Custo da carne versus CO2 gerado em sua produção

O gráfico abaixo, da Bloomberg, ilustra como o padrão de consumo de carne nos EUA mudou desde a quebra do Lehman Brothers:


Ele prova que em tempos de recessão, opções mais baratas são as preferidas: no caso, porco, partes menos nobres da carne bovina e frango. Mas este último está ganhando a preferência dos consumidores mesmo em relação às outras opções mais econômicas porque em termos absolutos seu custo é inferior.

Até aí, a boa notícia só interessa para quem produz frango, certo? Errado - veja quanto carbono é emitido para a produção de cada tipo de carne:

  • 1kg bife = 34,6 kg CO2
  • 1kg carneiro = 17,4 kg CO2
  • 1kg porco = 6,35 kg CO2
  • 1kg franco = 4,57 kg CO2
Ou seja, sem querer, está crescendo o consumo das carnes cuja produção contribui menos para o efeit0 estufa.

Se você não quer nem ouvir falar nessa história de abandonar a picanha para salvar o mundo, acha que alfaces são amigas e não comida e passa longe da Segunda Sem Carne, do Paul McCartney, pelo menos analise que tipo de carne você coloca no seu prato. Seu bolso agradecerá, o planeta idem... e a Sadigão também!

O perfil agrário de nosso país

Quem acompanha este blog sabe que eu sempre procuro colocar aqui textos e informações diferentes das que encontro na Internet - seja por meio de um viés não explorado ou da análise dos dados noticiados, ou ainda pela busca de notícias interessantes em sites de outros paises que não foram veiculadas aqui. Mas hoje vou abrir uma exceção para reproduzir esta excelente matéria do Jornal da Unesp com um retrato frio e abrangente dos problemas da ocupação da terra no Brasil. Boa leitura!
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Atlas revela perfil agrário do país

A política agrária brasileira nas últimas décadas não alterou a elevada concentração de terras e o modelo agrícola voltado para culturas de exportação, nem melhorou o volume de oportunidades de trabalho no campo, além de ter contribuído para a devastação da floresta amazônica. A conclusão é do geógrafo Eduardo Girardi, autor de um abrangente e detalhado atlas sobre o setor agrário brasileiro, resultado de sua tese de doutorado desenvolvida na Faculdade de Ciências e Tecnologia, câmpus de Presidente Prudente (FCT).

Sustentado por cerca de 300 mapas, o estudo de Girardi aborda a pobreza, o desmatamento, a distribuição da posse fundiária, o agronegócio, os conflitos agrários e a política de assentamentos dos últimos anos. “Através do mapeamento, foi possível identificar a configuração da estrutura agrária e como ela pouco contribui para o desenvolvimento social no campo”, afirma.

A pesquisa constata que os imóveis rurais ocupam quase a metade do território brasileiro. De 1992 a 2003, devido à incorporação de terras públicas a programas de reforma agrária, a área que eles englobam cresceu 35%, passando de 310 milhões para 410 milhões de hectares. O número de propriedades no campo aumentou 47%, de 2,9 milhões para 4,2 milhões.
Concentração

No entanto, essas transformações não reduziram a concentração da posse da terra. Girardi ressalta que tal fenômeno pode ser medido pelo índice de Gini, em que 1,0 é valor máximo da concentração: em 1992, ele era de 0,826, e, em 2003, passou para 0,816.

A situação se evidencia também nas diferenças entre as áreas destinadas às pequenas, médias e grandes propriedades. Em 2003, os pequenos imóveis, com tamanho médio abaixo de 200 hectares, representavam 92% do total de propriedades, mas ocupavam apenas 28% da área agrária. As propriedades de médio porte, de 200 a 2 mil hectares, respondiam por 6% do total de imóveis e 36% da área. Já aquelas acima de 2 mil hectares, embora não chegassem a 1% do total, ocupavam 35% da área do setor.

“Das novas terras incorporadas na estrutura fundiária brasileira, de 1992 a 2003, o porcentual das pequenas propriedades cresceu pouco, para 93% do total dos imóveis e para 34% da área; já as médias e grandes, somadas, atingiram 7% do total de imóveis e 66% da área”, comenta Girardi.

O geógrafo explica que, se a taxa de crescimento do número de imóveis for superior à taxa de crescimento de sua área, ocorre uma evolução desconcentradora das propriedades rurais; no caso contrário, há concentração. “A partir da interpretação dos dados, verificamos que a evolução no Sul foi desconcentradora, no Sudeste e Nordeste foi equilibrada, e no Norte e Centro-Oeste foi concentradora”, esclarece.

A partir das informações do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Girardi também assinala que, em 1998, cerca de 75,4 milhões de hectares de terras exploráveis não tinham nenhuma atividade produtiva - o correspondente a 23% da área agricultável do País. Das terras não exploradas, 45% se localizavam na Região Norte, 24% no Nordeste, 26% no Centro-Oeste, 2% no Sudeste e 1,9% no Sul.

Modelo agrário

O estudo mostra, ainda, que o atual modelo agrário não tem contribuído para criar empregos e fixar o homem no campo. Nos últimos dez anos, cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram as atividades agropecuárias. De acordo com o Censo Agropecuário 2006 do IBGE, 16 milhões de pessoas estavam então ocupadas nos estabelecimentos agropecuários. As pequenas propriedades rurais empregavam 87% do total de postos de trabalho no campo, enquanto as grandes ficavam com apenas 2,5%.

Comentando as conclusões do atlas, o economista José Gilberto de Souza, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), câmpus de Jaboticabal, lembra que, em 2008, o setor sucroalcooleiro recebeu cerca de R$ 6,5 bilhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Porém, os dados revelam a redução do número de trabalhadores por hectare nessas áreas.

Girardi enfatiza que os investimentos confirmam um direcionamento da agricultura brasileira para o agronegócio. “A alta produtividade está concentrada no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, em contraste com a estagnação do Norte e Nordeste, onde grande parte dos imóveis não dispõe sequer de tratores”, observa. O geógrafo lembra que a concentração da estrutura fundiária no Brasil está inserida no modelo de desenvolvimento exportador.

Em 2006, dos US$ 46 bilhões do superávit total da balança comercial (que envolve a relação entre exportações e importações), US$ 42 bilhões foram obtidos pelo setor agropecuário. Cerca de 80% das exportações agropecuárias brasileiras são de apenas nove produtos (soja, carnes, cana-de-açúcar, café, couro, fumo, laranja, produtos florestais e algodão), que ocupam 74% de toda área plantada no País. “Enquanto isso, em 2004, cerca de 15 milhões de brasileiros com carência alimentar viviam no campo”, aponta Girardi.

Para Souza, o modelo agrário baseado na concentração fundiária precisa ser revertido. “A reforma agrária e o desenvolvimento da agricultura familiar devem estar inseridos em uma estratégia vinculada à produção alimentar”, acrescenta.

Ocupações e assentamentos - Como reação a esse modelo, Girardi assinala que trabalhadores rurais sem oportunidades ocupam áreas para ter uma opção de renda e vida. O Atlas mostra que, de 1988 a 2006, houve cerca de sete mil ocupações de terras no Brasil, com mais de um milhão de famílias envolvidas, que se concentraram no centro-sul, leste e nordeste do País. “Essas são as áreas onde a reforma agrária tem sentido, pois desconcentra as terras e otimiza a sua utilização”, argumenta Girardi.

Entre 1988 e 2006, os programas de reforma agrária criaram 7.666 assentamentos - áreas destinadas a pequenos agricultores -, em 64,5 milhões de hectares, beneficiando cerca de 900 mil famílias. Eles se concentraram, em sua maioria, na Região Norte, junto à fronteira agropecuária. Apenas na Amazônia Legal, foram assentadas 62% das famílias, sendo que nas Regiões Sul e Sudeste, apenas 28%. “As famílias foram assentadas na região amazônica, em grande parte em terras públicas, sem a infra-estrutura necessária de transporte, serviços de saúde, educação e assistência técnica”, aponta o pesquisador.

