Organizações denunciam tentativa dos ruralistas de derrubar Código Florestal

Nove organizações da sociedade civil assinam nota contra a tentativa ruralista de derrubar a proteção às florestas brasileiras. O documento foi divulgado hoje (30/10), quando ocorre, em Barcelona/Espanha, encontro que antecede a Conferência da Organização das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP-15), de Copenhague (Dinamarca), em dezembro próximo, e do qual participa o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Carlos Minc. Leia abaixo a íntegra do documento:

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO QUER DERRUBAR PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS

Em dezembro, o mundo decidirá um novo regime de metas para diminuição da emissão de gases efeito estufa, durante reunião a ser realizada em Copenhague (COP 15 da Convenção do Clima). Nessa reunião o governo brasileiro apresentará como seu grande trunfo um plano para diminuir significativamente o desmatamento no País, principal fonte das emissões nacionais, até 2020. Mas se o Presidente Lula não agir firmemente no âmbito da política interna, esse plano será pura ficção.

Parlamentares ligados ao agronegócio, muitos deles de partidos da base de apoio ao Presidente, estão prestes a conseguir derrubar o Código Florestal, uma lei de mais de quarenta anos que proíbe grandes desmatamentos na Amazônia e obriga ao reflorestamento das áreas excessivamente desmatadas.

Apesar de antiga, essa lei até recentemente vinha sendo precariamente cumprida. Mas, com um melhor aparelhamento dos órgãos de fiscalização e uma maior cobrança por parte da sociedade, houve, nos últimos anos, significativo aumento das punições aos desmatamentos ilegais, o que gerou descontentamento de parte do agronegócio brasileiro que se beneficiava da impunidade. Com grande influência no parlamento, esse setor econômico passou a pressionar pela revogação da lei e pela anistia às ilegalidades já ocorridas, a forma mais simples de se legalizar. O próprio Ministro da Agricultura vem sendo porta-voz dessas propostas, defendendo publicamente que a proteção às florestas seja “atenuada”.

No último dia 28/10 um projeto de lei que anistia os desmatamentos ilegais e diminui o nível de proteção às florestas ainda remanescentes quase foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Apesar de não serem maioria no Congresso Nacional, os parlamentares ligados ao agronegócio contam com a total omissão do Governo Lula para levarem adiante seus projetos. No próximo dia 04/11 haverá uma nova votação e, se o Governo não tomar posição, as probabilidades de que o Código Florestal seja revogado são reais. Não é aceitável que a delegação brasileira em Copenhague leve em sua bagagem a destruição do Código Florestal. Conclamamos o Presidente Lula a atuar firmemente para que um retrocesso dessa envergadura não ocorra!

Assinam:
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
Conservação Internacional / Brasil
GreenpeaceInstituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema)
Instituto Socioambiental (ISA)Programa da Terra (Proter)Rede de ONGs da Mata Atlântica
Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e PazWWF-Brasil

Querida, queimei o planeta!

Veja o que pode acontecer com a Terra caso a temperatura média suba meros 4 graus...





Fonte: http://www.actoncopenhagen.decc.gov.uk/en/ambition/evidence/4-degrees-map/

Lideranças religiosas pedem presença de Lula na CoP15

Iniciativa das organizações não governamentais Vitae Civilis e IDEC, o Diálogo Interreligioso sobre Clima reuniu 14 lideranças religiosas em evento realizado na cidade de São Paulo. Após debates, os participantes redigiram e assinaram uma carta que será entregue ao Presidente Lula, na qual pedem que ele compareça à Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas, agora no final do ano, onde deverá ser ratificado um novo acordo para mitigar as mudanças climáticas. O documento, assinado por representantes de instituições católica, judaica, baha´i, budista, messiânica, presbiteriana, hare krishna, espírita e do candomblé, também pedem que o Brasil assuma posições mais firmes nas negociações.

Reconhecer o sagrado que existe na vida é o que falta nos debates sobre clima”, afirma Rubens Harry Born, coordenador adjunto do Vitae Civilis. “Porque não se trata apenas de uma questão técnico-científica ou político-econômica. Quando falamos de clima, entramos na esfera ética das relações humanas”, completa.

Para o Reverendo Elias de Andrade Pinto, da Igreja Presbiteriana Independente, “nos habituamos com o Sagrado Criador Pai. Agora, é hora de nos abrirmos para o Sagrado Natureza, a Mãe. Na integração entre o Pai e a Mãe, entre o Céu e a Terra, haverá Paz e Vida para todos e todas as gerações. E nós podemos colaborar com esta jornada”.

O Monge Jô-Shinm, da Comunidade Zen Budista do Brasil, lembrou que há 2700 anos Buda passou algumas instruções para seus discípulos antes de morrer: não derrubar nenhuma árvore , não matar nenhum ser e cuidar da Terra.

Para o Padre Tarcísio, da Pastoral Ecológica da Igreja Católica, “o resgate do humano requer o resgate da natureza”. E esta tarefa deve unir a todos: para ele, as diferentes religiões devem se religar para lidar com os novos desafios do mundo moderno. Uma percepção comum a vários dos participantes, que estão analisando a possibilidade de criar um fórum interreligioso permanente para debater as questões climáticas.



A carta ao Presidente Lula:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva,

Vimos solicitar de Vossa Excelência o compromisso com um acordo climático com força de lei em Copenhague que corresponda à urgência de ações de combate às mudanças do clima que já vem trazendo inúmeras catástrofes no mundo todo, inclusive no Brasil.

Cada instante é determinante para assegurar a sobrevivência das atuais e futuras gerações. A Educação de todos, sobretudo no que tange às questões ambientais, é fundamental para as transformações civilizatórias necessárias para proteger a Comunidade da Vida.

Milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive no Brasil estarão sujeitas a efeitos como seca, inundações e até mesmo o êxodo. As populações pobres são as que já estão começando a pagar esta conta: eventos como as inundações ocorridas recentemente em Santa Catarina e no Norte do Brasil já expõem a dramaticidade da injustiça climática. Seu Governo, que já se notabilizou pela defesa dos excluídos, não pode virar as costas a esta tragédia anunciada.

Temos urgência em adotar decisões audaciosas para salvar a Humanidade e o Planeta, quando, em Copenhague, acontecerá a 15a. Conferência das Partes e com isso mitigar as causas do aquecimento global e implementar as medidas de adaptação aos efeitos inevitáveis de mudanças do clima. Trata-se de uma questão ética que transcende fronteiras: mesmo em proporções diferentes, somos igualmente responsáveis por construir uma solução comum.

Todos os governantes devem zelar pela Comunidade da Vida. Os países desenvolvidos devem se comprometer a reduzir as emissões em pelo menos 40 por cento até 2020. O compromisso de redução de emissão nos países desenvolvidos deve ser complementado com o desvio substancial da trajetória de crescimento de emissões de gases de efeito estufa de principais países em desenvolvimento, com a ajuda dos países ricos em disponibilizar recursos adequados, adicionais e mensuráveis, observados os valores de justiça, equidade e sustentabilidade do desenvolvimento humano.

Sem sua presença, a Conferência das Nações Unidas não terá o mesmo peso. Pois hoje o Senhor representa a nação mais importante no mundo dentro do debate ambiental. Graças à extensão da Floresta Amazônica em nosso território, bem como à presença de ecossistemas únicos, como o Cerrado, o Brasil tem potencial para ser pioneiro numa economia inclusiva, que permita a dignidade do cidadão e do ser humano, porém baseada em tecnologias e modos de produção que gerem baixo carbono.

Em nome da ética que permeia este debate, nós abaixo-assinados pedimos que a liderança máxima do Brasil represente e faça cumprir o anseio de milhões de seres humanos por uma vida mais digna. Porque sem um meio ambiente digno não há dignidade humana. Pedimos que Vossa Excelência compareça em Copenhague e proponha um acordo que garanta a vida de milhões de seres humanos, que demonstre o respeito que o Brasil tem por toda as etnias, religiões e diversidade social. Temos uma tarefa de casa a ser cumprida e contamos com seu empenho.

