir o aquecimento global em pleno inverno dinamarquês).

E embora os lobbies atravanquem as negociações, o tempo não pára. E a cada dia temos uma concentração maior dos gases causadores do efeito estura na atmosfera. Os efeitos, todos nós estamos sentindo - sejam os habitantes do Espírito Santo, acossados pelas piores enchentes das últimas décadas, sejamos nós, paulistanos, suando em bicas com este calorzinho senegalês! Mas ao contrário do que a expressão indica, aquecimento global não significa necessariamente temperaturas mais altas e sim picos mais agudos de temperaturas. Em outras palavras: quando faz frio, é muito frio; quando chove, é enchete; quando faz calor, socorro!

Ocorre que nada disso entra na conta das empresas ou da economia. Se as despesas provocadas pela concentração de CO2 na atmosfera fossem debitadas das empresas de petróleo (por exemplo, a conta da saúde pública com pessoas que ficam doentes por causa da poluição gerada pelos carros), certamente o petróleo não seria a energia barata que tanto apregoam. Se o custo da reconstrução de casas e das vidas das vítimas das enchentes do Espírito Santo, Santa Catarina etc. fosse debitado da Petrobrás, da Volkswagen, da GM, da Fiat etc., certamente ficaria evidente o custo real da opção infeliz que o Brasil fez lá atrás, com Juscelino Kubitschek, pelo transporte rodoviário de cargas e pessoas.

Mas embora a democracia seja o pior dos regimes políticos, com exceção de todos os outros, como dizia Winston Churchill, ela oferece a possibilidade de participação de todos. Por isso é importante assinarmos o manifesto da campanha TicTac (http://www.tictactictac.org.br/) para pressionarmos os negociadores que irão a Copenhagen nos representar. Sem nosso apoio, eles ficam à mercê dos lobbies setoriais interessados em manter tudo como está. Não é por acaso que, nos Estados Unidos, existem 8 lobistas por senador no Congresso apenas para influenciá-los CONTRA as negociações de clima. No Brasil, não é diferente: a cisão entre a ala representada pelo Minsitro do Meio Ambiente e a tchurma da Dilma Roussef já chegou à grande imprensa!

O discurso dos chamados desenvolvimentistas pode ser bonito (geração de empregos, renda, acesso ao consumo), mas não se engane: esse discurso é alimentado e bancado pelas grandes empresas. É o lucro delas que estão tentando preservar! A economia tradicional vai continuar nessa toada que você conhece - uma empresa comprando outra, máquinas substituindo pessoas - e que resulta em menos empregos, menos postos de trabalho e maior concentração de renda. O Lula falou ontem em Londres que ele quer que os bancos deem lucro porque quando eles dão prejuízo, todo mundo paga a conta. Ele só esqueceu de falar que essa lógica, que se tornou explícita com a crise financeira do ano passado, envolve também a questão ambiental: quem lucra com o pré-sal é a Petrobrás, mas quem paga a conta do médico e dos remédios para problemas respiratórios é você (diretamente ou pelos impostos que bancam o sistema público de saúde e as "farmácias do povo"). Quem lucra com a venda de veículos é a Volks, a Ford, a GM, a Fiat, a Renault, a Citroen... mas quem paga a conta dos hospitais onde estão as vítimas do trânsito somos eu e você. Quem lucra com a venda de sacolinhas plásticas são a Petrobrás, a Braskem, a Quattor... mas quem paga a conta pelo acidente de trânsito causado pelo motociclista que teve uma sacola plástica enroscada em seu capacete (como eu já vi acontecer) ou pela abertura de novos lixões nos grandes centros urbanos somos eu e você. Quem lucra com a soja e o boi são os financiadores da bancada ruralista - mas quem perde em qualidade de vida com o desmatamento da Amazônia somos todos nós habitantes deste planeta.

Se a manutenção da atual forma de contabilização da poluição só beneficia uma minoria e prejudica todo mundo, qual a base legal, ética e moral para manter as coisas como estão? Se você vai ser prejudicado se tudo ficar igual, por que você não bota a boca no trombone??

E antes que você me pergunte o que estou fazendo, adianto que quando comecei a acompanhar essa história - e percebi a dimensão do problema - comecei a escrever aqui no blog, a falar com amigos, a tuitar, a escrever para os veículos de imprensa, para o governo... Fui atrás para saber como participar da CoP15 e consegui: em dezembro, embarco para Copenhagen! E mesmo que tudo fique para 2010 no México, we shall never give up - nunca desistiremos! - parafraseando Winston Churchill mais uma vez.

