1) Legislação no Brasil muda e agora acusados de estupro só serão processados se houver denúncia da vítima. Fico me perguntando como fica nos casos em que a vítima morre...
Até quando?
1) Legislação no Brasil muda e agora acusados de estupro só serão processados se houver denúncia da vítima. Fico me perguntando como fica nos casos em que a vítima morre...
Um donut ou o planeta: o que você escolhe?
O prêmio Fóssil do Dia é dado pelas organizações não governamentais que acompanham o evento, para a delegação que mais atrapalha as negociações ou para os autores das “pérolas” que nada agregam ao processo. O objetivo é justamente dar visibilidade, causando constrangimento no premiado e, desta forma, tentar inibir as ações que podem contribuir para a obstrução do processo de negociação. E por que o Primeiro Ministro do Canadá foi escolhido? Porque ele foi visto em uma loja de Donuts, ao invés de ir na ONU discursar sobre clima. O prêmio foi entregue na embaixada do Canadá em Berlim por ativistas alemães. Confira o vídeo da entrega:
Outro observador brasileiro, Gaines Morrow Campbell, do Vitae Civilis, relatou que “a equipe de negociadores do Brasil é de primeira linha e o histórico das suas contribuições ao processo é notável. O maior problema do Brasil é a falta de coerência entre suas políticas domésticas e suas posições nas negociações. Brasil tem dito que aceite compromissos de redução de gases de efeito estufa mas o seu plano e metas de redução de emissões de desmatamento e degradação de florestas não é realista, além do mais as suas emissões em outros setores continuam a crescer. O Brasil defende o uso de energias alternativas mas reduz os impostos sobre a fabricação de automóveis. Brasil defende e se beneficia de uma matriz energética limpa fundada nas hidroelétricas mas inclui no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC a construção de usinas termoelétricas e nucleares. Brasil defende o Fundo Amazônia para combater o desmatamento mas não se importa que os recursos da Noruega para o fundo têm sua origem nas suas receitas de exploração de petróleo. Assim, para entender as posições do Brasil nas negociações é preciso saber ler entre e por trás das linhas. “
Segundo Gaines, “As negociações vão focar, entre outras, nas questões que os líderes mundiais subscreveram em Nova York na semana passada: ações de adaptação às mudanças de clima, redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e degradação de florestas – REDD, transferência de recursos financeiros e tecnologia e capacitação. Além disso, vai-se buscar clareza sobre: a redução de emissões pelos países desenvolvidos, o nível de ambição dessas reduções e seus impactos nas economias de países desenvolvidos e em desenvolvimento; o uso da terra e mudanças de uso da terra e florestas (sigla LULUCF em inglês); identificação de novos gases de efeito estufa a serem incluídos no acordo de Copenhagen e, ainda, a definição de anos base para controle das reduções de emissões.”
Começou mais uma rodada de negociações sobre clima
Adaptação
Hora de Acordar Global acordou geral!
Mas um dia só de manifestação não foi suficiente. Por isso, prepare-se: a próxima mobilização acontece em 24 de outubro. Acesse o site da campanha - www.tictactictac.org.br - cadastre-se e mantenha-se informado! Falta muito pouco tempo até a Conferência Mundial de Mudanças Climáticas da ONU em dezembro, em Copenhagen. Temos que fazer nossa opinião chegar até os negociadores, já que eles insistem em ouvir apenas os lobbies organizados dos setores que querem manter tudo como está!
Você investiria em um fundo vindulado a índice de crédito de carbono?
Para responder a esta pergunta, é importante que você entenda o que é o mercado de carbono. Confesso que eu pouco sabia sobre o tema e por isso agradeci porque o pessoal do Itaú Unibanco chamou o presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Carbono – Abemc, Flavio Gazani, para dar uma aula. Ele lembrou que tudo começou com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, pelo qual chegou-se a um consenso sobre o impacto das emissões dos gases de efeito estufa sobre as mudanças climáticas. Foi por conta dessa constatação que as nações desenvolvidas (com exceção dos Estados Unidos) assinaram o Protocolo de Kyoto, comprometendo-se com metas de redução na emissão desses gases, entre os quais está o gás carbônico (CO2).