Temos uma oportunidade única de transformação, e passar a ser um país de vanguarda no que se refere a criar mecanismos para um desenvolvimento socioambiental sustentável e igualitário.

Por isso, organizações da sociedade civil e lideranças religiosas da Região Metropolitana de São Paulo, reunidas encaminham este pedido a Vossa Excelência.

Respeitosamente,

Comunidade Baha'i de São Paulo
Comunidade Católica da Cidade de São Paulo Região Leste – Paróquia São Francisco
Comunidade Católica da Cidade de São Paulo Região Sul – Paróquia Santos Mártires – Padre Jaime Crowe
Comunidade Shalom – Rabina Luciana Pajecki Lederman
Comunidade Zen Budista do Brasil – Monge Jô-Shin
Pastoral da Ecologia - Pe.Tarcísio Marques Mesquita
Congregação Israelita Paulista - CIP
Federação Espírita do Estado de São Paulo- Zulmira Chaves Hassesian, Diretora da Área de Ensino
Igreja Messiânica Mundial do Brasil- Reverendo Rogério Hetemanek
Igreja Presbiteriana Independente - Reverendo Elias de Andrade Pinto
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC - Lisa Gunn - Coordenadora
Movimento Nossa São Paulo - Mauricio Broinizi Pereira - Secretário Executivo
Nação Angola - Candomblé
Ramakrishna Vedanta Ashrama de São Paulo (Hinduismo ou Vedanta) - Swami Nirmalatmananda/ Swami Sumirmalananda
Vitae Civilis Instituto para o Desenvolvimento Meio Ambiente e Paz - Percival Maricato - Presidente do Conselho Deliberativo


São Paulo, 28 de outubro de 2009.

Tetra Pak lança portal de educação ambiental para alunos e professores

Mais uma ferramenta para professores e seus queridos alunos trabalharem temas ambientais em sala de aula: a Tetra Pak está lançando o portal http://www.culturaambientalnasescolas.com.br/, que reúne em versão eletrônica todos os materiais já desenvolvidos pela empresa para esses públicos. Afinal, desde 1997 a empresa já realizava o projeto “Cultura Ambiental nas Escolas”, enviando via correio um kit completo com cartilhas, folders, pôster informativo e um filme em DVD para auxiliar os professores. Mais de 40 mil escolas receberam este material nos 12 anos do Projeto e cerca de 6 milhões de crianças foram beneficiadas. O lançamento do portal visa ampliar e facilitar o acesso a esse material já que, segundo o fabricante, cerca de 25% de todas as escolas municipais e estaduais possuem acesso à internet com conexão em banda larga.

Entre as novidades, o portal traz uma área exclusiva para professores, com orientações detalhadas e dicas de como colocar a teoria em prática na sala de aula. Os professores contam ainda comm o apoio de oficinas pedagógicas, realizadas periodicamente, que mostram como os materiais podem ser usados em sala de aula, com sugestões de atividades e troca de informações entre os professores. Com o lançamento do Portal, ocorrerão versões online dessa capacitação a partir do ano que vem. Já na área do aluno, além de informações sobre reciclagem e coleta seletiva, são apresentados vídeos e fotos com detalhes dos processos, e os jovens também podem testar o aprendizado nos jogos interativos.


O Portal de Educação Ambiental é a segunda incursão da empresa na Internet com foco em sustentabilidade. Em 2008 a empresa lançou o site Rota da Reciclagem (http://www.rotadareciclagem.com.br/), o primeiro buscador específico de pontos de coleta seletiva e reciclagem de embalagens longa vida (caixas de leite, sucos, molhos de tomate e outros alimentos). O site conta com a tecnologia do Google Maps para apontar a localização e o contato de cooperativas, pontos de entrega voluntária de materiais recicláveis e comércios ligados à cadeia de reciclagem de embalagens da Tetra Pak pós-consumo em todo o território nacional. Desde sua criação em março de 2008, o Rota da Reciclagem já recebeu mais de 160 mil visitantes e mais de 215 mil buscas por pontos de coleta seletiva. Atualmente cerca de 700 cooperativas e associações de catadores de recicláveis, 600 comércios de recicláveis e 500 PEV's - Pontos de Entrega Voluntária de recicláveis - estão cadastradas no sistema. O Brasil é um dos grandes recicladores mundiais de embalagens TetraPak, com mais de 50 mil toneladas recicladas ao ano. Depois de recicladass, elas podem ser transformadas em caixas de papelão, telhas e placas para construção civil, canetas, vassouras, móveis, etc. Atualmente, cerca de 40 empresas brasileiras reciclam a embalagem da Tetra Pak, gerando empregos e renda em uma cadeia de reciclagem que cresce ano a ano no País.

O aquecimento global que está no seu prato

Olhe para seu prato de comida na hora do almoço e da janta (se quiser, pode pensar também no que come no café da manhã e nos lanchinhos ao longo do dia): você sabe dizer quanto sua comida emite de CO2?

Para responder esta pergunta, o governo da Suécia determinou a medição e a publicação, no rótulo das embalagens de alimentos, da quantidade de dióxido de carbono emitido em sua produção. O motivo? Pequenas mudanças nos hábitos alimentares da população podem ter um impacto tão grande quanto modificações nos automóveis. Um estudo recente estima que cerca de 25% das emissões produzidas por pessoas em países industrializados podem ser rastreadas até a comida que elas consomem. Caso as novas orientações alimentares sejam seguidas, a Suécia poderá reduzir entre 20% e 50% as emissões de gases na produção de alimentos.

A dieta do clima recomenda cenouras em vez de pepinos e tomates, que, por serem cultivados em estufas aquecidas, consomem energia. Carne? Nem precisa de recomendação do governo: alguns suecos afirmam que sentem uma sensação de culpa quando consomem alimentos derivados de gado, segundo matéria da revista Época, que foi a fonte das informações para este texto. Peixes, por sua vez, não estão entre os conselhos da nova dieta, pois as reservas de pesca da Europa estão se esgotando.

Para chegar a essas medições, alguns parâmetros foram modificados. Além dos custos ambientais do transporte de alimentos e de criação de gado, foram incorporados outros fatores, como o tipo de solo usado para cultivar os alimentos, uso ou não de estufas, etc. Obviamente, os produtores suecos estão chiando, mas isso faz parte desta fase de adaptação.

A bancada ruralista bem que podia adotar esta idéia e antecipar-se às tendências. Como um dos maiores exportatores mundiais de alimentos, o Brasil só se beneficiaria se mensurasse as emissões de CO2 da agricultura e se investisse em tecnologias que reduzissem tais emissões.
E aí, Kátia Abreu? Topas o desafio?

24 de outubro

Em 24 de outubro:

* A Organização das Nações Unidas foi fundada, em 1945;

* Foi a "quinta-feira negra" que deflagrou a crise econômica de 1929 (aquela à qual todos os jornais e revistas fizeram referência durante a última crise econômica) e a sexta-feira negra da crise do ano passado (coincidência, não?);

* Começou a Revolução Russa, em 1917 (a que instaurou o comunismo no que costumávamos chamar de União Soviética);

* Getúlio Vargas assume o poder, depondo Washington Luís (que, além de nome de rua e estrada, foi presidente do Brasil no começo do século XX);

* Al Capone foi condenado a 11 anos de prisão por sonegação fiscal (ei, Al Capone, vê se te emenda, assim dessa maneira, nego, Chicago não aguenta!), no ano de 1931;

* O mundo se reúne para exigir que nossos representantes e lideranças políticas cheguem a um acordo decente e efetivo para barrar o aquecimento global, em 2009. Milhões pessoas reuniram-se em lugares emblemáticos, como Central Park (Nova York), Trafalgar Square (Londres), Place de la Concorde (Paris), Ibirapuera (São Paulo) para fazer valer a força política do cidadão. Foram passeios de bicicleta, marchas, concertos, caminhadas, festivais, plantação de árvores, protestos e uma infinidade de manifestações alegres e pacíficas, que expressaram não só o desejo por um mundo melhor, mas principalmente a fé no melhor do ser humano.