Porque desistir é morrer antes do tempo.


mapa de riscos climáticos. Fonte: Maplecroft.

A ministra optou pelo atraso

Texto de Rubens Harry Born, coordenador adjunto da organização não governamental Vitae Civilis e coordenador geral da campanha tic tac tic tac (www.tictactictac.org.br), publicado no jornal O Globo de hoje:
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É de grande apreensão a noticia de que a ministra Dilma Rousseff exigiu revisão da proposta apresentada pelo Ministério do Meio Ambiente para que o país seja menos ambicioso no esforço de limitar as emissões de gases de efeito estufa, a fim de permitir maiores taxas de crescimento econômico do Brasil. Também é preocupante o fato de que os governantes considerem que somente a redução de 80% do desmatamento e o fomento aos agrobiocombustíveis são respostas suficientes aos desafios de fazer o país transitar para uma sociedade de baixo carbono.
Posturas como a defendida pela ministra Dilma Rousseff revelam concepções ultrapassadas de desenvolvimento, em que o "crescimento econômico" por si seria a forma de prover dignidade e qualidade de vida, e que tal crescimento necessariamente implica em desconsiderar questões de segurança e integridade ambiental. A premissa implícita nesta posição é de que seguiremos usando modelos de desenvolvimento e tecnologias que estão intimamente vinculados às causas antrópicas do aquecimento global: forte dependência da exploração e uso de combustíveis fósseis; geração de energia elétrica a partir de grandes usinas hidroelétricas, termoelétricas e nucleares; sistema de transporte rodoviário para cargas e pessoas; uso inadequado e ocupação descontrolada do território para atividades altamente impactantes, nas cidades ou no meio rural.
É certo que precisamos de investimentos em infraestrutura, tais como escolas, postos de saúde, geração de energia com base em fontes renováveis, transporte público limpo e eficiente, e que todas atividades humanas geram emissões de gases de efeito estufa. Mas é no mínimo falta de visão achar que o Brasil não pode trilhar para uma trajetória de sustentabilidade que concilie o bem-estar de sua população com maior zelo ambiental e responsabilidade internacional.
Faltam menos de 50 dias para a 15ª Conferência das Partes (CoP-15) da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança de Clima, na qual se espera sejam tomadas decisões políticas que reorientem as atividades econômicas e sociais a fim de buscar reverter o aquecimento global. O Brasil pode e deve ter um papel de liderança para a adoção de políticas globais e nacionais condizentes com o enfrentamento da crise climática. E esse enfrentamento pode gerar inúmeras oportunidades de empregos "verdes", em atividades social, econômica e ambientalmente sustentáveis, e portanto servir de resposta para a "outra" crise — a financeira — cujos elementos vinculam-se também à noção de crescimento ilimitado e a qualquer custo.
Mudar hábitos de consumo ou sistemas e tecnologias de produção pode significar tanto melhor saúde, qualidade de vida, diminuição de custos, e simultaneamente, promoção da qualidade ambiental, mitigação do aquecimento global e geração de empregos.

De Kyoto a Copenhagen, de trem

Uma viagem de trem para simbolizar o longo caminho entre as negociações que resultaram no Protocolo de Kyoto e as que estão em curso para selar, em Copenhagen, um novo acordo climático: esta é a proposta do expresso que parte amanhã, 5 de novembro, da cidade japonesa em direção à capital dinamarquesa, onde deve chegar para a Conferência do Clima da ONU, no começo de dezembro. A bordo, mais de 400 negociadores, ativistas e personalidades que poderão conferir, ao longo do trajeto de nove mil quilômetros, algumas das áreas ameaçadas pelo aquecimento global, como a tundra siberiana, onde há o que os cientistas chamam de “permafrost”, uma camada congelada que retém bilhões de toneladas de metano e dióxido de carbono – caso ela descongele, pelo aumento da temperatura do planeta, tais gases serão liberados na atmosfera, agravando ainda mais o problema.