Essa redução pode ser feita de várias formas: com mudanças tecnológicas, com uma matriz energética mais limpa e também mediante mecanismos de troca - quem não consegue reduzir as emissões estimula quem consegue e contabiliza a redução do outro nas suas metas. Esse é o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os projetos têm que passar por aprovação nacional, da ONU e por auditorias para comprovar que há efetivamente a redução alegada. Essa é a teoria. Na prática, normalmente os países que não têm metas a cumprir no Protocolo de Kyoto (como nós, aqui no Brasil, ou a China) desenvolvem os projetos e depois oferecem os créditos em carbono. Por convenção, uma tonelada de carbono que deixa de ser emitida equivale a um crédito.
Existem bolsas especializadas na comercialização deles, como se fossem bolsas de valores. A maior delas fica em Londres. Não é por acaso: o Reino Unido é o maior comprador mundial, com 39% das transações, seguido pelas nações do Mar Báltico, com 17%, e Itália, com 9%. Do lado dos vendedores, a China é líder inconteste, com 84% dos projetos, seguida por Ìndia, com 4%, e Brasil, com 3%. A diferença brutal justifica-se: a matriz energética lá é muito suja, portanto o país tem um enorme potencial de redução em suas emissões. No caso do Brasil, nossa matriz é limpa. Ainda assim, do total de projetos de MDL desenvolvidos no Brasil, 50% são de energia renovável, por conta da co-geração em usinas de açúcar e álcool – o que explica porque São Paulo tem 23% dos projetos brasileiros de MDL. Em seguida vem Suinocultura (13%), troca de combustível fóssil (11%) e aterros sanitários (9%).
O mercado regulado pelo Protocolo de Kyoto chama-se... mercado regulado (um caso raro em que não foi criada uma sigla esdrúxula). Mas além dele, existe outro, desenvolvido pelos países que não assinaram o protocolo. Ele se chama mercado voluntário, porque não está relacionado com metas. Ele é pequeno em relação ao mercado total de créditos de carbono (apenas 2,9%), porém cresce vertiginosamente: apenas em 2008 sua expansão foi de 87%.
O volume de negócios com créditos de carbono em 2008 foi de US$ 705 milhões. O faturamento, por sua vez, foi de US$ 126 bilhões nesse mesmo período. Ou seja, é um negócio lucrativo, portanto atraente para o empresário – e, por isso, tende a crescer, apesar de todas as incertezas que existem quanto à sua natureza jurídica, governança na questão climática no Brasil e eventuais mudanças que venham a ser estabelecidas agora no final do ano na CoP15.
Já existem hoje em todo o mundo US$ 12,5 bilhões em fundos atrelados a créditos de carbono. Hoje, o Itau Unibanco lançou o primeiro a operar no Brasil. Ele promete ser uma aplicação tão o mais rentável que outras. E, indiretamente, estimula a migração para uma economia de baixo carbono. Por que não apostar?
Bill Clinton: investir na mulher é o melhor caminho para combater a pobreza
Segundo relatos que peguei na internet, a realização ficou aquém da intenção. Mas com certeza já valeu para colocar o assunto na pauta do dia. Porque em pleno século XXI, a discriminação da mulher ainda é real. Para você ter idéia da situação, Clinton disse que atualmente as mulheres são responsáveis por 66% de todo o trabalho do mundo, produzem 50% dos alimentos do planeta, porém só respondem por 10% da renda mundial e por 1% das propriedades no planeta. Mais da metade (57%) da população contaminada pelo vírus HIV na África subsaariana é de mulheres; entre os jovens, esse índice sobe para 75%. Não sei se você sabe, mas naquela região acredita-se que transar com uma virgem “limpa” o homem da doença, crença que está na raiz dos vergonhosos números de estupros e contaminação na região. Outros palestrantes complementaram: apenas 1% das verbas destinadas aos países em desenvolvimento é direcionada para programas que beneficiam mulheres.