Outra análise do trabalho de Girardi ilumina a violência no campo. Nos últimos 20 anos, 1,1 mil trabalhadores rurais foram assassinados e cerca de 19 mil famílias foram retiradas de áreas ocupadas. “Por fazer parte da fronteira agropecuária, o leste do Pará e o norte do Maranhão foram as regiões com maior concentração dos conflitos, afirma.

Cooperativismo

O professor Roberto Rodrigues, da FCAV e ex-ministro do governo Lula, considera que a agricultura brasileira não deve se sustentar a partir de “obras de caridade”, em que se converteu, segundo ele, a política de assentamentos rurais. Rodrigues defende o modelo de cooperativas de agricultores com vocação e conhecimento para a cultura agrícola. “Neste modelo, ganham os agricultores, o governo e a população, que terá produtos de melhor qualidade”, avalia.
Rodrigues destaca que a terra representa apenas 15% do valor de um empreendimento agrário. “A agricultura precisa de crédito, conhecimento técnico e infra-estrutura de escoamento da produção”, afirma. Ele discorda do argumento de que não haveria apoio ao pequeno produtor. “O governo tem aumentado significativamente o crédito para a agricultura familiar, implantou o seguro gratuito de safra e a produção vinculada à distribuição de cestas básicas pelas prefeituras próximas”, enfatiza.

Banco de dados

O Atlas agrário servirá como um banco de dados para consulta pública e suporte para pesquisas acadêmicas. Uma versão impressa deverá ser publicada até o final do ano, mas o material pode ser acessado no site do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera).
Com apoio da Fapesp, Girardi utilizou dados de IBGE, Incra, Comissão Pastoral da Terra, Ministério do Trabalho e Emprego, INPE e FAO (Food and Agriculture Organization).
Para o orientador da tese, o professor Bernardo Mançano Fernandes, o Atlas é o mais completo sobre o tema produzido até hoje no Brasil. “É um marco do estado da arte do conhecimento de tudo que foi estudado no Nera que servirá de referência aos estudiosos de diversas áreas do conhecimento e na elaboração de políticas públicas”, aponta.

Política para setor estimulou desmatamento

Nos últimos 11 anos, cerca de 54 milhões de hectares dafloresta amazônica foram desmatados, conforme dados do Inpe (InstitutoNacional de Pesquisa Espacial). No mesmo período, na região,a atividade agropecuária se expandiu sobre 23 milhões dehectares, dos quais 45% de pastagens.
Para Girardi, a política agrária das últimas décadas,favorável ao agronegócio e ao latifúndio, foi a responsávelpelo forte desmatamento ocorrido nos nove Estados da Amazônia Legal.“Apesar dos assentamentos instalados na região contribuíremcom o desflorestamento, a maior parte dele foi feito por particulares”,diz.

A ocupação da Amazônia começou durante o regimemilitar, para não se realizar a reforma agrária nas RegiõesSul e Sudeste. “Essa estratégia não mudou com a redemocratizaçãodo País”, observa.

Para Girardi, a ocupação de novos espaços da Amazôniaé desnecessária, pois as terras já desmatadas quenão foram devidamente exploradas, em 2007, somavam 86,7 milhõesde hectares na Amazônia Legal. “Isso sem considerar a necessáriamudança do sistema técnico-produtivo da agropecuária,que utiliza grandes extensões de terras”, analisa.

A fragmentação da ética

Tornou-se lugar comum ver referências à falta de ética de investidores e empresários que estavam à frente das instituições mais afetadas pela crise financeira deflagrada em 2009. Tenho visto isso com tanta frequência que já percebo uma certa banalização da crítica que provoca a migração do sentimento inicial de indignação para a incorporação desse dado como business as usual. O mesmo processo já se deu no campo da política: assumimos como premissa que se o sujeito é político, ele não pode ser ético. Como se as eleições fossem um filtro por meio do qual a sociedade, perversamente, alçasse ao poder sua parcela de indivíduos sem ética. No meio empresarial, começa um processo semelhante.

Tanto em um caso, como em outro, há uma terceirização da responsabilidade: o problema é causado pelo outro, ele é que não tem ética. Isolamo-nos de qualquer participação no processo para nos inocentar. Não custa lembrar que esse mesmo recurso foi usado pelo José Sarney, quando ele afirmou que a crise era do Senado, e não dele. Como se o Senado existisse sem os senadores... Pois bem, fazemos a mesma coisa cotidianamente: agimos como se os políticos existissem sem os eleitores. Agora, estamos começando a fingir que os empresários e o pessoal do mercado financeiro existem sem nós, consumidores, acionistas, investidores...

Essa terceirização da responsabilidade ética acontece sem que isso soe como um absurdo (salvo em casos extremos, como o do Sarney) porque vivemos em sistemas complexos que muitas vezes não permitem que vivenciemos as conseqüências dos nossos atos. A ética foi fragmentada em inúmeras instâncias dentro das cadeias de valor, de forma que não percebemos a consequência de nossas decisões / ações / omissões. Nenhuma sacoleira do Brás se sente eticamente responsável pelas condições degradantes de trabalho da mão de obra informal que alimenta a indústria da confecção. Elas querem produtos bons e baratos – o que é visto como um desejo justo. Mas por trás deste desejo justo movimenta-se uma cadeia de valor que pode ser injusta em vários de seus elos: com as costureiras em condições sub-humanas de trabalho, com o uso de mão de obra infantil, com o arrocho dos fornecedores, com a falta de práticas ambientalmente corretas para o descarte das tintas de tecido etc.

Por trás de cada uma das práticas não éticas há um desejo justo do indivíduo ou instituição envolvido. Inclusive por trás do mercado de subprime norte-americano, reflexo de uma sociedade que valoriza os vencedores e a iniciativa sem questionar suas consequências não-óbvias. Porque é claro que dentro de sua zona específica de atuação, qualquer ser humano psicologicamente saudável considera a ética em suas decisões! Mas quem leva o raciocínio além do óbvio? Algum acionista da Petrobrás questionava se o lucro dela era ético ou não quando a valorização das ações andava bem? Ou ainda: alguém deixa de comprar ações da Petrobrás por causa do aquecimento global? Por que ela se negou a retirar o enxofre do diesel? E quem mantém as ações da Petrobrás pode acusá-la de não sustentável, quando ela toma tais decisões?

Existe um teoria que diz que estamos a seis graus de separação de qualquer um. Mas quando o assunto é ética, talvez esse grau de separação seja ainda menor. Porque a fragmentação da ética não nos separa. Pelo contrário, ela nos une na responsabilidade.

Exploração sexual de menores é crime, sim! Alguém avisa o STJ, por favor!!!

Pode um juiz decidir contra a lei? Pois foi exatamente isso o que fizeram os juízes do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul ao inocentar o ex-atleta José Luís Barbosa, mais conhecido como Zequinha Barbosa, e seu assessor Luiz Otávio da Anunciação, da acusação de exploração sexual infantil. Porque a absolvição não se deu por falta de provas: foi comprovado que os réus contrataram três adolescentes mediante pagamento de R$ 80,00. Foi comprovado que eles fotografaram as menores em poses pornográficas. Mas em um flagrante desrespeito ao artigo Art. 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente, que classifica como crime submeter criança ou adolescente, à prostituição ou à exploração sexual, passível de pena de reclusão de quatro a dez anos, e multa, tanto o STJ como o TJ do MS julgaram os dois inocentes pelo simples fato de que as adolescentes em questão já exerciam a prostituição.

Ou seja, ao invés de julgarem os réus, condenaram as vítimas. Sim, vítimas: ou alguém ainda acredita no mito de que mulheres e meninas entram na prostituição por que querem? Só se alguém conseguir esconder de si mesmo os fatos, já comprovados em estudos e estatísticas e matérias na imprensa, de que as meninas que entram para a prostituição geralmente vêem de famílias desestruturadas, geralmente viviam situação de risco e, na totalidade dos casos, optou pela prostituição por falta de alternativas decentes de ganhar o dinheiro necessário para o próprio sustento e a ajuda que são obrigadas a dar em casa. Se alguém ainda acredita nisso, deve também acreditar no mito do boto, lá do Amazonas – aquele que é usado para justificar as conseqüências da violência sexual doméstica.

Esta decisão absurda gerou protestos por parte do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que em nota chamou a atenção para um perigoso precedente por ela gerado: o de que a exploração sexual possa ser vista como aceitável quando remunerada.