A escolha do modal ferroviário não foi feita por acaso: atualmente o setor dos transportes responde por mais de um quinto das emissões globais de CO2 e esse montante deve dobrar em 40 anos. Dentro desse cenário, as ferrovias são cruciais para a redução das emissões de gases com efeito de estufa e desenvolvimento de sistemas de transportes sustentáveis. O Expresso do Clima foi desenvolvido para funcionar com energias 100% renováveis. Por isso, ficará exposto ao público durante toda a conferência na estação central de Copenhagen.
De Kyoto, de onde sai amanhã, o trem passará por por ferry-boat para Daejeon, República da Coréia, depois para Vladivostok, no extremo oriente da Rússia e de lá para que a viagem transcontinental até a Europa. Está previsto ainda um trecho de barco pelo Baikal, o lago de água doce mais volumoso do mundo, antes da parada estratégica em Moscou, capital de um dos maiores produtores de gás e petróleo do mundo – e um dos potenciais líderes em emissões de carbono na atmosfera nos próximos anos. De lá, o Expresso do Clima irá para Poznan, na Polônia, Berlim, na Alemanha, e Bruxelas, na Bélgica.
O Expresso do Clima é uma iniciativa do Programa Ambiental da ONU (UNEP), da União Internacional dos Caminhos de Ferro (UIC) e do WWF.

Ruralistas podem inviabilizar plano brasileiro de redução de emissões

Hoje (03/11), o governo brasileiro se reuniu para discutir suas metas de corte de emissão de gases efeito estufa que serão apresentadas durante a reunião da Convenção do Clima em Copenhague (COP 15) em dezembro. Não houve consenso e o anúncio foi adiado em duas semanas. O único ponto que todos concordam é quanto a implementar um plano para diminuir em 80% o desmatamento no país até 2020. Mas se o presidente Lula não agir firmemente no âmbito da política interna, esse plano será pura ficção.

Amanhã (04/11) a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados votará o PL 6424/05, que anistia os desmatamentos ilegais ocorridos até 2006 e diminui o nível de proteção às áreas ambientalmente sensíveis, como beiras de rio, encostas, topos de morro. Se aprovado, os que desmataram ilegalmente 34 milhões de hectares, só na Amazônia, serão premiados, o que incentivará o avanço da ilegalidade. Parlamentares ligados ao agronegócio, muitos deles de partidos da base de apoio ao presidente, têm maioria nessa comissão e prometem aprovar o projeto, que é na prática uma revogação do Código Florestal, e o fim do natimorto plano brasileiro de diminuição do desmatamento.

Apesar de antiga, essa lei até recentemente vinha sendo precariamente cumprida. Mas com um melhor aparelhamento dos órgãos de fiscalização e uma maior cobrança por parte da sociedade, houve, nos últimos anos, significativo aumento das punições aos desmatamentos ilegais, o que gerou descontentamento da parte do agronegócio brasileiro que se beneficiava da impunidade. Com grande influência no parlamento, esse setor econômico passou a pressionar pela revogação da lei e pela anistia às ilegalidades já ocorridas, a forma mais simples de se legalizar. O próprio ministro da Agricultura vem sendo porta-voz dessas propostas, defendendo publicamente que a proteção às florestas sejam “atenuadas”.

Apesar de não serem maioria no Congresso Nacional, os parlamentares ligados ao agronegócio contam com a total omissão do governo Lula para levarem adiante esse projeto. Conclamamos o presidente Lula a atuar firmemente para que um retrocesso dessa envergadura não ocorra, pois caso contrário a reunião ministerial de hoje terá sido pura encenação e o plano a ser apresentado em Copenhague, independentemente de seu conteúdo, uma fantasia.

Assinam:

Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
Conservação Internacional - Brasil
Greenpeace
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
Instituto Centro de Vida (ICV)
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)
Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema)
Instituto de Pesquisa da Amazônia (IPAM)
Instituto Socioambiental (ISA)
Programa da Terra (Proter)
Rede de ONGs da Mata Atlântica
Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz
WWF - Brasil

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A sessão da Comissão é aberta ao público e qualquer pessoa pode acompanhar no plenário 2 do Prédio das Comissões da Câmara dos Deputados. Além disso, você pode cobrar o deputado que elegeu/o partido no qual votou, lembrando-os que interesses eles representam.

Os integrantes da Comissão que vota amanhã o Projeto de Lei que ameaça o futuro ambiental brasileiro são:

* Roberto Rocha (presidente – PSDB/MA)

* Marcos Montes (1º vice-presidente erelator do Projeto de Lei, DEM/MG)

* Jurandy Loureiro (2º vice-presidente,PSC/ES)

* Leonardo Monteiro (3º vice-presidente, PT/MG)

* André de Paula (DEM/PE)

* Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB/SP)

* Antônio Roberto (PV/MG)

* Edson Duarte (PV/BA)

* Gervásio Silva (PSDB/SC)

* Givaldo Carimbão (PSB/AL)

* Jorge Khoury (DEM/BA)

* Marina Maggessi (PPS/RJ)

* Mário de Oliveira (PSC/MG)

* Paulo Piau (PMDB/MG)

* Rebecca Garcia (PP/AM)

* Rodovalho (???) (DEM/DF)

* SarneyFilho (PV/MA)

* Zé Geraldo (PT/PA).