No futuro, quando essa história de acordo climático estiver nos livros de História,
que história você contará sobre o 24 de outubro de 2009 para seus filhos, netos, amigos?
Entre em http://www.tictactictac.org.br/ e faça história - inclusive a sua.

Cético? Ainda assim, vale a pena investir em uma economia de baixo carbono

2009 provavelmente entrará para a História como o ano do faroeste ambiental. Com medo de que a lei aperte, todo mundo saiu correndo para defender seu quinhão de riquezas, atuais ou imaginadas: legalização esdrúxula de terras na Amazônia, legislação florestal, mecanismos de compra e venda de carbono, pagamento por serviços ambientais... O bangue-bangue não produz tiros, mas pode ferir de morte vários inocentes. Não precisaria ser assim.

Para justificar o tiroteio, questiona-se a veracidade da tese das mudanças climáticas. Como toda a negociação para uma economia de baixo carbono está fundamentada nas conclusões do UNFCCC, o painel intergovernamental sobre clima das Nações Unidas, que com base em milhares de estudos aceitou a tese de que a ação do homem está afetando o clima da Terra, há quem diga que ciência não é democracia e que o fato de que a maioria dos estudos aponta para a mudança não quer dizer nada. E não quer mesmo: quando Galileu disse que a Terra era redonda, ele era minoria... Os céticos só se esquecem de dizer que ninguém em sã consciência enxerga tais conclusões como definitivas, já que a ciência sempre avança, porém vê nelas indícios suficientes para a adoção de medidas de precaução.

Mas mesmo este debate não precisaria ser assim. Porque todos ganhamos se migrarmos para uma economia de baixo carbono - quer a tese sobre mudanças climáticas seja verdadeira ou não.

O primeiro ganho seria uma maior estabilidade política no mundo. Boa parte dos conflitos existentes assenta-se em barris de petróleo (ou em sua ausência). Redistribuir a produção de energia, pulverizando-a por várias fontes, propiciaria um maior equilíbrio político que favorece uma cultura de paz.

O segundo ganho seria econômico. Sim, eu sei que soa estranho, uma vez que o setor produtivo tem se mostrado bastante arisco com o tema. Parece fazer sentido: a mudança exigirá investimentos em tecnologia, infraestrutura... e para quê mexer no bolso se posso ganhar dinheiro ficando do mesmo jeito? Mas a história é outra: a mudança para uma economia de baixo carbono beneficiaria alguns agentes econômicos e prejudicaria outros – justamente os que hoje são muito grandes, muito poderosos, armados até os dentes com lobbies e políticas de Relações Públicas que arrebatam sorrisos e apoios entre artistas, comunidade acadêmica, imprensa etc.

Um exemplo prático para ilustrar a tese: Petrobrás. Divida-a em várias empresas. Pulverize seu controle. Você concorda comigo que haveria mais pessoas ganhando mais, sendo beneficiadas? Mais empreendedores, mais acionistas, mais funcionários? E que o consumidor também ganharia por não ficar na mão de um fornecedor? Quem perde? Quem está ligado à Petrobrás hoje: seus fornecedores, por exemplo. Mas pense quantos fornecedores não estariam ganhando dinheiro se tivéssemos energia eólica, solar etc. junto com o petróleo da dona Petrobrás. Mais gente ganha, portanto a sociedade como um todo ganha.

Outro ganho de uma economia de baixo carbono seria na saúde dos habitantes dos grandes centros urbanos: abundam pesquisas que relacionam doenças e mortes à poluição dos grandes centros. Sistemas de transporte baseados em fontes que não emitam CO2 evitariam mortes, elevariam a qualidade de vida do cidadão – e reduziriam os gastos públicos com saúde, liberando verba para outras áreas (ou reduzindo a necessidade de tantos impostos, o que elevaria a competitividade das empresas).

Em suma, livrar-nos da total dependência do petróleo, do gás e do carvão é um desafio que vale a pena encarar. E o acordo que as nações ligadas à ONU devem assinar em dezembro em Copenhagen já seria um grande avanço. Por isso, não deixe de participar das manifestações em prol do clima neste sábado, dia 24. Entre no site http://www.tictactictac.org.br/ e cheque onde haverá uma perto de você. Manifeste-se, faça-se ouvido: mesmo que você seja cético em relação às mudanças climáticas, acredite no que você pode ganhar com uma economia de baixo carbono.

Barbárie

Estava eu aqui pensando: vou escrever sobre lixo ou vou falar da violência no Rio?

Tenho um bom motivo para falar do lixo: o Ministério das Cidades acabou de divulgar mais uma daquelas estatísticas falaciosas que fazem a alegria do Governo Federal. Com base em 306 municípios que representam 55% da população urbana, eles concluíram que a cobertura média de coleta de lixo nas cidades pesquisadas é de 90%; já a coleta seletiva está presente em 56,9% dos municípios da amostra, que inclui todas as capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes.

Incrível como a percepção de realidade muda, dependendo se o observador é o governo ou a iniciativa privada: no começo deste ano, na Ecogerma, assisti a uma palestra do representante da empresa alemã São Judas Ambiental (eu também estranhei quando se apresentaram assim, mas devem ter traduzido o nome), a qual dizia que 90% dos 5,5 mil municípios brasileiros têm menos de 50 mil habitantes e não possuem qualquer tipo de serviço de coleta de lixo.

Ou seja, considerando-se que ficaram de fora justamente as localidades menos envolvidas com o tema (seja por menor pressão da sociedade, porque o lixo ainda não se tornou um tema tão crítico como nos grandes centros ou por orçamento público mais restrito), certamente estes percentuais seriam bem menores se a amostragem se desse ao trabalho de incluir o Brasil real, e não só o dos grandes centros. Achei que a realidade do Sul Maravilha só dominasse a novela das oito, oops, das nove. Me enganei.

Com base na amostragem Alice-no-País-das-Maravilhas, o Ministério das Cidades anunciou que 64% do lixo coletado vão para aterros sanitários, 26,6% são levados para aterros controlados e apenas 9,5% dos resíduos ainda vão para os lixões. Mas nem no Brasil-Maravilha da pesquisa há o que comemorar: 46% dos aterros catalogados não têm qualquer tipo de licença ambiental e a quantidade média de material reciclável recuperado é de 3,1 quilos por habitante por ano, menos de 1,5% do que seria possível reaproveitar.

Foi quando pensei o quanto esta situação é bárbara (= de barbárie, o oposto da civilização). Lembrei-me que no ginásio (acho que hoje isso se chama segundo ciclo do ensino fundamental, se não me engano) li um livro sobre história medieval que relatava como os medalhões usados como jóias eram perfurados para conter dentro folhas aromáticas ou tufos de tecido com perfume – para que seus portadores pudessem levá-los ao nariz sempre que passassem por algum monte de lixo que invariavelmente ficava na rua ou do lado de fora da janela das casas. Em outras palavras: a humanidade tem traquejo com a questão do lixo. Sabe que fede, que causa doenças... e ainda assim insiste em varrê-lo para debaixo do tapete, fingindo que o problema não existe.

Aí foi impossível não lembrar do Rio de Janeiro. O conflito no Morro dos Macacos é igualmente bárbaro: o saldo de mortos de domingo até hoje, terça, é de 25 vítimas. O número de feridos no coração, na alma, na vida é incalculável – vai dos que são afetados diretamente aos que assistem às imagens pela televisão. Trai, como no caso do lixo, um descaso absurdo por parte do governo e da sociedade – que por décadas insistiram em varrer o problema social para o morro, longe da praia e das áreas habitadas pela classe média. Ao tratar pessoas como lixo transformaram algumas delas em uma substância que hoje dificilmente consegue ser reaproveitada ou reciclada. Aliás, sequer há uma estação de reciclagem humana decente: as prisões brasileiras não foram concebidas para recuperar, mas para isolar. Quebrado o isolamento, graças à telefonia celular, o que expurgado foi volta na forma de barbárie, numa perfeita analogia, em escala social, da sombra junguiana ou do recalque freudiano.