Além de contar com o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Brasil é signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança, que convoca os participantes a tomarem todas as medidas apropriadas para assegurar que as crianças estejam protegidas da exploração sexual.

Estatísticas da ONU mostram que 1,8 milhão de crianças e adolescentes são explorados sexualmente em todo o planeta a cada ano. Mas este número é maior, já que outras 1,2 milhão de crianças são traficadas para fins de trabalho infantil, sendo que uma parte relevante destas são vítimas também de exploração sexual. Os números podem chegar, portanto, a 2,5 milhões de crianças vítimas de exploração sexual.

Dados do II Congresso Mundial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes indicam que 100 mil crianças e adolescentes são vítimas de exploração sexual no Brasil.

A quem interessar possa: o email da Presidência do STJ é presidencia@stj.jus.br e relator do caso atende pelo nome de Arnaldo Esteves Lima.

E lembre-se: para denunciar violência contra crianças e adolescentes, procure o Conselho Tutelar de sua cidade ou Disque Denúncia Nacional 0800-990500.

Pensamento sistêmico

O Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Walmart, lançou a campanha Saco é um Saco. Além da intenção (reduzir o consumo de sacolas plásticas), o que eu amei na campanha foi o incentivo ao pensamento sistêmico que ela propõe. Porque os problemas de sustentabilidade que todos nós enfrentamos decorre do fato de que não conseguimos relacionar causa-e-efeito, já que em sistemas complexos muitas vezes o efeito do que causamos não está ao alcance direto de nossa experiência - seja porque ocorre muito depois do ato que o deflagra, seja porque atinge outras pessoas. Este, aliás, é um dos motivos pelos quais Peter Senge defende uma nova forma de educação: se a maneira mais efetiva, que é a experiência direta, não é mais adequada para enfrentarmos os granades desafios que ameaçam a humanidade, faz-se necessário desenvolver outras habilidades. Como o pensamento sistêmico: a capacidade de ver e relacionar causas e efeitos cuja relação não é evidente. Isso tudo soou muito complicado para você? Então assista o vídeo da campanha e veja como isso é, na verdade, muito simples: basta olhar para a realidade ao nosso redor com um novo olhar!



Leia mais sobre o problema clicando no tag "sacolas plásticas" que fica no lado esquerdo da tela deste blog.

De quanto dinheiro você precisa?

Um pouquinho mais do que temos, segundo Juliet Schor, autora do livro “The Overspent American”. Ela analisou o comportamento dos norte-americanos e concluiu que existe uma tendência psicológica para achar que nunca temos dinheiro suficiente – e a diferença entre o que temos e o que achamos que devemos ter nem é tão grande assim, como mostra o gráfico. O problema é que ao atingir o patamar desejado, aspiramos alcançar outro.

O detalhe interessante é que a tendência é a mesma para todas as faixas de remuneração – ou seja, não interessa se você é rico ou pobre, você sempre acha que precisa de um pouco mais de dinheiro do que tem. O motivo é simples, segundo Juliet: a avaliação do que se tem nunca é absoluta, ela sempre é feita em comparação com outros – e raramente olhamos para trás. Como sempre tem alguém que ganha mais que nós...

A má notícia, portanto, é: se sua felicidade pessoal está atrelada a status e riqueza, prepare-se para uma vida de frustração e infelicidade, independente das conquistas que alcançar.

A boa notícia é: já que esse mecanismo perverso foi descoberto e comprovado – virou até livro! – que tal assumir o controle de sua vida e escolher se você quer mesmo o que você pensa que quer?

Lei da Grilagem Paulista põe represa Billings em perigo

Enquanto todo mundo falava de Amazônia e da MP da Grilagem, nossos nobres deputados estaduais aprovaram a Lei Específica de Proteção da Represa Billings – que, ao contrário do que diz o nome, protege na verdade quem invadiu e ocupou ilegalmente as terras às margens do manancial que abastece 1,6 milhão de pessoas na Grande São Paulo. Tanto que o projeto isenta os grileiros de qualquer compensação pelos danos ambientais causados pela ocupação, repassando o ônus às prefeituras – ou melhor, aos contribuintes – de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Se esta lei passar, seremos obrigados a compensar, com nossos impostos, os crimes ambientais gerados por nada menos que 200 mil imóveis irregulares, inúmeros dos quais à margem da represa.

Há uma questão moral séria envolvida nesta lei: ela é claramente um incentivo à ocupação ilegal de terras, já que prova que legalidade é apenas uma questão de tempo. Por isso, se for aprovada, certamente acelerará a ocupação de outras áreas de preservação, como a Serra da Cantareira, por exemplo, que já perdeu 52 hectares de mata nativa no seu entorno, segundo levantamento da SOS Mata Atlântica.

Aliás, a ocupação da Billings e da Cantareira tem várias características em comum. A começar pelo fato de que ambas são zonas de mananciais responsáveis pelo abastecimento de São Paulo. Junto com a mata, tornam-se áreas muito desejadas por quem quer ter uma chácara ou uma casa para o final de semana – que é justamente o apelo usado pelas corretoras locais. Ou seja, em boa parte dos casos não estamos falando de pessoas que ocupam a região por problemas econômicos ou falta de alternativa. Como matéria de hoje do Estadão mostrou, os lotes na Billings são vendidos, ou seja, há dinheiro em jogo. O mesmo acontece na Cantareira: em matéria da Agência Estado publicada hoje no Último Segundo, do portal IG, um corretor de Mairiporã, João Picchini, não se esconde e diz com todas as letras: "Aqui tudo é manancial, se fosse para ter autorização, ninguém constrói nada e não tem trabalho pra ninguém". Como se o único trabalho que existe na Terra fosse o de construtor ou de corretor!

O pepino agora foi para a mesa do governador José Serra. O prazo para sanção é “nas próximas semanas” – ou seja, vai saber quando... Só sei que uma canetada dele poderá ou não dar razão ao corretor João Paulo, que atua na região da Cantareira e que fez a seguinte declaração na matéria da Agência Estado: "Se for tentar licença para construir, você nunca consegue. O negócio é comprar e construir. Ninguém vai tirar você do sítio".

represa billings Pictures, Images and Photos

Foto de Vic_Prudentino disponível no site Photobucket

O que queremos preservar

Sustentabilidade, preservação, conservação: por trás de termos muito usados por governos, ONGs e empresas está a noção de manter as coisas como estão. Como se congelar o mundo, parar o tempo fosse a solução: parar de emitir CO2, parar a crise financeira... Esse significado latente passa uma mensagem equivocada. Porque o mínimo que temos a fazer é questionar se realmente queremos preservar os valores sociais e as práticas econômicas que nos trouxeram, por exemplo, até o atual nível de desigualdade e injustiça sociais.

Os números mais recentes do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento mostram que de uma população de 6,71 bilhões (de acordo a Divisão de População do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU), pouco mais de 5 bilhões vive em nações com PIB per capita abaixo da média, que é de US$ 9.316. Os dados são referentes a 2006 e mostram uma distância que tem aumentado ao longo do tempo, não só entre países, mas também dentro deles.

A lista envolve 180 nações para as quais há informações disponíveis. Na ponta de baixo, os 20% de países com menor PIB per capita (indicador usado para medir renda no IDH) ganham em média US$ 1.461 e abrigam pouco mais de 1 bilhão de pessoas. A África abriga a maioria dessas nações (36), dividindo o a lista com a Ásia (sete), Oceania (três) e o Haiti. Já na ponta de cima – que também abriga 1 bilhão de pessoas – o mesmo indicador de renda pula para US$ 33.200, mais de 22 vezes o PIB per capita dos países mais pobres. Já nos melhores indicadores destacam-se Luxemburgo (US$ 77.089 de PIB per capita), Qatar (US$ 72.969) e Noruega (US$ 51.862). A desigualdade entre o começo e o fim da lista é gigantesca. Luxemburgo tem 274 vezes a renda da República Democrática do Congo. E esta disparidade tende a aumentar mesmo que a economia não se deteriore, já que muitos dos países com pior renda per capita têm taxas de natalidade mais elevadas que o restante.