Diante desses números, os palestrantes do evento (entre eles, Edna Adan, diretora de um hospital na Somália e que foi a primeira mulher a dirigir um carro naquele país) explicaram que a educação é o fator mais importante para o empoderamento da mulher. Não só por favorecer a entrada no mercado de trabalho, mas principalmente porque leva a mulher a querer (e a ter) controle sobre sua fertilidade. A partir do momento em que começa a ter menos filhos, ela interrompe o processo de multiplicação da pobreza – e uma das principais causas de mortalidade entre mulheres no mundo subdesenvolvido. Também ganha condições de lutar por trabalhos mais dignos e melhor remunerados, beneficiando sua comunidade: pesquisas mostram que as mulheres reinvestem 90% de seus ganhos no bem estar de sua família, contra 35% dos homens. Melhor acesso à educação está por trás de uma queda de 43% nos índices de má nutrição registrados entre 1970 e 1995.
Surge o conceito de Serviço Ambiental Urbano (e seu respectivo pagamento)
O raciocínio faz sentido. Dentre os ganhos ambientais gerados pela coleta correta do lixo está a redução da quantidade de resíduos no ambiente, impedindo a poluição da água e do solo. Esse material é direcionado para locais em que podem ser reciclados e voltar a ser utilizados. Ao reinserir esse produto no mercado, economiza-se a energia que seria usada para a produção de novos materiais. Isso está diretamente relacionado a outro ganho ambiental, que é a redução de emissão de gases de efeito estufa.
O Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos (PSAU) é uma iniciativa inédita no mundo que contará com aglumas salvaguardas para assegurar sua efetividade. Uma delas é a parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que irá estudar quanto deverá ser pago por quantidade de material reciclado para garantir um preço justo pelo serviço prestado pelo catador. Outra é a garantia de preço mínimo para os produtos, de forma a evitar oscilações, como as que ocorreram em consequência da crise econômica e que afetaram diretamente os catadores em todo o Brasil.
O Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis estima que cerca de 1 milhão de catadores em todo o Brasil poderão ser beneficiados pela medida.
Manifesto Dia Mundial Sem Carro
Global Wake Up Call - Hora de Acordar Global acontece nesta segunda, 21 de setembro, em todo o mundo
Dia de faxina
10 mitos sobre sustentabilidade
Ok, o conceito de sustentabilidade está em construção, porém sabemos o que não é sustentável. Já é um começo, né, greenwashers?
2 – Sustentabilidade é assunto da esfera empresarial
Sustentabilidade é um novo jeito de ver o mundo por pessoas, governos e empresas. Cada um tem seu papel e sua importância na tarefa de construir um mundo mais justo, humano e com melhores perspectivas para nossos descendentes.
3 – Sustentabilidade = meio ambiente
Nãããããoooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Sustentabilidade engloba questões ambientais, mas não se restringe a elas. Na verdade, o fator humano é o preponderante porque o planeta vai sobreviver, mesmo se nos matarmos numa guerra nuclear ou se conseguirmos elevar a temperatura em 100⁰C!!!! Somos nós, humanos, que estamos em risco – e colocando em risco inúmeras outras formas de vida. Para sairmos do risco, precisamos cuidar do meio ambiente, mas também assegurar condições dignas de vida a todos nossos semelhantes.
4 – Sustentabilidade = responsabilidade social
Nãããããoooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! É também responsabilidade ambiental, financeira, cultural...
5 – Sustentabilidade se resolve criando um departamento (uma editoria, um decreto) para cuidar disso
Sustentabilidade é um jeito de ver o mundo. Uma maneira de viver. Um sistema de gestão empresarial. Pode ser uma plataforma política. Uma nova cultura global. Em qualquer das hipóteses, é algo transversal que envolve vários atores.