E como o Brasil é o país da piada pronta, o apelido do suposto mandante das ações que se provaram estopim desta guerrilha urbana, Fabiano Atanázio, não é FA, mas FB...

24 de outubro: Dia Nacional de Adesão ao abaixo assinado para um clima saudável e seguro

Informe-se no site http://www.tictactictac.org.br/ sobre os eventos que acontecerão no dia 24 de outubro. Ou organize o seu! Escolha um local com um significado especial para você e sua comunidade: uma praça, parque ou praia que você quer proteger das mudanças climáticas. Use a sua criatividade para reunir e motivar o público. Passeios de bicicleta, marchas, concertos, caminhadas, festivais, plantação de árvores, protestos, e mais acontecerão no mundo inteiro. A idéia é que as ações se relacionem com milhares de outras ações em todo o planeta para que a mensagem do dia 24 de outubro seja poderosa: o mundo precisa das soluções climáticas que a ciência e a justiça exigem. Até o presente momento estão registrados 2252 eventos em 152 países. O tempo passa, o clima não está numa boa. Participe e reúna assinaturas para o abaixo assinado que visa deixar claro para nossos representantes que queremos um futuro viável para nós e nossos descendentes. Até agora, mais de 1,47 milhão de pessoas no mundo inteiro assinaram a petição da campanha. Precisamos de mais assinaturas!

Agora, se seu lance é mais, digamos, virtual, se o mundo offline não faz sua cabeça, não tem problema: levante sua voz no YouTube. O mais popular site de compartilhamento de vídeos criou uma área específica para você subir seu material sobre o tema. O vídeo mais interessante será exibido na conferência da ONU em Copenhagen, agora no final do ano.

Online ou offline, você faz a diferença!

Queima do lixo no Brasil pode gerar 300 MW de energia em cinco anos

O Brasil pode gerar 300 MW de energia com a incineração de 12.000 toneladas de lixo ao dia, de acordo com uma tal de Pöyry, multinacional da área de consultoria e engenharia especializada na área de energia. Ok, eles estão defendendo o negócio deles. Mas sabe que eu acho que os caras têm razão? Desde que comecei a ter mais informações sobre o lixo - graças, em grande parte, aos artigos do Washington Novaes - percebi que não faz sentido jogar o lixo no lixo: lixo é matéria-prima que pode reentrar na cadeia produtiva ou massa que pode gerar energia. Obviamente isso não é feito até agora por causa do custo. Mas como está ficando cada vez mais caro ter um descarte decente de lixo e como o volume que jogamos fora todos os dias já propicia uma escala favorável à redução de custos, pode ser que em breve lixo seja business as usual.

O Brasil gera atualmente 170.000 toneladas de lixo/dia, dos quais aproximadamente 70% vão para lixões não controlados e apenas 30% vão para os aterros sanitários ou controlados. Segundo a tal da Pöyry, se 10% desse total de lixo for queimado em usinas com tecnologia de ponta na área ambiental seria possível gerar energia suficiente para abastecer uma cidade de 1 milhão de habitantes e também evitar a emissão de aproximadamente 10.000 toneladas de CO2 equivalente/dia.

Apesar dos benefícios para o meio ambiente, os avanços tecnológicos da queima do lixo são pouco conhecidos no mercado brasileiro, e a legislação ainda é tímida porque só regulamenta os aterros.

Blog Action Day: mudanças climáticas

Hoje é o Blog Action Day. Mais de 10 mil blogueiros de todo o mundo, inclusive eu, comprometeram-se a postar sobre o tema Mudanças Climáticas. Trata-se de mais uma ação que visa alertar a sociedade e seus representantes sobre a urgência de se chegar a um acordo em dezembro, na conferência das partes da ONU, para minimizarmos as mudanças climáticas esperadas para as próximas décadas.

Não custa fazer um breve histórico da situação: a descoberta do motor provocou uma revolução na história da humanidade - pela primeira vez em milênios a produção seria gerada não mais por músculos (humanos ou animais). As fontes de energia, abundantes e baratas, foram o petróleo, o carvão e o gás, cuja queima gera energia... e CO2. Décadas e décadas de poluição na atmosfera fizeram com que o nível desse gás atingisse patamares acima dos historicamente conhecidos. Como o CO2 tem relação direta com a temperatura do planeta, a comunidade científica achou por bem alertar para o risco de termos mudanças no clima provocadas pela ação do homem pela primeira vez na história do planeta.

Toda unanimidade é burra. Portanto obviamente existem os que contestam esta teoria. Mas como ninguém está a fim de pagar para ver se é verdade ou não, oficialmente todos querem adotar a postura preventiva: sociedade civil, governos, setor produtivo... Oficiosamente, a história é outra: como todos vivem a pressão do curto prazo (governantes eleitos, executivos de empresas), poucos querem comprometer investimentos ou resultados por conta de uma história que não é 100% comprovada e cujos efeitos podem não me atingir agora! Porque essa é a dura realidade: quem é mais afetado pelas mudanças climáticas são as pessoas mais pobres, que habitam áreas de risco, e as nações mais pobres, que estão no cinturão ao redor do Equador, onde o aumento da temperatura será mais sentido. Quem decide muitas vezes está cercado pela estrutura dos Estados de bem-estar social, tem renda para contornar eventuais problemas - e pode nem viver para senti-los na pele (própria ou do outro!). Muitos dos efeitos das mudanças climáticas poderão só ocorrer ao longo das gerações futuras.

O resultado você pode ler nos jornais ou na internet: negociações travadas para a conferência da ONU. EUA e União Européia que não se entendem. No Brasil, uma política de esquizofrênicos: de um lado o Ministro do Meio Ambiente, Celso Ming, comemorando que o país tem metas arrojadas etc etc. Do outro, a candidata do governo, Dilma Roussef, pedindo revisão das metas porque diz que não vai sacrificar o crescimento econômico em prol do ambiente.

Nem ela, nem ninguém.

Existe uma falácia nessa história toda que está na raiz da discordância entre ambientalistas (os que querem preservar o meio ambiente) e desenvolvimentistas (os que querem o desenvolvimento econômico). Ela consiste na crença de que o mundo é estático. Do lado dos ambientalistas, isso leva à defesa da preservação das coisas como estão - o que é antinatural, pois o universo muda desde o BigBang! Ou seja, a saída não é congelar, porém mudar junto. Do lado dos desenvolvimentistas, por sua vez, a crença é que o atual modelo produtivo (não econômico, veja bem) é definitivo. Qualquer ameaça a este modelo seria uma ameaça à atividade produtiva, ao crescimento econômico e ao bem estar do ser humano (que precisa de emprego e renda para viver). Não é verdade: pesquisa e tecnologia podem mudar o modelo produtivo da pecuária, da indústria e da silvicultura - sim, precisamos pesquisar a Amazônia, e muito!, para saber como explorá-la de forma sustentável. Precisamos parar de criar complexos raciocínios e teorias baseadas em um preconceito irracional contra a atividade econômica, contra o capitalismo, contra o lucro. Lucro nunca foi problema; prejuízo, sim! Ninguém reduz a desigualdade social acabando com o lucro, mas acabando com a perda, com o prejuízo, com a falta de acesso a capital.
O viés moral também emperra qualquer tentativa de um acordo na medida em que coloca a questão das mudanças climáticas como uma opção da consciência. Aí, amigo(a), danou-se: tem mais de dois mil anos que a Igreja (qualquer igreja!) fala para não pecarmos e continuamos pecando - por que iríamos virar santos agora só porque alguma ONG ou o Al Gore resolveu pregar sobre sustentabilidade? Pressionar nossos representantes para que cheguemos a um acordo eficiente que possa realmente reverter a atual tendência de alterarmos, pela atividade econômica, o clima da Terra, não é uma questão de bom mocismo. Não se trata de salvar o planeta. É business as usual, darling. Por menos nobre e charmoso que isso pareça.