As informações sobre o PIB per capita divulgadas com o IDH e usadas nesta comparação são ajustadas pela Paridade de Poder de Compra (dólar PPC), método que elimina as diferenças de custo de vida entre os países. Mesmo assim, o PIB per capita (soma dos bens e serviços produzidos pelo país, dividida pela população) pode apresentar distorções, devido a desigualdades internas. Ele não necessariamente se reverte no bem-estar da população. É o caso, por exemplo, de países africanos ricos em petróleo, como a Guiné Equatorial, que está na lista dos países com maior PIB per capita (US$ 27.161), mas tem expectativa de vida de apenas 50,8 anos.

É muito fácil falar que não podemos negar aos pobres o direito de serem incluídos. Uma frase irretocável. Mas que inclusão temos a oferecer a estas pessoas? Baseada no mesmo modo de produção e consumo que as empobrece? É justo manter um discurso aparentemente desenvolvimentista, mas que no fundo defende um sistema altamente excludente? Pense nisso, na próxima vez que ouvir falar no desenvolvimento da Amazônia...

(Fonte: PNUD)

o mapa mostra onde moram as pessoas que ganham menos de US$ 10 por dia

O site da AVIV já está no ar

O site da AVIV está no ar. Ele é a parte mais visível de um projeto de vida que se iniciou há 10 anos, quando decidi que eu queria viver uma vocação, e não só trabalhar. Desde então, essa busca me levou a trilhar caminhos variados – todos muito gratificantes, do ponto de vista pessoal, mas que não resolviam o dilema de mudar sem jogar fora meus 20 anos de experiência em comunicação corporativa. Afinal, eles fazem parte da minha história, são um patrimônio de experiência e conhecimento adquiridos legitimamente.

Foi por acaso que descobrir a sustentabilidade. Ou melhor, que ela me descobriu: tudo começou com uma sugestão que recebi. Foi quando comecei a prestar atenção e percebi que não se faz comunicação para a sustentabilidade sem um mínimo de preparo. Porque ter a sustentabilidade como meta dá outra dimensão à comunicação corporativa: nela, o que conta é a capacidade de gerar mudanças e estabelecer vínculos entre as partes. A reputação passa a ser consequência, e não mais a meta do trabalho. Muda o conteúdo e muda também a postura de quem comunica. Isso para não falar na própria necessidade de domínio de informação sobre o assunto.

Foi fundamental, nesse processo, a parada que dei de janeiro para cá. O meu pequeno sabático me proporcionou tempo para cursos, palestras, leituras e conversas que foram decisivas para transformar informação em conhecimento – e eu aproveito este texto para agradecer a todos que me ajudaram e estão ajudando neste processo. Sei que tenho muito a estudar e aprender ainda – dizer isso é clichê, mas é verdade: está muito claro para mim que minha meta pessoal é ter uma vida de aprendizado, e não só uma temporada. Mas já me sinto apta a compartilhar com você mais que textos que posto neste blog. Posso trabalhar com o tema sustentabilidade para além do desenvolvimento de conteúdo que já tenho feito para empresas e entidades (meus clientes de primeira hora, co-financiadores do meu sabático de pobre: muito obrigada pelo apoio!).

Quando tiver um tempo, faça uma visita a www.avivcomunicacao.com.br e depois me conte o que achou da minha casa nova. Será um prazer recebê-lo virtualmente e uma satisfação conhecer sua opinião.

Abs,
Silvia Dias

Europa poderá matar mais baleias que o Japão em 2009

Este ano três países da Europa (Noruega, Islândia e Dinamarca) poderão matar mais baleias que o Japão - 1478 contra 1280, para ser mais exata. Os números serão apresentados na reunião desta semana da International Whaling Commission (IWC) na Ilha da Madeira.

O crescimento de 20% em relação aos números de 2008 é justificado – adivinhe? – pela recessão econômica. Depois de quebrar seu sistema financeiro, a Islândia tem propagandeado a indústria baleeira como a salvação da lavoura econômica de lá. A campanha do governo tem inclusive tons nacionalistas com imagens do passado e da tradição pesqueira da ilha. Esqueceram apenas de informar que no passado as baleias não estavam em extinção. E que elas entraram em extinção justamente por causa desse passado nefasto que agora quer ser transformado em motivo de orgulho nacional.

A esta altura, você deve estar se perguntando: mas a pesca de baleias não é só justificada para fins científicos? Não havia uma moratória mundial justamente para tentar preservar a espécie? Como é então que a Islândia vê na indústria baleeira uma saída para a crise econômica? Pois é, a Islândia, junto com a Noruega, está matando baleias comercialmente. A sanha destruidora que já varreu um banco nacional agora navega pelos Mar do Norte pondo fim a uma moratória mundial de 23 anos. Ok, ela sempre foi sistematicamente burlada pelo Japão e suas cotas absurdas de baleias “para pesquisas”, aprovadas por países que recebiam apoio financeiro do Japão em troca do voto na reunião da International Whaling Commission. Mas oficializar sua quebra abre um precedente sério!

Nem preciso dizer que as baleias mortas pelos islandeses e noruegueses serão vendidas no Japão que, desta forma, torna-se responsável por dobrar a matança de baleias no mundo.

E a matança já começou: as duas primeiras baleias Finn foram mortas nesta sexta feira. Até o final do ano, os islandeses esperam trucidar outras 348 – um número até modesto perto do que os vizinhos noruegueses pretendem atingir: 885. Solidária a seus irmãos vikings, a Dinamarca propõe-se metas menos ambiciosas de matança: “apenas” 245. Ela usa como argumento a cultura e os hábitos alimentares das tribos da Groenlândia, que é território dinamarquês semi-autônomo. Mas a carne que supostamente alimentaria as tribos indígenas vai, na verdade, para o Japão.

A grande ironia é que a pesca de baleias não é mais economicamente viável. Estudo do WWF e da Whale and Dolphin Conservation Society (WDCS) mostra que o Japão gastou US$ 164 milhões em apoio a essa indústria desde 1988. Os subsídios na Noruega, por sua vez, equivalem a quase metade do valor bruto de toda a carne de baleia pescada. Além de dar prejuízo, a indústria baleeira prejudica outros setores, como o turismo baseado na observação de baleias. Apenas para se ter uma idéia do potencial dessa atividade: mais de 115 mil pessoas assinaram um documento afirmando que consideram seriamente a hipótese de visitar a Islândia tão logo o país pare de matar baleias.

A retomada do espírito viking está constrangendo os demais países europeus. A Inglaterra, por exemplo, anunciou que solicitará a inclusão da não-matança de baleias como condição para que um país integre a Comunidade Européia. Um porta-voz do governo da Islândia já falou que aceita discutir a questão da pesca de baleias quando o país solicitar sua entrada na Comunidade – claro, isso não vai se dar de hoje para amanhã! E até acontecer – se é que vai acontecer – centenas de animais já terão encontrado seu fim nos arpões dos navios baleeiros do norte.

O temor dos baleeiros são os ambientalistas mais radicais: o Sea Shepard já declarou que voltará à Europa. E o grupo norueguês Agenda 21, desconhecido até abril, quando sabotou seis baleeiros de seu país, também deve retomar os ataques.

Que venham os piratas!

PS: se vc quer ter uma idéia melhor do que é a pesca de baleias, pesquise “whaling” no Google Imagens.

O homem que não causava impacto

Há um ano, Colin Beavan resolveu fazer um experimento com sua família: construir, em plena Nova York, um estilo de vida que não gerasse resíduos. Desde então, ele tem compartilhado suas experiências em seu blog. No Festival de Sundance, lançou o filme. Em setembro, ele deve entrar em circuito comercial nos EUA, junto com o livro.