Os suplentes são: Aline Corrêa (PP/SP), Antonio Feijão (PTC/AP), Arnaldo Jardim (PPS/SP), Cezar Silvestri (PPS/PR), Fernando Gabeira (PV/RJ), Fernando Marroni (PT/RS), Germano Bonow (DEM/RS), Homero Pereira (PR/MT), Luiz Carreira (DEM/BA), Miro Teixeira (PDT/RJ), Moacir Micheletto (PMDB/PR), Moreira Mendes (PPS/RO), Nilson Pinto(PSDB/PA), Paulo Roberto Pereira (PTB/RS), Paulo Teixeira (PT/SP), ValdirColatto (PMDB/SC), Wandenkolk Gonçalves (PSDB/PA) e Zezéu Ribeiro (PT/BA).

O melhor artigo que li até agora sobre a barbárie da Uniban

Artigo de Débora Diniz, antropóloga, professora da UnB e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, publicado no suplemento Aliás do jornal O Estado de S. Paulo neste domingo, 01/11/09. Grifos meus.

O urro ancestral da faculdade injuriada

Universitários que encurralaram a colega de vestido curto não eram delirantes: eram agressores mesmo

Vídeos veiculados pelo YouTube mostram a estudante de Turismo Geisy Arruda, da Uniban, em São Bernardo do Campo, sendo xingada e acuada por outros alunos por causa do comprimento do vestido. Ela teve de ser escoltada para fora do prédio por policiais.O caso não caberia nem em um folhetim vulgar, não fosse o YouTube denunciando a verdade. A "puta da faculdade" é uma história bizarra: uma mulher de 20 anos é vítima de humilhações. A razão foi um vestido rosa e curto que a fazia se sentir bonita. Sem ninguém saber muito bem como o delírio coletivo teve início, dezenas de pessoas passaram em coro a gritar "puta" e ameaçá-la de estupro. A saída foi esconder-se em uma sala, sob os urros de uma multidão enfurecida pela falta de decoro do vestido rosa. Além da escolta policial, um jaleco branco a protegeu da fúria agressiva dos colegas que não suportavam vê-la em traje tão provocante.

Colegas de faculdade, professores e policiais foram ouvidos sobre o caso. O fascínio compartilhado era o vestido rosa. Curto, insinuante, transparente foram alguns dos adjetivos utilizados pelos mais novos censores do vestuário da sociedade brasileira. "A roupa não era adequada para um ambiente escolar", foi a principal expressão da indignação moral causada pelo vestido rosa. Rapidamente um código de etiqueta sobre roupas e relações sociais dominou a análise sociológica sobre o incidente. Não se descreveu a histeria como um ato de violência, mas como uma reação causada pela surpresa do vestido naquele ambiente.

O que torna a história única é o absurdo dos fatos. Um vestido rosa curto desencadeia o delírio coletivo. E o delírio ocorreu nada menos do que em uma faculdade, o templo da razão e da sabedoria. Os delirantes não eram loucos internados em um manicômio à espera da medicação ou marujos recém-atracados em um cais após meses em alto-mar. Eram colegas de faculdade inconformados com um corpo insinuante coberto por um vestido rosa. Mas chamá-los de delirantes é encobrir a verdade. Não há loucura nesse caso, mas práticas violentas e intencionais. Esses jovens homens e mulheres são agressores. Eles não agrediram o vestido rosa, mas a mulher que o usava para ir à faculdade.

Não há justificativa moral possível para esse incidente. Ele é um caso claro de violência contra a mulher. Ao contrário do que os censores do vestuário possam alegar, não há nada de errado em usar um vestido rosa curto para ir às aulas de uma faculdade noturna. As mulheres são livres para escolher suas roupas, exibirem sua sensualidade e beleza. A adequação entre roupas e espaços é uma regra subjetiva de julgamento estético que denuncia classes e pertencimentos sociais. Não é um preceito ético sobre comportamentos ou práticas. Mas inverter a lógica da violência é a estratégia mais comum aos enredos da violência de gênero.