Para o dirigente de uma empresa ou país, é importante antecipar-se às mudanças climáticas, tentando revertê-las, por uma questão de risco: risco do investimento, risco de governabilidade. Ponto. E sustentabilidade não é um pilar de marca, pelamordeDeus, mas uma forma de gestão pela qual governos e empresas começam a contemplar em seus modelos de administração questões que antes não eram consideradas. E fazem isso para pesquisar, para conhecer, para testar... e descobrir novas formas de lidar com esses problemas antes que eles simplesmente virem um imperativo (da lei ou, pior, da natureza) a ser cumprido. Apenas para ilustrar: lixo era algo que se jogava fora até alguns anos atrás. Lixo, hoje, é um problema de gestão pública - precisa ser administrado, ter custos compatíveis, logística viável etc. etc. Para as empresas, lixo pode se tornar uma questão de logística reversa, como ocorreu com a indústria de pneus (que teve que engolir, goela abaixo, sem maionese, o ônus de recolher os pneus usados e lhes dar um destino correto).

Para você que me lê, sustentabilidade vai ser um novo modo de vida: uma nova maneira de consumir (porque custos que hoje não são repassados para você, consumidor, o serão no futuro), de se preparar para o mercado de trabalho (pois surgirão novas profissões, novos mercados, nova oportunidades) e de exercer sua cidadania: poucas questões explicitam tão bem que somos todos habitantes de um mesmo planeta, e não de um ou outro país, como o clima.

Neste Blog Action Day, peço a quem me lê que passe a encarar a questão das mudanças climáticas mais com os pés no chão do que com a cabeça nas nuvens. Idealismo é bom e sem ele a humanidade não vislumbra novos horizontes! Mas sem pragmatismo não caminhamos.

Imigrantes

Sou filha de portugueses, que se mudaram para o Brasil na década de 50 e aqui fizeram a vida, pagando impostos para o Estado, gerando empregos e deixando filhos para esta pátria. Por isso, não posso deixar de sentir uma certa indignação ao saber que em todo o mundo crescem as barreiras antimigrantes, como mostra o último Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Embalada pela crise econômica, a pressão popular em diversas nações clama por maior controle na entrada de estrangeiros e por incentivos para que os imigrantes retornem a seus países de origem. O curioso é que vários dos países que hoje querem fechar suas fronteiras cresceram justamente graças à imigração. E não me refiro apenas às nações da Europa que sugaram os recursos de suas colônias e para elas enviaram quem não tinha oportunidades locais. Falo também de países como EUA e Brasil, cujo desenvolvimento tanto deve aos imigrantes. Pois bem: esse mesmo estudo mostra que 43% dos brasileiros são a favor de limitar ou proibir a imigração, enquanto outros 45% dizem que o Brasil deve “permitir que as pessoas cheguem desde que haja empregos disponíveis”. Apenas 9% acreditam que se deve permitir a entrada de qualquer pessoa que deseje imigrar ao país.

Falar de gente é sempre muito mais difícil do que falar de urso polar ou aquecimento global. Mobilizam-se milhões para “salvar o planeta”. Porém confrontadas com dados sobre pobreza, as pessoas mudam de assunto e vão saindo de fininho... Pior: na hora H, como na crise econômica, não hesitam em excluir os mais pobres, ao invés de exigir uma solução includente, que beneficie todos. Assim como desenvolvimentistas acreditam que o crescimento econômico é mais importante que a preservação do ambiente, também a “opinião pública” acha que incluir o outro significa perder algo que tenho. E nessa bola dividida, quem toma canelada é quem tem menos poder (político ou econômico). As restrições à imigração já fazem com que os países de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) sejam os que menos recebem remessas de nativos vivendo no exterior. Ao todo, apenas 0,78% do volume total de US$ 370 bilhões enviados por imigrantes vai para esses países. Nações de médio IDH ficam com 51% das remessas e as de IDH alto e muito alto, com 48%. Na prática, isso significa que na Etiópia, o país de baixo IDH que mais recebe remessas do exterior, entraram US$ 359 milhões em 2007, apenas US$ 4 per capita. Já na França, país com oitavo maior IDH, ingressaram US$ 13 bilhões no mesmo período, US$ 223 per capita.

Segundo o PNUD, o envio de dinheiro de um imigrante para seu país de origem é considerado um instrumento importante para melhorar as condições de vida nas áreas pobres. Em El Salvador, as remessas representam 18% do PIB (Produto Interno Bruto), nas Filipinas, 11%, em Bangladesh, 9% e no Egito, 6%. Na Moldávia, onde as remessas representam 45% do PIB, a queda deve chegar a 10% neste ano. Uma das razões para isso é que os habitantes de países de baixo IDH têm menos condições de emigrar e de conseguir emprego em outros locais pelo alto custo financeiro da mudança. Por consequência, quando eles migram é para países da mesma categoria (41%) ou para nações de médio IDH (40%).

Os que conseguiram migrar, por sua vez, são os que mais estão sofrendo com a crise. Trata-se de uma discriminação institucionalizada: nos Estados Unidos, o pacote de estímulo a recuperação econômica para empresas previa que elas reduzissem o número de estrangeiros contratados; a Austrália anunciou que pretende reduzir em 14% a admissão de trabalhadores de outras nacionalidades e no Reino Unido os pedidos de seguro saúde para imigrantes caíram 25% desde o início da recessão. Segundo o RDH, o desemprego provocado pela crise deve afetar mais os imigrantes que os nativos, porque os imigrantes frequentemente são trabalhadores menos qualificados e estão empregados em alguns dos setores mais afetados pela crise, como construção civil e os setores financeiro, imobiliário e hoteleiro.

Apesar da rejeição, a migração tende a ser cada vez mais vantajosa para os países ricos por causa do envelhecimento da população. Diz o estudo: “Estamos entrando num período em que uma maior migração em direção aos países desenvolvidos beneficiará não só os migrantes e as suas famílias, mas será cada vez mais vantajosa para as populações dos países de destino.” Em 2050, estima o estudo, os países desenvolvidos terão 71 pessoas em idade inativa para cada 100 pessoas em idade de trabalhar.

A migração é parte intrínseca da história e do desenvolvimento humano desde antes de nos constituirmos como Homo sapiens. Hoje quase 1 bilhões de pessoas – ou uma em cada sete – são migrantes. Em algum momento de nossa história familiar houve um (ou mais) migrantes. Voluntaria ou involuntariamente, a diáspora é parte integrante de nossa cultura. Não é por acaso que textos sagrados de mais de uma religião atribuem tamanha importância à hospitalidade. Seja no deserto, em Calais, na fronteira do Texas ou em Cumbica, ela é sagrada.

Al Gore na Fiesp

A palestra daquele que ficou conhecido como o próximo presidente dos Estados Unidos, como o próprio gosta de se apresentar, foi uma versão editada e sem slides de Uma Verdade Inconveniente (não assistiu? veja aqui!) com alguns subtemas específicos da realidade brasileira. Pedindo desculpas por falar de problemas brasileiros sem ser um brasileiro, Gore tocou no tema das queimadas. Ele fez questão de enfatizar que, em termos globais, as queimadas respondem por pouco mais de um quarto das emissões. Que a indústria ainda é a principal emissora. Porém que essa questão precisa ser enfrentada pelos brasileiros, que já contam com uma matriz limpa. Sempre lembrando que seu país, os Estados Unidos, tem muito mais a fazer, e que assuntos de Brasil são de responsabilidade dos brasileiros, ele chamou a atenção para o valor da Floresta Amazônica do ponto de vista da biodiversidade, prevendo que no futuro biotecnologia será uma indústria tão valiosa como a do petróleo é atualmente. “Vender a floresta pelo preço da madeira é como vender um computador pelo preço do silício que ele possui”, comparou.