A história já gerou muita gozação por lá – no New York Times, por exemplo, o título da matéria era “Um Ano Sem Papel Higiênico”. Mas segundo o site TreeHugger, o filme é sincero ao retratar a tentativa de se chegar ao índice zero de resíduos, mostrando que dá para fazer muita coisa, sim, mas não tudo. Mostra, inclusive, a diferença de postura entre Beaven, para quem o projeto tinha contornos profissionais, e sua mulher, que entrou de gaiata na história. Michelle Conlin, esposa de Beaven, era uma novaiorquina típica, amante de marcas famosas, comida pronta e café na Starbucks. Imagine-a tendo que procurar alimentos orgânicos para preparar as refeições da família. Ah, e de preferência nas redondezas, para ir às compras e voltar a pé. A diferença entre os dois é evidente inclusive neste vídeo que está no YouTube:




O filme deixa bem claro que não se trata de uma mudança fácil. Exige um bocado de paciência, disciplina e boa vontade. Mas também mostra que a mudança de hábito não significa perda: no quesito comida, por exemplo, Michelle apaixonou-se pelo sabor da comida natural e manterá o novo hábito mesmo após o fim do projeto.

Que mundo queremos para nós?

Ouvi essa pergunta ontem no encerramento da Conferência Internacional do Ethos dentro de um painel que falava de mudanças climáticas. Quando a fez, Antonio Nobre, Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), queria chamar a atenção para o fato de que os prognósticos de aquecimento global já valem para nós – e não apenas para “nossos filhos”, designação genérica que tem sido usada para indicar as futuras gerações e que nos deixa uma falsa impressão de segurança.

De acordo com o pesquisador, mesmo as simulações mais radicais feitas pelos cientistas ficaram aquém do que tem sido registrado nos últimos anos em termos de degelo das calotas polares e acumulação de CO2 na atmosfera, por exemplo. Diante dos dados apresentados, choca perceber como a agenda política ainda domina as negociações para a Conferência sobre Mudanças Climáticas que acontecerá em Copenhagen no final deste ano – e onde supostamente as nações participantes da ONU deverão firmar um compromisso que dê continuidade ao Protocolo de Kyoto, cuja vigência expira em 2012. Sérgio Besserman, presidente do Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e Governança Metropolitana da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (CADEGOM) e que moderava o painel , chegou a confessar seu ceticismo sobre o resultado do encontro da ONU, ao ser questionado sobre o tema.

Mas outro contexto me faz pensar nessa pergunta: a morte de Marcelo Campos, espancado após a Parada Gay. Porque não se trata de um fato isolado – milhares de pessoas são vítimas de violência simplesmente pelo fato de “serem diferentes”. Esse universo inclui gays, negros, índios, mulheres, os torcedores do time adversário, pessoas acima do peso, idosos, migrantes, judeus, praticantes do candomblé, pobres...

Sobrou quem mesmo??

Sob a égide de “minoria” está a maioria da população. Que, vista como minoria, perde relevância política, já que a democracia é a voz da “maioria”: minoria é um conceito que suga a cidadania do indivíduo e subtrai direitos. E olhe que nem falando de união civil estável entre gays: tente adotar uma criança sendo mulher solteira e veja que beleza é não ter um macho supostamente provedor para apresentar às autoridades! Minoria é um conceito que reduz o valor do indivíduo e implode sua auto-estima: converse com qualquer mulher e descubra o peso de a) não ter um companheiro; b) não ter um, corpo legal; c) não ter filhos; d) não conseguir conciliar família e trabalho; e) ter o cabelo crespo (!!). Minoria é uma premissa que é usada para justificara violência física, sexual ou moral: quantas mulheres já engoliram caladas o nojo de ser olhada como um pedaço de picanha?

A morte de um gay é a ponta de um iceberg feito de situações cotidianas, corriqueiras, tão introjetadas que são vistas como fatos da vida.

Se este não é o mundo no qual você quer viver, participe da manifestação de protesto contra a homofobia que acontece neste sábado, 20 de junho na Av. Dr. Vieira de Carvalho, atrás da Praça da República. Faça como os gays: organize-se, proteste e não aceite a discriminação.

Maioria não existe. Somos todos minoria.

Comunicação e sustentabilidade: a visão da Holcim

A comunicação de hoje tem a ver com transparência. A declaração, de Barbara Dubach, vice-presidente de Desenvolvimento Social e Sustentável da Holcim (uma das maiores fabricantes mundiais de cimento e concreto) sintetiza o recado passado no painel “Redefinindo o Marketing e a Comunicação das Empresas num Mercado Socialmente Responsável”, que integrou a programação da Conferência Internacional do Ethos, realizada esta semana em São Paulo.

Com a experiência de quem gerencia uma operação global presente em 70 países e que emprega 90 mil pessoas, Bárbara recomenda que a comunicação comece dentro de casa. “Os funcionários precisam conhecer e viver os valores da empresa. É preciso engajá-los.” Por que? Para que a comunicação seja também um instrumento de sustentabilidade e apóie a empresa na criação de uma cultura sustentável.

Com o mesmo objetivo, Bárbara recomenda que a comunicação externa parta do mapeamento de stakeholders: quem são? do que precisam? quais são os canais de comunicação mais apropriados para estabelecer um diálogo?

A gestão da comunicação voltada ao Desenvolvimento Sustentável na Holcim se dá em duas frentes: melhoria e medição.

Por melhoria, Bárbara classifica a divulgação e a internalização da visão, da missão e das políticas da empresa, o trabalho de comunicação e reputação e a associação a iniciativas relevantes para a cadeia de valor na qual a empresa se inclui, tais como a Cement Sustainability Initiative e o Pacto Global.

Por medição, ela entende pesquisas internas e externas e o engajamento de stakeholders – deixando claro que este último item é uma jornada de longo prazo. Mas vale a pena: segundo Barbara, o engajamento feito de diferentes formas, trazendo os stakeholders para junto da companhia em alguns projetos, é o caminho para colocar a sustentabilidade no DNA da empresa (e não só no relatório).

Barbara encerrou sua apresentação com as cinco dicas que considera imprescindíveis para quem quer se aventurar na comunicação para a sustentabilidade:

1 – Analise a situação por meio de pesquisas.
2 – Comece cedo.
3 – Seja aberto e honesto.
4 – Os fatos devem respaldar a retórica.
5 – Uma vez iniciado o processo, ele não tem fim.

Tendências 2012 para relatórios e engajamento

Quem lê relatórios de sustentabilidade? A pergunta, que já foi tema de pesquisa da KPMG, foi também objeto de um levantamento informal da Sustainability, consultoria inglesa criada por John Elkington – o “criador” do conceito de triple bottom line. E os resultados foram apresentados hoje na Oficina de Gestão “O Futuro do Engajamento: Ferramentas para Reconstruir a Confiança”, conduzido por Jodie Thorpe, diretora de Economias Emergentes da Sustainability, durante o terceiro dia da Conferência Internacional do Ethos.

O levantamento confirmou aquilo que você já intuiu: sim, os relatórios de sustentabilidade têm baixíssimo índice de leitura. Sua produção é problemática. No entanto, sua eficácia é reconhecida dentro do esforço de conduzir corporações a práticas mais transparentes e sustentáveis. E se reconhecer o problema é um começo, propor um caminho é avançar. Foi o que a Sustainability fez: um exercício de tendências – como serão as práticas de engajamento e relato em 2012.

Engajamento = inevitável

1) A necessidade de criar valor, inovar cada vez mais e integrar processos do core business das empresas forçarão a migração do formato “pesquisa de opinião” para o engajamento.

2) Os stakeholders relevantes conduzirão a fusão da sustentabilidade com o core business das corporações.

3) O gerenciamento dos stakeholders deixará de ser visto como uma área específica e se transformará em um conjunto de habilidades que todas as áreas das empresas utilizarão.
4) A tecnologia mudará a natureza e a qualidade do engajamento.

O relatório vai acabar! Viva o relatório!

1) Os relatórios de sustentabilidade serão integrados dentro dos principais canais de comunicação das empresas.

2) Relatórios como peças sozinhas, explícitas, deixarão de existir ou encolherão dramaticamente de tamanho, concentrando-se apenas na intersecção da estratégia de negócios com os temas materiais.

3) O amplo acompanhamento de múltiplos indicadores de sustentabilidade deixará de ser um

processo de relato e evoluirá para um sistema de gestão dentro da empresa.


Um exemplo prático de como os stakeholders querem ser engajados

A afirmação acima é praxe nos cursos de engajamento de stakeholders. Hoje, tive a comprovação prática de que é a mais pura verdade. Foi na roda de diálogo "Oportunidades Geradas pela Busca por uma Matriz Energética Sustentável" da Conferência Internacional do Ethos. Coordenada por José Goldenberg, da USP, ela contou com a participação de Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética do Ministério de Minas e Energia, Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace Brasil e Luis Pescarmona, diretor geral da IMPSA (empresa de energia eólica).