6 – Dá para manter os atuais níveis de consumo sendo sustentável
Hahahaha! Ninguém quer tocar neste ponto mas, não, não vai dar para ter 2 bilhões de pessoas consumindo tresloucadamente e mais de 4 bilhões abaixo da linha da pobreza. O consumo terá que ser mais equilibrado, mais responsável, mais justo e também mais acessível a todos.
7 – Sustentabilidade é luxo de quem é rico
E não deveria ser! Mas tem muita gente que trabalha sustentabilidade segundo regras estabelecidas do marketing, segundo as quais uma novidade é posicionada a um preço mais alto. Se a novidade é vista como algo voltado a um nicho (no caso, o grupo de pessoas preocupado com o tema), o preço mais alto prevalece mesmo depois do lançamento. Nesta visão, o tema é tratado como diferencial de produto, sustentáculo de marca – e não como uma nova cultura, uma nova visão de mundo.
8 – Sustentabilidade é uma moda e, portanto, vai passar
Várias das formas como a sustentabilidade vem sendo tratada devem passar. A tendência em si, no entanto, vai ficar – mas será diferente, daqui a alguns anos, do que é hoje. Afinal, estamos construindo conhecimento a respeito.
9 – Não há evidências científicas que justifiquem essa grita pela sustentabilidade
????
10 – Sustentabilidade não tem a ver comigo
Ah,tá... você é de outro planeta?? Espero que seja quente por lá, porque aqui na Terra a chapa está esquentando....
Shana tová!
Mudanças climáticas: nem tudo que é lógico faz sentido
Também é lógico considerar, como pano de fundo, os atuais dados sobre população e emissão de CO2 no planeta: já somos 6,7 bilhões de pessoas no planeta; a cada hora, são dez mil novos emissores de carbono, 1,5 milhão a cada dia e 80 milhões a cada ano, afirmam os autores do estudo. Mais lógico ainda é fazer as contas para checar se a sugestão é viável e, principalmente, mais barata que outras sugestões que andam circulando por aí. Foi o que os autores fizeram: considerando-se a oferta de métodos contraceptivos para as 200 milhões de mulheres que, segundo a ONU, engravidam sem querer por ano, evitaríamos a emissão de 34 milhares de milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono até 2050 – o que dá um custo de sete dólares por tonelada. A título de comparação, estudo da consultoria McKinsey sobre o custo da transição para uma economia baseada em fontes de energia de baixas emissões resulta em uma cifra de 32 dólares por tonelada, em 2020.
Depois de tudo isso, não é lógico que a ONU inclua o controle da natalidade na agenda da Conferência Internacional de Mudanças Climáticas agora, no final do ano, quando vai ser decidida a continuação do Protocolo de Quito? Lógico! E é essa a proposta da organização não governamental Optimum Population Trust, que encomendou o estudo à London School of Economics.
Só tem duas coisas nessa história toda que não são muito lógicas:
1 - Pleitear o controle da natalidade pela questão climática e não pela direito da mulher de decidir se quer ou não ter filhos. Assim como as tradições impõem a questão da reprodução acima da decisão individual da mulher, o raciocínio exposto acima igualmente impõe uma obrigação sobre a mulher, alijando-a do seu direito de decidir se quer ou não ter filhos. Eu sou totalmente a favor do controle da natalidade, porém como direito da mulher, não como uma obrigatoriedade climática! Ainda mais quando essa obrigatoriedade é falaciosa visto que:
2 - A teoria apresentada ignora o fato de que apenas 2 bilhões dos 6,7 bilhões de pessoas que habitam o planeta estão acima da linha da pobreza. E que é justamente essa a faixa de pessoas que mais e me utiliza métodos contraceptivos. Portanto, relacionar a questão climática apenas ao aumento da população sem levar em conta o poder aquisitivo e o estilo de vida das populações é transferir o ônus da questão para a maioria pobre – e que, por não consumir sequer o básico, impede um aumento das emissões muito maior do que o registrado até o momento.