Falando de oportunidades de negócios em uma economia de baixo carbono, Gore lançou a idéia de incluir, nos acordos que serão firmados em Copenhagen no final deste ano, a carbonização do solo. Segundo ele, técnicas milenares, como as utilizadas por alguns povos da Amazônia para produzir a chamada “terra preta” (queimando e enterrando material orgânico) podem seqüestrar carbono e deixar o solo ainda mais produtivo. Ele também destacou o potencial da indústria automotiva brasileira, com base no carro flex, e elogiou o programa brasileiro de produção de etanol – que, segundo ele, foi incluído em seu mais novo livro, Our Choice, a ser lançado dentro de três semanas (e convenientemente antes da CoP15). Também destacou o agribusiness nacional, que conseguiu um aumento de produtividade quatro vezes maior que o registrado no restante do mundo entre 1970 e os dias de hoje.

Demonstrando otimismo em relação à CoP15 – um otimismo pragmático, diga-se de passagem, com base no “mais vale um acordo que acordo nenhum” – Gore fez o mea culpa sobre a lentidão dos EUA no trato das questões climáticas. Ele explicou sobre as pressões do eleitor, preocupado com seu emprego (ainda mais em tempos de crise econômica) no meio do debate sobre meio ambiente. Um medo fundamentado no fato de que os EUA já perderam milhões de postos de trabalho para países menos rigorosos com direitos trabalhistas e legislação ambiental. Por isso, ele reforçou mais uma vez que acredita, sim, no conceito de responsabilidade comum, porém diferenciada, desde que cada um assuma a sua parte. Ao responder sobre a lei em tramitação no Congresso Americano, que propõe uma redução de apenas 4,5% nas emissões de CO2 naquele país até 2020 em relação aos níveis de 1990, Gore disse que o importante é colocar um preço no carbono - isso precipitará o restante do processo de redução e controle.

Assim como em Uma Verdade Inconveniente, Gore credita à falta de vontade política o pouco avanço nas questões ambientais. Porém vontade política, como ele mesmo gosta de repetir, é um recurso renovável.

Do que gostei


Quando ele falou na mudança de mentalidade da nossa época, que favorece um foco excessivo no curto prazo. Ele comentou que pesquisas com executivos americanos mostraram que eles não conseguem aprovar investimentos benéficos no futuro que exijam sacrifícios, mesmo que pequenos, no presente. Rever a noção de tempo – e, por consequência, de expectativa – é fundamental para avançarmos em direção a pensamentos e práticas mais sustentáveis.

Dia das crianças

Não tenho filhos, portanto não tenho o acesso cotidiano ao universo infantil. Surpreendo-me quando algum amigo meu vem compartilhar suas dúvidas sobre qual a melhor escola para sua filha - e eu não tenho uma resposta decente a oferecer. Mesmo em tempos de Enem surrupiado e tantas notícias sobre o nível educacional, esse é um assunto que não integra minha agenda naturalmente.

Mas a infância volta e meia bate à minha porta. Seja num comentário de outro amigo sobre como esta fase, junto com a adolescência, é a mais difícil da vida (tantas decisões a serem tomadas! tão pouco preparo emocional e psicológico para isso!), seja ao olhar o calendário e ver que hoje é o Dia da Criança! Não, não vou elencar as estatísticas da ONU sobre mortalidade infantil, trabalho infantil, má-nutrição infantil... Tampouco vou falar das matérias que li em O Estado de S. Paulo sobre o aumento do número de jovens que vai parar na Fundação Casa (ex-Febem) por causa de furto de celulares e tênis - mesmo motivo que leva jovens a se prostituirem, segundo matéria publicada nesse mesmo jornal. Não vou xingar publicitários e marqueteiros por sua irresponsabilidade ao eleger as crianças como alvo de suas ações em prol do consumo. Nem os que participam (e incentivam) a exploração sexual infantil, alimentando a fantasia de que, no fundo, elas querem (transferindo culpa num processo neurótico que perpetua a crueldade).

No dia das Crianças, quero falar de Amor. Não o amor dos presentes, mas o amor de Estar Presente. De brincar e conversar. Tocar a pele num carinho ou numa brincadeira de pega-pega (peguei!). De ler livros à noite na cama, imagem batida, mas tão gostosa... De fazer tricô juntas como duas velhinhas numa tarde fria. De enfiar a mão na massa feita de farinha e ovos e criar algo que só quem participa do processo sabe: é um biscoito, apesar da aparência! De ganhar nos jogos de cartas e nem desconfiar que me deixaram ganhar...

Quero falar de passeios pelo meio do mato, de banho de mangueira no quintal, de uma bacia grande cheia d´água no verão... e o tanque de roupa! Como era bom entrar no tanque de roupa e abrir a torneira! Lembro de meu pai num lado da sala, minha mãe no outro, jogando uma bolinha de plástico fuleira... mas que eu adorava! Água e sabão no balde, batidos até virar pura espuma. Havia até competição com as amigas para ver quem conseguia fazer mais espuma primeiro! E meu castelo de princesa, embaixo da mesa... qualquer mesa...

Cantiga de roda (ao som dos Beatles), queimada na rua, pega pega, esconde esconde, bolinha de gude, amarelinha...

Minha família não tinha dinheiro, mas tinha amor e criatividade: eu nem percebi se faltou alguma coisa!

Copenhagen e Auschwitz

Hoje é o último dia da conferência de Bangkok - mais um dos encontros preparatórios para a CoP15, a tão esperada conferência das Nações Unidas que deverá definir o que acontece depois de 2012, quando se encerra o prazo de validade dos atuais compromissos com a redução dos gases de efeito firmados por meio do Protocolo de Kyoto. Tem muita coisa em jogo. Países que não têm metas de redução mas que são grande poluidores, como China, Índia e Brasil, estão sendo pressionados a assumir metas. Estes, por sua vez, argumentam que quem polui há mais tempo (= países desenvolvidos) devem não só ter metas mais agressivas como também ajudar as nações em desenvolvimento a alcançar suas metas por meio da transferência de tecnologia e pelo aporte de recursos financeiros. Novos mecanismos financeiros, como o pagamento para se manter a floresta em pé (REDD), têm potencial para redesenhar algumas economias. Não por acaso, esses encontros se tornam frustrantes: o processo democrático, por meio do qual todos opiniam e participam, já é lento por si só - junte a isso uma miríade de lobbies de diferentes setores (econômicos, políticos, sociais) e o banho-maria está criado! Tudo cozinha muuuuito lentamente. As organizações não governamentais ligadas à questão ambiental bem que tentaram: enviaram observadores, organizaram protestos, pressionaram por meio da imprensa... Mas o saldo desse encontro foi o bom e velho "empurrar com a barriga" - para Barcelona, que é onde acontece a próxima reunião preparatória, e para Copenhagen. Só que a ONU só decide por consenso - e dificilmente será possível chegar a um consenso em Copenhagen se não houver um arremedo de consenso antes. E o que se vê a cada dia é mais discórdia, mais picuinha - e um número cada vez maior de lobbies contrários a qualquer medida drástica de controle das emissões dos gases de efeito estufa.