A multidão enfurecida não se descreve como algoz. Foi a jovem mulher insinuante quem teria provocado a reação da multidão. Nesse raciocínio enviesado, a multidão teria sido vítima da impertinência do vestido rosa. As imagens são grotescas: de um lado, uma mulher acuada foge da multidão que a persegue, e de outro, do lado de quem filma, dezenas de celulares registram a cena com a excitação de quem assiste a um espetáculo. Ninguém reage ao absurdo da perseguição ao vestido rosa. O fascínio pelo espetáculo aliena a todos que se escondem por trás das câmaras. Quem sabe a lente do celular os fez crer que não eram sujeitos ativos da violência, mas meros espectadores.

Pode causar ainda mais espanto o fato de que a multidão não tinha sexo. Homens e mulheres perseguiam o vestido rosa com fúria semelhante. Há mesmo quem conte que a confusão foi provocada por uma estudante. Mas isso não significa que a violência seja moralmente neutra quanto à desigualdade de gênero. É uma lógica machista a que alimenta sentimentos de indignação e ultraje por um vestido curto em uma mulher. A sociologia do vestuário é um recurso retórico para encobrir a real causa da violência - a opressão do corpo feminino. Não é o vestido rosa que incomoda a multidão, mas o vestido rosa em um corpo de mulher que não se submete ao puritanismo.

Não há nada que justifique o uso da violência para disciplinar as mulheres. Nem mesmo a situação hipotética de uma mulher sem roupas justificaria o caso. Mas parece que uma mulher em um vestido insinuante provoca mais fúria e indignação que a nudez. O vestido rosa seria o sinal da imoralidade feminina, ao passo que a nudez denunciaria a loucura. A verdade é que não há nem imoralidade, nem loucura. Há simplesmente uma sociedade desigual e que acredita disciplinar os corpos femininos pela violência. Nem que seja pela humilhação e pela vergonha de um vestido rosa.

O planeta é o que você come

Os pecuaristas que me perdoem, mas está na hora de começarmos a investir em outras fontes de proteína, além da carne. Não, não estou pregando o vegetarianismo: eu mesma amo um bom bife e não pretendo abrir mão deste prazer, por mais que me lembrem que estou comendo um cadáver. Mas não preciso comer carne no almoço e na janta. E derivados de carne (=presunto, mortadela etc.) no café da manhã e no lanche da tarde. Eu posso variar, em nome do meu prazer gastronômico. Ganho, com isso, um organismo mais saudável, já que são inúmeros os estudos que correlacionam o alto consumo de carne com o aumento do colesterol e com o surgimento de tumores cancerígenos. Agora, sabe-se também que ganhamos um planeta mais limpo.

Cientistas do Banco Mundial recalcularam o impacto da produção da carne sobre a geração dos gases causadores do efeito estufa e chegaram a conclusões alarmantes. Ao contrário dos dados revelados em 2006 pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que na época afirmou que tal impacto era de "apenas" 18% (ou quase um quinto do que é produzido pela ação humana), o novo estudo conclui que a pecuária e seus subprodutos contribuem com, no mínimo, 51% de todos os gases causadores de efeito estufa. Em vez dos 7.516 milhões de toneladas de CO2 equivalentes calculados pela FAO, a pecuária e seus subprodutos geram 32.564 milhões de toneladas de CO2 equivalentes por ano.

Sim, mais da metade dos gases causadores do efeito estufa liberados na atmosfera pela ação humana vêm da produção de carne. Isso significa que mesmo se todas as pessoas do planeta optassem por fontes alternativas de energia, se todas as lâmpadas fossem substituídas por lâmpadas mais econômicas e todos os carros e aviões fossem completamente banidos, os efeitos sobre o clima ainda seriam menores do que se as pessoas parassem de comer carne e escolhessem uma dieta vegetariana.

Nem vou entrar no mérito de questionar se mais uma vez o Brasil não está andando na contramão da história ao lutar para ser o maior produtor mundial de carne. Ou ainda se a bancada ruralista, ao legitimamente defender os interesses de seu segmento, não está na verdade condenando todos nós, habitantes do planeta Terra, a um futuro incerto. E podem ter certeza que nunca, jamais, demonizarei uma churrascaria. Apenas defenderei o direito a um noque ao sugo. A uma batata assada com molho de queijo. A uma pizza de mussarela. E tantas outras opções corriqueiras que dispensam carne. Sem ser chamada de ecochata por isso.
E sem abrir mão do prazer da comida.

A pesquisa está disponível on line no site http://www.worldwatch.org/node/6294
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