Não vou entrar nos detalhes técnicos que foram apresentados sobre nossa matriz, exceto que todos lamentaram o fato de que ela está crescendo mais que o desejável na utilização de combustíveis fósseis. A conversa evoluiu até o ponto em que alguém na platéia perguntou: “onde é o fórum no qual podemos discutir esse assunto?”. Resposta: não há tal fórum. A política energética brasileira é decidida em gabinetes – do Ministério das Minas e Energia e no Congresso. Não há fóruns de interlocução que permitam a participação da sociedade nos debates e no processo decisório.

Quando confrontado com essa demanda, Maurício Tolmasquim tentou qualificar o debate na Conferência no Ethos como um desses espaços. Ledo engano imediatamente apontado e que o levou a repassar para os demais participantes da mesa a tarefa de organizar tal debate.

Conclusão da história: os stakeholders queriam ser engajados...

Debate imprensa e empresas na Conferência Internacional do Ethos

Mais que um debate, foi um exercício de compartilhamento das dúvidas e dificuldades e ossos do ofício de cada um. De um lado, três jornalistas especializados em sustentabilidade: Amélia Gonzalez, editora do suplemento Razão Social do jornal O Globo, Alexandre Mansur, editor de ciência e tecnologia da revista Época da revista Época e Amália Safatle, editora da revista Página 22. Do outro, três representantes de empresas: Augusto Rodrigues, diretor de comunicação empresarial da CPFL, Daniela di Fiori, vice-presidente de assuntos corporativos e sustentabilidade do Wal-Mart, e Nemércio Nogueira, diretor de assuntos institucionais da Alcoa América Latina e Caribe da Alcoa. A pauta: as relações entre imprensa e empresas. Abaixo, alguns dos pontos altos da conversa:

“A sustentabilidade permeia tudo, essa é sua característica. Então a cobertura jornalística tem que ganhar em profundidade e em horizontalidade e isso é um desafio absurdo! O jornalismo ainda não descobriu o caminho para resolver isso.”
Amália Safatle, Página 22

“A complexidade da sustentabilidade deixa a imprensa perplexa. A imprensa aprende no estudo de casos, na cobertura e em cursos. Uma das coisas que a imprensa pode fazer (para gerar uma cobertura mais justa do tema) é criar critérios, por exemplo, prêmios.”
Alexandre Mansur, Época

“Quem cobre responsabilidade social é sustentabilidade ainda é visto como nicho dentro da redação. O que provoca isso é o que também provoca a não punição das empresas que ñjao são sustentáveis pelo consumidor. O jornalista é parte da sociedade e é também afetado pelo ceticismo de anos e anos de empresas sem conexão com a sustentabilidade.”
Amélia Gonzales, O Globo

“A Página 22 nasceu da dificuldade de desenvolver um trabalho de interligar esses assuntos [de sustentabilidade] na pauta. Sempre tive dificuldade em fazer as pessoas entenderem essas interligações em veículos tradicionais. Ainda é um assunto discriminado. Existe uma percepção de que meio ambiente e temáticas sociais são assuntos menores que economia e política. E está tudo interligado!”
Amália Safatle, Página 22

“Não existe um conceito comum sobre o que é sustentabilidade. O que se consegue é levantar bons exemplos em temas específicos. Não queremos só apontar problemas, queremos apontar caminhos usando bons exemplos. Mas morro de medo de entrar em engodo. E já entrei. Quando se investiga direito, 90% do que as empresas falam não fica de pé.”
Alexandre Mansur, Época

“O jornalista demora a perceber quando é marketing verde. A principal técnica para identificar é ouvir os stakeholders da empresa para checar as informações. Outra maneira é fazer pesquisa, ver a história da empresa. Outra ferramenta são os indicadores Ethos, GRI, ISE. Nenhum é perfeito, mas dão pistas. Não são perfeitos porque quem dá das informações são as próprias empresas e pode ser que elas não dêem 100%, mas só 98%.”
Amália Safatle, Página 22

“O retorno que tenho dos meus colegas de economia é que as empresas só falam comigo porque não vou mexer na caixa preta.”
Amélia Gonzales, O Globo

“É natural que a empresa queira se resguardar de qualquer coisa que seja problema à imagem, à reputação. Isso é agravado pelo mercado de capitais. Mas na minha vida profissional, não houve situação em que não fosse possível dar à imprensa a informação possível de ser dada naquele momento. Não estou dizendo que seja fácil, mas é possível.”
Nemércio Nogueira, Alcoa

“Há um conceito de marketing tradicional que orienta e complica as relações entre empresa e imprensa. Mas o papel da imprensa de apontar problemas ganha cada vez mais importância. Há uma transformação provocada pelo dedo que a imprensa põe na ferida das empresas.”
Augusto Rodrigues, CPFL

“A Alcoa atua com terra, água e gente. Por isso, tem que se enquadrar no melhor padrão possível. Juruti (nova mina de bauxita localizada no Pará) quer ser um modelo de mineração para o século XXI. Vai dar certo? Não sei. Estamos tentando. Mas a unidade deve operar por 70 ou 80 anos. Se não tiver um comportamento que se coadune com as demandas sociais e ambientais, não tem vida útil.”
Nemércio Nogueira, Alcoa

“O medo das empresas é que um erro surja como fato principal da notícia. As empresas estão em fase de transição para a sustentabilidade e tem muita coisa certa e muita coisa errada e tudo está interligado.”
Augusto Rodrigues, CPFL

“Sustentabilidade não é RP ou relações comunitárias. Não é algo que se suspende. Ou se é sustentável ou não é. Porque sustentabilidade é uma estratégia de operação.”
Nemércio Nogueira, Alcoa

“Os veículos pequenos, de nicho, refletem a diversidade. A falta de veículos pequenos no Brasil reflete a falta de apoio à diversidade.”
Amália Safatle, Página 22

Segundas Sem Carne - você topa a proposta?

Está sendo lançada hoje no Reino Unido a campanha Meat Free Monday. Seguindo o exemplo da cidade belga de Ghent, ela propõe que fiquemos sem comer carne um dia na semana. Para os organizadores trata-se de uma iniciativa simples, fácil de ser adotada, e que pode contribuir com a redução dos gases de efeito estufa na atmosfera, já que estudos da ONU indicam que o gado é o terceiro maior emissor, com 18%.

No site da campanha é possível baixar materiais de divulgação, bem como inscrever-se para recebimento de uma newsletter semanal com receitas feitas sem carne de Linda McCartney: sim, a campanha conta com o apoio de Paul McCartney, além de outras celebridades como Chris Martin e Sheryl Crow. Chefs do Reino Unido prometeram menus vegetarianos em seus restaurantes em apoio à iniciativa – o que, diga-se de passagem, não é nenhuma novidade por lá: desde o início deste ano que os hospitais do serviço nacional de saúde britânico oferecem opção de menu vegetariano aos pacientes.

A tendência certamente é que esse tipo de iniciativa ganhe fôlego em todo o mundo, já que especialistas da ONU acreditam que esta é uma das maneiras mais fáceis e efetivas da população contribuir espontaneamente para a redução dos gases de efeito estufa.

E você, o que acha da idéia? Topas ficar um dia por semana sem comer carne??

Mídias sociais e as eleições no Irã - USE VERDE NESTA SEGUNDA

ATUALIZADO (várias vezes) NO DOMINGO, 14 DE JUNHO

As atualizaçoes continuam: segundo os twitters, são mais de 5000 por hora. Petições online são divulgadas, pedidos para que pessoas de outros países protestem em frente às embaixadas do Irã, informações sobre conflitos entre estudantes na Universidade de Teerã e a polícia, incluindo uma explosão ouvida nas mediações e carros pegando fogo, boatos de que Mousavi, o candidato da oposição está em prisão domiciliar: este é o resultado da pesquisa #iranelection no Twitter. Se no sábado, quando escrevi a primeira versão deste texto, nada disso estava confirmado pela imprensa, hoje já é possível encontrar máterias que confirmam boa parte das informações twittadas.