Talvez no futuro esse processo seja usado para ilustrar como funciona a irracionalidade humana. Porque sobrepor interesses individuais aos coletivos vai levar todos nós a uma situação que prejudicará inclusive quem defendeu seus próprios interesses. Portanto, além do viés individualista há, acima de tudo, o foco no curto prazo. Mas ainda assim pode-se questionar porque para indústrias de base, por exemplo, os planos econômicos são feitos dentro de um horizonte de no mínimo 10 anos. Ou seja, 2020 é presente para eles! A questão não é o tempo, mas a racionalidade técnica que é empregada na construção dos argumentos e dos cenários e que dá uma sensação de sensatez ao insensato. E não é porque essas pessoas não estejam "acessando seus sentimentos", para usar uma expressão grata aos alternativos. É porque não há uma crítica sobre os fins quando os meios são supostamente racionais. E da mesma forma que os ambientalistas se cercam de estudos que mostram o aquecimento, quem está contra (que não são só empresas, veja bem - há setores governamentais que também estão se movimentando) contratando especialistas e estudos que dão racionalidade a seus argumentos. Mais que empoderados (= cheios de poder), todos passam a se sentir enrazonados (= cheios de razão, nos diversos sentidos da palavra). Ninguém quer acabar com a humanidade ou o planeta ou as próximas gerações intencional ou conscientemente. Todo mundo acha que tem razão. E tem: razões técnicas. Racionalidade dos meios. Irracionalidade dos fins. Sabe o nazismo? Quando se usavam técnicas e pesquisas científicas para provar a superioridade de uma raça sobre a outra? E, depois, para criar métodos eficientes de eliminação das raças ditas inferiores? Pois é... Parece que não aprendemos a lição.

Copenhagen corre o risco de repetir Auschwitz.

Empresas dão a cara a bater e divulgam publicamente quanto jogam de CO2 no ar

Transparência é tuuuudo de bom e tem que ser incentivada. Por isso, dou os parabéns às corporações que hoje deram a cara à tapa apresentando seus inventários de emissões dos gases causadores do efeito estufa durante o lançamento oficial do programa Empresas Pelo Clima, em parceria com a FGV.

Inventário é o termo técnico para o levantamento que as empresas fazem para saber o quanto estão jogando na atmosfera de gases causadores do efeito estufa (o gás carbônico é o mais conhecido, mas tem também metano, NOx, SOx etc.). Esse levantamento é fundamental para qualquer trabalho sério de redução: é preciso saber o tamanho do problema para depois checar se as ações de mitigação (=diminuição) das emissões foram ou não bem sucedidas.

As emissões desse grupo são referentes a 2008 e representam 3,8% daquilo que o Brasil emitiu no ano de 2005 (últmo ano com dados consolidados disponíveis). Excetuando os gases-estufa originados do desmatamento e das mudanças no uso do solo, o porcentual sobe para 8,5%.

O ranking só tem pesos pesados da indústria - porque para emitir muito, tem que ser grande. A lista é liderada pela toda-poderosa Petrobrás salve-salve!!! A fofa jogou cerca de 51 milhões de toneladas de CO2 no ar. Obviamente esse número não computa o que sai dos escapamentos de carros, ônibus, caminhões e tratores que utilizam os produtos da gradiosíssima salve-salve Petrobrás! Em seguida vem a Votorantim, com 18 milhões de CO2e emitidos, e a Alcoa, com 2 milhões de CO2e. Ambas possuem programas sérios que visam reduzir o impacto social e ambiental de suas atividades - algo que não posso falar daquela-que-não-deve-ser-mencionada. Os detalhes dos inventários estão disponíveis no site da FGV.


Empresas pelo clima

O programa Empresas Pelo Clima, coordenado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces, é uma plataforma empresarial permanente que visa criar as bases regulatórias no processo de adaptação econômica às mudanças climáticas no país. Traduzindo: como mudanças serão inevitáveis de 2012 em diante, com a revisão das metas do Protocolo de Kyoto que deve sair no final do ano, na COP15, esse grupo está se antecipando. Motivo: sai mais barato antecipar tendências do que custear a adaptação depois. (parênteses: o GVCes consolidou-se como "o" ponto de referência em sustentabilidade empresarial; eles passaram o CEBDS para trás em termos de iniciativas e visibilidade!)

Ao aderir ao EPC, as empresas se comprometem a fazer inventários anuais das emissões de gases que afetam o clima a partir da metodologia definida pelo GHG Protocol. Das 27 empresas que elaboraram seus inventários, 10 conseguiram cumprir todas as diretrizes do Programa Brasileiro GHG Protocol logo no primeiro ano. São elas: Alcoa, Ambev, Anglo American, CESP, CNEC, Embraer, Ford, Natura, Suzano Papel e Celulose e Votorantim. Cinco empresas optaram por não publicar seus dados neste ano. Mesmo assim, o total de emissões diretas dessas companhias já está computado no número global divulgado nesta quinta-feira.

O fim do mundo deve estar perto...

Estou quase com vontade de sair pelas ruas gritando "arrependei-vos" porque certamente o fim do mundo não vai demorar a chegar. Sinal inequívoco é o fato de que hoje eu dei razão para a Kátia Abreu, a senadora do Tocantins que lidera a bancada ruralista no congresso nacional. Ela quer abrir uma CPI sobre o MST - e eu concordo! As cenas da invasão da fazenda da Cutrale, no interior de São Paulo, quando os manifestantes derrubaram pés de laranja com um trator foram chocantes! Para quê destruir? Suponhamos que a justiça desse ganho de causa para o MST e eles pudessem ocupar a área: não seria melhor contar com os pés de laranja para ganhar unzinho no final da safra?

A ação radical do MST é apenas mais uma de várias outras que envolvem o próprio movimento, os ruralistas, os ambientalistas e nós, seres urbanos. A cisão entre Dois Brasis, concebida como separação entre os que têm e os que não têm, ganham outro contorno: o conflito entre cidade e campo. Conflito desnecessário, diga-se de passagem, uma vez que são tribos simbióticas, vivendo uma do que a outra produz. Sim, seres rurais, não somos só nós, urbanos, que nos alimentamos da comida que vocês produzem: vocês prosperam graças aos produtos e serviços que nós criamos e desenvolvemos. Estamos em constante e viva relação comercial - por que não levar essa interação (e, por que não?, cortesia) para os demais níveis do relacionamento?

Faz-se necessária a adaptação da atividade agropecuária às novas exigências de preservação ambiental. Por outro lado, não podemos deixar todo o ônus dessa preservação para essa parcela da população. Criar leis que retroagem, criminalizando produtores que, muitas vezes, agem de boa fé e com boa intenção, é inviabilizar uma solução democrática e consensual. A injustiça, alegada pelos produtores, torna-se ainda mais doída quando não se vê igual empenho para combater o desmatamento das terras que ainda não foram postas dentro do sistema produtivo.

Mas a questão agropecuária no Brasil engloba também esse componente que ninguém quer ver: a reforma agrária. É por tentar ignorar o tema que movimentos como o do MST vicejam. Não dá para pensar que não precisamos de reforma agrária. É óbvio que precisamos! Mas uma reforma feita democraticamente, ou seja, dentro das instituições - e não pela força da foice ou do trator destruindo unidades produtivas.

Kátia Abreu tem razão: façamos a CPI do MST para investigar o movimento. E ao investigá-lo, tenhamos coragem de ver que, no fundo, ele nasce de uma demanda justa (embora expressa de forma equivocada). Encaremos os problemas de frente, de forma integradora, sabendo que o conflito de interesses é inevitável, mas o consenso sempre é possível. Foi para isso que a política foi inventada. A boa política.

Seminário Brasil e Mudanças Climáticas

Programa da Globo News com os melhores momentos desse debate, que reuniu empresários de peso como Roger Agnelli (Vale), José Penido (VCP), Guilherme Leal (Natura), além do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Ilustrado com reportagens muito interessantes. Vale muito a pena assistir!