Como já tive a oportunidade de escrever neste blog, o que mais me assusta atualmente é que sustentabilidade e mudanças climáticas estão virando papel de embrulho para empacotar qualquer coisa. Hoje, para chamar a atenção para um tema, basta relacioná-la com mudanças climáticas. Além de ser desonesta, essa atitude levará inevitavelmente ao efeito ressaca, quando ninguém vai querer ouvir falar de clima! E aí o que é realmente sério e urgente vai sofrer para obter a atenção necessária...
Europa incluirá dados ambientais no cálculo do PIB a partir de 2010
O que você achou da campanha em prol das sacolinhas plásticas?
Bom, vamos começar pelo básico: a finalidade básica da sacola é transportar mercadorias. Ponto. Os demais usos, mostrados no filme, foram criados pelo consumidor justamente porque há sacolas plásticas em demasia em nossas casas. Se não houvesse, as soluções seriam outras - e poderiam ser mais sustentáveis. Por exemplo, o saco de lixo do banheiro pode ser de papel.
Chocou-me sobremaneira aquela cena das crianças jogando futebol com uma bola feita de sacolas plásticas. Uma bola feita de sacolas plásticas é uma evidência da pobreza, não é uma forma bacana, alegre, legal de usar o plástico, como vcs tentam mostrar! Sinceramente, eu fiquei passada com a tentativa de inverter a simbologia daquela imagem!
Outro problema sério da campanha é que ela destaca que há que se dar um descarte correto, porém deixa essa questão sem resposta, pois sabemos que a reciclagem de sacolas plásticas praticamente não existe na prática. Isso tampouco é resolvido com eficiência no site da campanha: embora ele tenha uma ferramenta "muderrna", baseada em google maps, ele simplesmente não dá resposta sobre os recicladores perto do endereço que você digita! Para falar a verdade, no site do Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos (!!!!) é possível muito mais informações - e de muito melhor qualidade!
O plástico gera emprego, renda e produtos muito úteis para nosso dia-a-dia, porém eles não se degradam e, por isso, causam um problema ambiental seríssimo. Não faz sentido colocar no ambiente um produto que vai demorar séculos para se degradar e cujo uso foi de alguns minutos, para transportar um produto do guichê de pagamento ao carro e do carro para dentro de casa! Sua reutilização, portanto, deve ser estimulada, sim, porém seu consumo deve ser reduzido para que possamos aproveitar o que já existe - e não colocar mais lixo no ambiente. A cadeia de reciclagem e reaproveitamento tem que ser mais competitiva e, para tanto, é preciso que o uso do usado seja estimulado, não o do novo para gerar um usado.
Ao invés de gastar R$ 7 milhões para fazer greenwashing, as empresas fabricantes de sacolas plásticas e de matérias primas para tais sacolas deveriam destinar esses recursos para a pesquisa de materiais e tecnologias menos danosas ao ambiente, reciclando seus negócios. É como geradores de tecnologia e de produtos que as empresas podem contribuir para a sustentabilidade de nossa sociedade, e não com supostas ações de "esclarecimento" que nada mais são do que defesa de interesses setoriais.
E você, o que achou desta campanha?
Campanha TicTac recruta voluntários para a Hora de Acordar, em 21 de setembro
Como fazer?
1 - Converse com amigos, vizinhos, familiares, membros de sua igreja, clube ou escola e junte uma turma.
2 - Escolha um local para a manifestação e cadastre-o em http://www.avaaz.org/po/sept21_hosts para que outras pessoas possam saber do seu evento e participar dele também. Nesse mesmo link você poderá ver os eventos já cadastrados e, se preferir, organizar uma turma para participar de uma ação organizada por outro grupo.
3 - Entre no site da campanha Tic Tac e baixe os materiais já existentes - eles podem lhe ajudar na organização e divulgação do evento. Em breve os organizadores colocarão lá mais orientações e materiais para facilitar a organização do evento. E lembre-se: o evento deve levar a mesma mensagem, ou seja, é Hora de Acordar nossos governantes!