As eleições do Irã confirmaram o miniblog como uma incrível agência de notícias, direto da fonte para os leitores. Mas além de uma fonte de informações, o Twitter provou-se também um poderoso instrumento político. Ele está sendo usado para manter vivo o espírito de indignação dos iranianos contra o resultado das eleições e para insuflá-los a protestar nas ruas. O ritmo de atualizações é frenético. Pessoas de todo o mundo juntam-se a twitters que se identificam como iranianos. Não por acaso, o governo iraniano tem tentado cortar o acesso de seu povo à internet. Neste sábado, os iranianos saíram do Twitter às 21h20, horário de Brasília.

Antes disso, porém, os iranianos postaram inúmeras fotos e no Flickr e vídeos no Youtube. Ao compartilhar com o ocidente as informações e imagens dos protestos (ver vídeo abaixo), os iranianos acabaram influenciando diretamente a opinião pública ocidental - sem ter que passar por embaixadas, representantes, nada! Conversa direta, imagens diretamente de Teera para sua tela de computador:

Sensibilizados com os textos, as fotos e os vídeos, a opinião pública que frequenta o Twitter passou a cobrar a mídia: vários twitters dos EUA enviaram protestos às emissoras de TV (a CNN foi a mais citada - acho que o pessoal não esperava grande atenção por parte da FoxNews) criticando sua omissão na cobertura (indignação que se traduziu em vários tweets relacionando a crise da mídia com sua lentidão em perceber o que é relevante - e cobrir o fato rapidamente - desde sábado). Resultado: a imprensa internacional abriu mais espaço para o assunto. Mais vídeos com os protestos foram televisionados: note, no exemplo abaixo, como ele incorpora imagens de "cinegrafista amador". E passou também a se explicar: notícias sobre os embargos e filtros impostos pelo governo iraniano começaram a ser publicadas neste domingo. A BBC resolveu ser mais prática e publicou um "guia de navegação" com o que encontrou de melhor sobre as eleições do Irã nas várias mídias sociais


Por fim, apoiados pela mídia e pela opinião pública, hoje o governo norte-americano pela primeira vez questionou o resultado das eleições.

Se os marqueteiros do Obama já haviam impressionado o mundo com o uso das mídias sociais para ganhar uma eleição, agora é a vez da juventude iraniana (70% da população daquele país tem menos de 30 anos) mostrar como se faz política internacional pela rede mundial de computadores.

Bem vindo ao Século XXI! Ah, e use verde nesta segunda. Em favor da liberdade no Irã.

Sustentabilidade = interdependência. Ou, se preferir, corresponsabilidade.

Quando o assunto é sustentabilidade, não dá para contar apenas com o pensamento linear: o desafio é juntar as peças e entender as interrelações para melhor agir sobre elas.

Pegue-se o exemplo da indústria alimentícia, sobre quem escrevi ontem ao falar do filme Food Inc., lançado esta semana nos EUA. Ele expõe o lado menos glamuroso desse setor que, segundo pesquisa do Havas Media Group, desfruta de uma excelente imagem pública. Não é para menos: o apelo de toda sua comunicação é sempre em cima de temas e imagens que remetem à saúde e ao bem-estar. Mas entre a imagem e a realidade existe um gap, no qual entram:

1) A qualidade intrínseca dos produtos: como qualquer nutricionista lhe explicará, boa parte dos alimentos industrializados não tem qualidade nutricional. Vender produtos que são mera caloria é sustentável?

2) O marketing da indústria alimentícia é voltado prioritariamente para o segmento infantil: basta que você assista um dia aos canais infantis na TV paga e compare com a quantidade de mensagens publicitárias de comida que você vê fora dali. Isso sem falar no apelo colorido das embalagens, nos bichinhos, grafismos etc. Todos sabemos que o público infantil é simultaneamente mais suscetível às mensagens publicitárias e um grande influenciador das compras de uma casa. Jogar com as crianças para aumentar vendas é sustentável?

3) Em alguns casos, a situação pode ser um pouco pior: como o IDEC denunciou no início deste ano, existem indústrias que mentem na tabela nutricional publicada na embalagem de seus produtos para tentar fazer com quem pareçam mais saudáveis.

4) As grandes indústrias, que fazem compras de grande porte, estão provocando mudanças ambientais. Hoje, além da questão da extração do óleo de palma na Malásia, que gerou uma monocultura responsável pela devastação das florestas tropicais daquele país, temos a “farra do boi” na Amazônia: conforme demonstrou relatório do Greenpeace, por trás da devastação estão grandes marcas que compram os produtos derivados do gado bovino criado na região.

5) Mas não se trata apenas de dano ambiental: o desmatamento provoca pobreza, como um detalhado estudo publicado pela revista Science esta semana comprovou.

Quando juntamos as peças deste quebra-cabeça, outras conexões ficam claras. Por exemplo, a responsabilidade de quem financia este mercado. Não por acaso, ontem veio a notícia de que a International Finance Corporation, braço para o setor privado do Banco Mundial, voltou atrás em sua decisão de financiar a expansão na Amazônia do frigorífico Bertin – um dos denunciados pelas ONGs Amigos da Terra e Greenpeace. O Bertin compra gado de produtores ilegais e ampliou suas compras na região depois de ter obtido financiamento da IFC, violando compromisso firmado com a entidade financeira. A prática foi objeto de multas milionárias por parte do IBAMA, contra as quais o frigorífico voltou sua área jurídica.

Essa decisão soma-se ao anúncio conjunto feito por Pão de Açúcar, WalMart e Carrefour de que essas redes suspenderiam o fornecimento de gado amazônico da Bertin e de outros frigoríficos que compram carne de produtores que agem de forma ilegal na Amazônia. Aqui, entra o tal do rastreamento da cadeia de fornecedores – uma das premissas de sustentabilidade previstas pela Global Reporting Initiative e que tem sido a menos cumprida pelas empresas que adotam os relatórios de sustentabilidade .

Há uma responsabilidade enorme sobre os ombros de quem se propõe a nos alimentar – porém a nobreza do ato não exime das responsabilidades sobre as conseqüências do processo produtivo os diversos agentes desta cadeia de valor. Isso inclui eu e você, consumidores. Porque somos o que comemos. Portanto, precisamos sempre nos perguntar se o que comemos é ético.

Sustentabilidade = interdependência. Ou, se preferir, corresponsabilidade.

Indústria Alimentícia, o filme

Uma pena que Food Inc., que estréia hoje nos EUA, não tenha chegado também ao Brasil: o filme traria uma interessante contribuição ao debate sobre o real custo (ambiental e social) da produção de alimentos, que no momento engloba apenas a questão da Amazônia por conta da reação da opinião pública à MP da Grilagem. Porque, para variar, a questão é mais complexa: a produção de alimentos envolve uma riquíssima e poderosa cadeia que se inicia no campo, passa por multinacionais poderosas e conta com o apoio governamental para perpetuar um sistema que gera milhões de doentes ao ano e reduz (mesmo que não intecionalmente) a biodiversidade.

O produtor e diretor Robert Kenner e os autores Eric Schlosser (Fast Food Nation) e Michael Pollán (The Omnivore's Dilemma) buscam provar que a indústria alimentícia tem frequentemente colocado o lucro à frente da saúde dos consumidores, da subsistência dos agricultores, da segurança dos trabalhadores e do cuidado com o ambiente. A tese principal é: toda a tecnologia desenvolvida visa uma produção mais eficiente e lucrativa, independente de suas conseqüências. Daí o motivo pelo qual as grandes empresas do setor alimentício hoje fazem uso amplo de técnicas industriais vinculadas a problemas crescentes, como obesidade, diabetes, salmonela, cepas tóxicas da bactéria comum E. coli, e poluição ambiental. Acusações pesadas, ilustradas por imagens rodadas dentro de unidades de produção de gado bovino e suíno e de frangos. Algumas foram gravadas por trabalhadores imigrantes, mostrando a falta de espaço dos trabalhadores e dos animais.