Copenhagen e Copenhagen

Se não formos corajosos na Conferência do Clima da ONU, no final do ano, as Olimpíadas podem ser jogos sem vencedores

5 de agosto de 2016. Milhares de pessoas protagonizam a cerimônia de abertura da 31ª. edição das Olimpíadas, transmitida para todo o planeta a partir do Rio de Janeiro. Foram anos de investimento, planejamento e muito trabalho para que a escolha feita no dia 2 de agosto de 2009 em Copenhagen tivesse um desfecho feliz. Mas uma outra escolha, também em Copenhagen, também em 2009, mudou tudo. Foi em dezembro, quando delegações de todos os países-membros da Organização das Nações Unidas se reuniram para deliberar sobre a continuação do Protocolo de Kyoto. O objetivo oficial era reverter a então tendência de aquecimento global provocada pelos altíssimos níveis de emissão dos gases que provocam o efeito estufa, notadamente o gás carbônico oriundo da queima de combustíveis fósseis. Oficiosamente, no entanto, ocorreu a III Guerra Mundial: uma guerra diplomática, de palavras e manobras, aparentemente sem vítimas fatais. Ledo engano: na abertura das Olimpíadas de 2016 já se conhecem as primeiras vítimas do confronto.

Se em outubro Copenhagen sediou uma decisão, em dezembro ela foi palco da mais fatal indecisão da história da humanidade. Cindidos por interesses conflitantes entre desenvolvimentistas e ambientalistas, os negociadores não avançaram o suficiente e fecharam um acordo de fachada. Alguns acharam que não havia problema; outros, que estavam empurrando para as futuras gerações o ônus de resolver o problema. Mais um engano: a partir de um determinado momento, não há volta e as futuras gerações ficam alijadas de alcançar qualquer solução. É o que se começa a ver na abertura das Olimpíadas, apesar de todo o esforço do governo brasileiro e do Comitê Olímpico Internacional para que o evento transmita uma aura de sucesso e de tranqüilidade.

Mas o mar já começa a roubar parte da orla do Rio de Janeiro que, assolado por ondas de calor cada vez mais longas e intensas, já perdeu parte da Floresta da Tijuca. Chuvas fora de época provocam enchentes – como a que foi acontecer justo na véspera da abertura das Olimpíadas! Que azar! Até parece que Deus não é brasileiro! A chuva também danificou o cultivo de hortaliças no entorno da cidade, agravando os problemas de abastecimento. Sim, porque com o avanço do desmatamento da Amazônia, o ciclo de chuvas do país foi alterado e a agricultura tem vivido, ano após ano, recordes de improdutividade. A bancada ruralista, sempre tão garbosa da crescente safra de grãos, empenha-se em obter mais subsídios do governo, emperrando a pauta de votações no Congresso e no Senado, como de praxe. Esta semana, aliás, é um alívio para eles: por causa das Olimpíadas, a imprensa quase não fala deles! Se bem que volta e meia surge um assunto mais quente que rouba as manchetes. Os blecautes, por exemplo. Desde que o Brasil começou a ter tornados e furacões, volta e meia alguma linha de transmissão é destruída pelos ventos, causando panes em todo o sistema (que, ironicamente, havia sido unificado justamente para ganhar em estabilidade e segurança). Aliás, está todo mundo torcendo hoje para que não vente lá pras bandas do Sul, causando algum problema no sistema Itaipu! E pensar que as hidrelétricas da região Norte não aliviaram em nada a situação... Ok, tem as termelétricas, mas com a escassez do petróleo, todas as companhias petrolíferas estão elevando seus preços : a Petrobrás está tão poderosa que o governo não consegue alterar as decisões “de mercado” da estatal. E o preço da eletricidade foi para a casa do chapéu! Mas como as distribuidoras haviam subido o morro, na década passada, dizendo que estavam fazendo um trabalho de responsabilidade social ao tirar os gatos e reformar as instalações elétricas, hoje a população mais carente não consegue roubar energia. E fica no escuro. Para evitar uma imagem feia na transmissão dos jogos, o governo aceitou pagar a tarifa para que os morros do Rio recebam eletricidade hoje, independente de estarem com as contas em dia ou não. Só para sair bem na foto.

E olha que a gente nem tem muito o que reclamar aqui! Do outro lado do Atlântico, na África, a coisa está muito pior. Lá, as mudanças climáticas praticamente inviabilizaram as chances de vida humana e animal. O processo de desertificação do continente avança a passos largos. Os migrantes do clima não têm mais onde se refugiar. Os conflitos por terra e pelas poucas fontes de água estão deixando saldos sangrentos. Mas isso sai pouco no noticiário. Nunca ninguém deu muita bola para a África mesmo... O que sai mais são os problemas na Ásia. A Índia nunca teve uma política eficiente de controle de natalidade e o incentivo ao uso das fontes de água potável no início do século levou a uma escassez quase total. O Brasil exportou a tecnologia de cisternas para eles, já que as monções trazem um volume de água absurdo ao subcontinente indiano. Mas com o aquecimento global o ritmo delas se alterou, bem como a duração e a intensidade: chove muito mais, mas durante menos dias. Resultado: as chuvas destroem as cisternas, ao invés de enchê-las. O Banco Mundial já liberou vários milhões para o desenvolvimento de uma tecnologia mais eficiente, mas enquanto ela não chega as pessoas vão morrendo de fome, de doenças tropicais, em desastres ambientais. Com a China é a mesma coisa, mas como a economia deles cresceu barbaramente nos últimos anos, o dano se concentra mais na fronteira oeste, onde estão as comunidades rurais mais pobres. Nas cidades, o governo liberou programas de assistência inspirados no welfare state ocidental. Repercutiu muito bem no último encontro do G20! Aliás, vários presidentes de países europeus vieram para a abertura das Olimpíadas! Eles não perdem uma chance de viajar porque a chapa está quente lá no velho continente: as mudanças climáticas inviabilizaram a agricultura nos países ao redor do Mediterrâneo. A luta não é mais por subsídios, como no começo do século, quando essa pauta emperrou as negociações de Doha. Agora, a luta é por terras mais ao norte. Está o maior embroglio desde que a Itália resolveu questionar a posse da Groenlândia pela Dinamarca. Sim, hoje a Groenlândia já se destaca na produção de grãos! A União Européia quer agora transformar a Dinamarca em uma espécie de Antártida, à qual todos têm direito.

Mas agora tenho que parar. Já vai começar a transmissão da cerimônia de abertura dos jogos. Parece que o tema escolhido foi meio ambiente. Acho que vai ser bem bonito!

Novo vídeo da campanha TicTac

Você se lembra de Beds Are Burning, do Midnight Oil? Pois este clássico do final dos anos 80 foi adaptado pela própria banda e regravado por 60 celebridades para a campanha TicTac. Confira o vídeo (está muuuuito legal):



A campanha TicTac visa mobilizar a opinião pública em prol de um acordo decente em Copenhagen, no final deste ano. Caso você tenha chegado agora de Marte e não tenha entendido, vamos recapitular:

1) O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU declarou que a temperatura do planeta está subindo por causa da ação do homem;

2) Por conta disso, os países membros da ONU estão tentando desenhar um acordo que reverta esse cenário;

3) Tal acordo contraria os atuais interesses econômicos (encampados por boa parte dos políticos);

4) Por consequência, as negociações em torno desse acordo não estão dando em nada;

5) Só que essas negociações têm prazo para chegar a um veredito: dezembro deste ano, quando acontece a CoP15, em Copenhagen, para finalização e assinatura desse acordo;

6) Mas se esse acordo for só “para inglês ver”, eu, você, a torcida do Corinthians e do Flamengo corremos risco de vida – sério, não é exagero, não: já existem vários estudos mostrando como as mudanças climáticas aumentam doenças, reduzem as colheitas e afetam a saúde humana.

Se você não quer isso, entre no site www.tictactictac.org.br e subscreva o abaixo assinado. E baixe a música no iTunes: cada download conta como uma assinatura.

Kofi Annan, ex-secretário geral da ONU, disse: "A mudança climática é o maior desafio humanitário que a humanidade enfrenta hoje. E é um desafio que tem uma grave injustiça em seu coração. As principais economias desenvolvidas do mundo contribuem para a esmagadora maioria das emissões globais. Mas são os países mais pobres e menos desenvolvidos os mais atingidos por seu impacto. Ao fazer o download da música, pessoas de todo o mundo vão adicionar seus nomes a esta petição global e, juntos, vamos fazer barulho para nossos dirigentes nos ouvirem".
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