4 - No dia 21, você e os demais participantes do seu evento devem fazer muito barulho, coletar assinaturas em um abaixo assinado, tirar fotos e filmar a atividade. As fotos e vídeos destes eventos do mundo todo serão coletados e editados para serem entregues aos chefes de estado e a mídia presentes na Assembléia Geral da ONU onde as mudanças climáticas serão discutidas.
A Campanha Tic Tac Tic Tac é uma corrida contra o tempo - daí o nome escolhido, Tic Tac, que faz alusão ao barulho que os relógios de antigamente faziam. Ela é fruto do esforço coletivo de dezenas de grupos e organizações do mundo todo. Para saber mais, visite http://www.tictactictac.org.br/ Caso tenha perguntas, dúvidas ou sugestões, escreva para: contato@tictactictac.org.br.
E veja abaixo um vídeo sobre o lançamento da campanha em São Paulo. Ele foi produzido por Tomaz Cavalieri, da 10e 20 filmes (http://www.10e20.com.br/) com a colaboração da equipe de voluntários e integrantes do Vitae Civilis e apoio da TV PUC.
Para os fãs de Harry Potter
Já que está todo mundo assistindo a novela...
Dúvidas
- Se o core business de uma empresa é condenado socialmente (ex.: fumo, armas), ela pode ser classificada como sustentável se adotar boas práticas ambientais, sociais, econômicas etc.?
- Critérios de sustentabilidade que não são acessíveis a toda a cadeia econômica podem ser chamados de sustentáveis?
- Um relatório que usa linguagem excludente pode ainda assim ser um relatório de sustentabilidade?
- Ver a sustentabilidade como "um pilar da marca" é sustentável?
- Fazer o funcionário "vestir a camisa" da empresa é sustentável?
- Obrigar o fornecedor a comprar o produto da empresa para se tornar / se manter como fornecedor é sustentável?
- Exigir o menor preço como condição sine qua non - sejamos nós, consumidores, ou os departamentos de compras das empresas em relação a seus fornecedores - é sustentável?
- E cobrar a mais só porque o produto é "orgânico", "ecológico" ou "sustentável", restringindo seu acesso a uma pequena parcela da população - é sustentável?
- Criar novas cadeias de auditagem e certificação e contabilização da sustentabilidade, complicando e encarecendo os processos produtivos e tornando-se inacessíveis a pequenos produtores - é sustentável?
- Veicular campanhas publicitárias que reforçam estereótipos e preconceitos, degradam a condição humana, estimulam o consumismo e camuflam a verdade - é sustentável?
- Criar sachê para reduzir embalagens e depois mudar o tamanho do sachê - é sustentável?
- Criar embalagem sobre embalagem como forma de diferenciação de produto - é sustentável?
- Privatizar os lucros e socializar o prejuízo, como acabou de acontecer com a última crise econômica - é sustentável?
- Reduzir o IPI para carros novos - é sustentável?
- Não cobrar transporte público porque pode ter / manter um carro novo - é sustentável?
- Defender pedágio para diminuir o trânsito porque pode pagar o pedágio e esquecer-se dos que não podem - é sustentável?
- Jogar lixo na rua é sustentável?
- Abusar do banho e da troca de toalhas quando se está no hotel ("afinal, estou pagando") - é sustentável?
- Abster-se de qualquer manifestação ou pressão política, esquecer-se que somos seres políticos - é sustentável?
- Torcer para a Maya ficar com o Raj, reforçando a percepção de que a mulher deve submeter-se às tradições (e ao homem), é sustentável?
Que chuva, não?
Não deixa de ser tentador jogar pedra na Shell, na Petrobrás, na Exxon/Texaco, na BP e acusá-las de responsáveis pela situação. Ou ainda acusar o governo de desgoverno – pela mudança na lei dos fretados, que ferrou o trânsito de São Paulo; pela falta de um sistema de transporte público decente; pelo incentivo ao transporte individual motorizado via uma isenção de IPI que só beneficia a indústria automotiva! Ou ainda ressaltar o caráter inédito do acontecido, completamente fora do padrão do clima de um final de inverno abaixo do trópico de Capricórnio! Tudo isso pode até ser verdade, mas só conseguimos explicar o dia de hoje se enxergarmos tudo ao mesmo tempo agora já –e com nossa anuência!
- Como assim?!!? Eu não dei licença com o que aconteceu hoje! Aliás, alguém dá ou deixa de dar licença a uma tormenta???
Pois é, parece irracional, mas é verdade: damos licença às tormentas. Abrimos as portas a elas. Estendemos tapete vermelho. A cada vez que incentivamos o uso do transporte individual motorizado (também conhecido como carro), seja por marcar reuniões para tratar de assuntos que podem perfeitamente ser resolvidos por telefone ou por não darmos alternativas a nossos colaboradores. A cada vez que desejamos comprar ações da Petrobrás. Ou que caímos do discurso pré-eleitoral do pré-sal. Ou que jogamos lixo na rua. Ou que não prestamos atenção em quem votamos. E deixamos de cobrar serviço do político no qual elegemos. Quando twitamos #forasarney mas não fazemos nada offline. Aliás, nem online: alguém mandou email de protesto para o senado? Para rádios e jornais e TVs? Alguém aí que fala inglês se lembrou de escrever prá ONU ou para o Banco Mundial pedindo mais rigor nos empréstimos ao Brasil, para que eles não financiem corrupção? Ou incríveis R$ 24 bilhões que serão usados para comprar submarinos e helicópteros militares? Aliás, você se indignou com essa compra? Ou achou normal destinar o dinheiro de nossos impostos para armas ao invés de educação e saúde – justamente num ano em que tantos morreram por não terem recebido o tal do Tamiflu?
Mas o que isso tem a ver com a chuva mesmo?? TUDO! Cada vez que terceirizamos a responsabilidade, confortavelmente depositando-a no ombro de outro (preferencialmente, um outro sem rosto, tipo “o governo” ou “o sistema”), abdicamos de nossa capacidade de construir um presente e um futuro mais dignos. Criamos as condições para que interesses setoriais se sobreponham aos interesses de todos. Achamos normais condutas impróprias porque, afinal de contas, nós também jogamos lixo nas ruas, não é verdade? Como se não andássemos nas ruas todos os dias... como se a rua não fosse nossa... como se o país não fosse nosso... E assim entupimos bueiros e sujamos os rios. Desviamos verbas públicas. Favorecemos amigos. Governamos de olho na governabilidade, e não na sustentabilidade. E assim ocupamos o vergonhoso posto de um dos maiores emissores de gás carbônico do mundo sem que nossa matriz energética seja suja – apenas com queimada da Amazônia e do Cerrado. Assim permitimos que áreas de risco sejam ocupadas por habitações que não oferecem segurança ou dignidade. E achamos normal. Parte da paisagem.
Seria tão bom se essa chuva lavasse nossos olhos e nos permitisse enxergar o outro, nos compadecer dele, perceber que estamos todos na mesma cidade, no mesmo país, no mesmo planeta. E, tendo ciência disso, começar a mudar de atitude. E cobrar mudanças dos outros também. Tudo ao mesmo tempo agora já. Que é a única maneira de lidar com tempestades.
PS - eu não achei o filme do Shell Responde sobre chuva ("que chuva, não?"), mas achei a pérola abaixo. Praticamente uma profecia!
Filmografia básica de sustentabilidade: Uma Verdade Inconveniente
Uma boa notícia: empresa cria tecnologia que transforma CO2 em combustível
Esta maravilha tecnológica tem um nome digno de Organizações Tabajara: SolarConverter. A idéia do fabricante, a empresa Joule, é começar a fabricar em escala industrial os painéis SolarConverter no início de 2010. E olhem a ironia: para estabelecer suas produtoras de combustível, a Joule está procurando por locais ensolarados (ok) porém próximos a instalações que emitam grandes volumes de gás carbônico, como usinas termelétricas e produtores de cimento!!! Quem diria!!!
Lula abandona álcool e vira "maria gasolina"
O mundo não é real, só pode ser uma grande piada. Em plena temporada do pré-sal, 14 entidades do agronegócio brasileiro criaram em São Paulo a Aliança Brasileira pelo Clima. A aliança reúne o pessoal da soja, das usinas de açúcar e de álcool, do papel e celulose, além das grandes tradings e indústrias de insumos, implementos e máquinas agrícolas. O principal objetivo deste grupo é influir nas negociações da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em dezembro próximo, na Dinamarca.
Você compraria uma garrafa de água suja?
Você compraria água suja para beber?
Inversão de papéis
Foi durante a apresentação de Fabian Echegaray, da Market Analysis. Sua apresentação detalhou a distância que existe entre o que as empresa entregam, no âmbito da Responsabilidade Social Empresarial, e o que os consumidores esperam: este é o espírito da pesquisa Monitor, realizada a cada dois anos, em 32 países. A última edição, de 2009, mostrou que em países do hemisfério norte, os consumidores preocupam-se mais com questões operacionais, ou seja, o impacto da atividade empresarial sobre o meio ambiente, a garantia da sustentabilidade no processo produtivo, a aplicação dos mesmos padrões de sustentabilidade na matriz e nas filiais ao redor do mundo... Já nos países emergentes, a maior expectativa do consumidor é sobre a atuação social da empresa, isto é, sua contribuição para reduzir a violação de direitos humanos e a distância entre ricos e pobres, para resolver problemas sociais e para apoiar políticas e leis favoráveis à maioria da população. Curiosamente, o item de maior preocupação do consumidor das nações emergentes, Brasil incluído, é o apoio a projetos comunitários e de caridade.
Fico feliz de ter encontrado uma pesquisa que respalda o que até ontem era só um raciocínio, uma percepção intuitiva. Porém, fico preocupada ao perceber essa inversão de papéis. Inclusive porque uma empresa pode ser mais socialmente responsável fazendo seu serviço direito. Pegue, por exemplo, a Petrobrás: ela ajuda mais tirando o enxofre e o chumbo da gasolina e do diesel que polui o ar de nossas cidades ou com projetos culturais? Nada contra os projetos culturais, veja bem, mas e o negócio em si?? Deslocar o assunto para a esfera social é o caminho mais curto para deixar a operação fora da conversa.
Há que se lembrar também que, antes de mais nada, questões sociais são assunto de governo. É para isso que pagamos impostos: para ter saúde, educação, segurança, cidadania. Não podemos tirar essa responsabilidade do governo, sob pena de ter recursos mal aplicados ad infinitum. Sem contar que transferir a expectativa de tais questões para a iniciativa privada é caminho seguro para a frustração porque as empresas não gerenciam o aparelho do Estado, as instituições públicas, que são responsáveis por tais questões.
Mas de onde vem essa confusão? Foi o governo que a alimentou? Ou as empresas? Se elas inadvertidamente (ou não) deram a entender que poderiam contribuir para a solução desses pontos, deram um tiro no pé. Trabalhei mais de duas décadas com o mercado corporativo e por isso posso afiançar que má intenção e esperteza convivem com lisura e boas intenções. Então, não dá para acusar que houve má fé. Provavelmente foi ingenuidade de quem fez a comunicação do que a empresa realmente pode fazer. Tipo a propaganda da Coca-Cola que diz que "Toda vez que você bebe Coca-Cola, você contribui para melhorar a sua comunidade”. Só que agora existe uma demanda da sociedade, que quer a eficiência empresarial a serviço do social. Como resolver? E como deslocar a demanda para quem de direito, ou seja, o Governo?
Como diria TSElliot, between the intention and the action, falls the shadow...