E antes que você diga: "ei, mas aqui no Brasil não comemos fast food que nem nos EUA!", nos grandes centros urbanos a diferença não é tão grande assim, Coincidentemente, os índices de obesidade e doenças provocadas por uma alimentação inadequada também não mudam muito, quando comparamos São Paulo e Nova York, por exemplo.

Contundente, o filme traz alguns dados sobre o mercado norte-americano que nos fazem pensar até que ponto a indústria alimentícia merece a boa imagem que a opinião pública geralmente lhe atribui:

* Na década de 1970, os cinco principais processadores de carne respondiam por cerca de 25% do market.mercado norte-americano. Hoje, os quatro maiores controlam 80% do mercado.
* Na década de 1970, eram milhares de matadouros. Hoje, são 13.
* Em 1998, o USDA (o Ministério da Agricultura deles) implantou um teste para salmonelas e E. coli e quem falhasse várias vezes teria a fábrica fechada. As associações dos produtores foram aos tribunais e hoje o USDA já não tem esse poder.
* Em 1972, a FDA (a Anvisa deles) realizava 50.000 inspeções de segurança alimentar. Em 2006, foram apenas 9.164.
* Durante a administração Bush, o chefe da FDA foi a ex-VP executiva da Associação Nacional de Processadores de Alimentos.
* Durante a administração Bush, o chefe de staff do USDA foi o ex-lobista da indústria da carne bovina.
* Em 1996, quando introduziu a soja transgênica, a Monsanto controlava apenas 2% do mercado americano dessa oleaginosa. Agora, mais de 90% da soja produzida nos EUA tem genes patenteados pela empresa
* 70% dos alimentos processados têm algum ingrediente geneticamente modificado.
* 1 em cada 3 americanos nascidos depois de 2000 terá diabetes precoce, proporção que se eleva para 1 em cada 2 no caso das minorias.
* Focos de E. coli e Salmonella tornaram-se mais frequentes na América: em 2007, 73.000 pessoas ficaram doentes por causa do E. coli vírus.

EUA e China divergem sobre emissões de CO2

Nas reuniões preparatórias para a Conferência Internacional do Clima, que será promovida pelas Nações Unidas em dezembro deste ano na cidade de Copenhagen, na Dinamarca, uma disputa ganha corpo: China e EUA. Parceiros econômicos estratégicos (a flexibilização do regime comunista deu-se mediante a garantia de consumo norte-americano), as duas potências enfrentam seu primeiro grande desentendimento público na questão ambiental.

Para os EUA em crise, a economia verde foi vendida pelo presidente Barack Obama como um dos caminhos de recuperação. Para a China que ambiciona ser a próxima grande potencia mundial, o desenvolvimento econômico é prioridade absoluta. Mas a queda de braço envolve mais que metas de redução de CO2: envolve mecanismos de financiamento e, eventualmente, transferência tecnológica. Para um país habituado à cópia e a pirataria, é sem dúvida motivo suficiente para endurecer nas negociações. Tanto que o porta-voz do ministério chinês das relações exteriores declarou hoje que o país não aceitará cortes na emissão de CO2 e que está aberto apenas a rever sua matriz energética, comprometendo-se a usar 20% de fontes renováveis até 2020. A meta, idêntica à da União Européia, deve ser facilmente atingida porque a China já começou a investir nesse front: este ano, por exemplo, ela lidera os investimentos em energia eólica em todo o mundo.

Embora o jornal China Daily tenha publicado declaração de um emissário norte-americano concordando que não haverá corte de emissões no império do centro, no britânico Guardian porta-vozes do governo norte-americano alertam que todos os cortes dos demais países não adiantarão nada se a China, que responde por 20% das emissões de CO2 no mundo, não fizer nada.

Nessa batalha de declarações e entrevistas, a posição chinesa ganha força com o anúncio, feito hoje pelo governo japonês, de que o país do sol nascente – quinto maior emissor de CO2 atualmente – se compromete com uma meta de apenas 8% em 2020, em relação aos números de 1990 (base para o Protocolo de Kyoto). Na defesa desse percentual pífio, o governo do Japão alega que se trata de uma redução “pura”, que não contabiliza créditos de carbono, como tem feito a União Européia – obviamente, uma péssima manobra diplomática, já que não torna a decisão mais palatável para o resto do mundo e ainda cria um atrito desnecessário com as nações do velho continente.

Só que a posição retranqueira do Japão fortalece a agressividade chinesa, que junto com Brasil e Índia estão batalhando por metas e mecanismos diferenciados para as nações em desenvolvimento. Ok, 75% do carbono que está no ar foi emitido por países desenvolvidos, portanto a conta deles não pode ser a mesma que a das nações em desenvolvimento ou subdesenvolvidas. Mas isso não pode ser desculpa para que os BRICs prolonguem modos de produção ambientalmente insustentáveis e socialmente injustos – como a prevalência do carvão na matriz energética chinesa ou a MP da Grilagem, no caso brasileiro.

Frente à imobilidade das negociações, um grupo de cientistas do G8 + 5 nações em desenvolvimento (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) divulgou um documento no qual conclama as nações a acelerarem a transição para uma economia de baixo carbono. A iniciativa integra as inúmeras manifestações da comunidade acadêmica e de pesquisas para que as partes envolvidas nas conversas sobre mudanças climáticas comecem a cooperar. Já está mais do que na hora!

Setor de aviação teme Copenhagen

Em seu discurso no encontro anual da Associação Internacional de Transporte Aéreo em Kuala Lumpur, na Malásia, Willie Walsh, presidente da British Airways disparou: se o setor não apresentar uma proposta de trabalho para reduzir suas emissões de CO2, ele poderá ser enquadrado na Conferência Mundial do Clima, que acontece em dezembro deste ano em Copenhagen, Dinamarca – e que traçará novas metas de redução na emissão dos gases que provocam o efeito estufa.

Resumidamente, a história é a seguinte: o setor de aviação só ficou de fora das metas do Protocolo de Kyoto porque prometeu que traçaria um plano de ações para se auto-regulamentar, o que não aconteceu, apesar de mais de uma década de conversas e negociações. Agora, a seis meses da Conferência do Clima de Copenhagen, eles ainda não têm nada para apresentar.

Ocorre que o mercado de aviação é um dos mais regulados do mundo. Óbvio: qualquer acidente é uma catástrofe, como acabamos de ser lembrados pelo desastre da Air France. Por isso, eles têm várias entidades e instâncias de segurança e normas. Só que são entidades burocráticas, com suas próprias idiossincrasias, seus ritos e seus ritmos peculiares – sinônimo de uma agenda nada amigável. Para você ter uma idéia, a próxima reunião da Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) , que é o organismo da ONU que representa as linhas aéreas e que até agora não desenhou uma proposta para o setor, só se reunirá em outubro. Too late, como Mr. Walsh concluiu.

Agora, a esperança das companhias aéreas é a toda-poderosa IATA, Associação Internacional de Transporte Aéreo, o sindicato patronal deles, que representa 230 companhias aéreas responsáveis por 93% do tráfego aéreo mundial. Walsh virou a metralhadora contra a ICAO, questionando sua legitimidade de representar o setor em Copenhagen e conclamando para que a IATA faça essa intermediação. E o trabalho de construção de legitimidade deste interlocutor já começou: hoje mesmo, no site da Conferência, a entidade divulgou uma proposta setorial, que consiste na neutralização das emissões de CO2 com base em melhores tecnologias, aviões mais eficientes e disseminação do uso de biocombustíveis, entre outras medidas. Junto, a IATA já avisou que participar dos mecanismos de negociação de carbono custará ao setor US$ 7 bilhões ao ano a partir de 2020, usando como base a cotação de US$ 65 por tonelada de carbono, e que os custos serão repassados aos passageiros.

Até que ponto há efetivamente uma proposta do setor aéreo ou tudo não passa de jogo de cena para tentar ficar fora das novas metas? Pegando apenas a questão dos biocombustíveis na aviação: havia um painel sobre o tema previsto na programação do Ethanol Summit, que aconteceu entre os dias 1 e 3 de junho aqui em São Paulo. Pois bem: o painel caiu por falta de palestrante. Outro indicativo que preocupa é a ênfase na questão do lobby que permeou a fala de Mr. Walsh em Kuala Lumpur: “fazer-se ouvido”, “temos que nos representar”, “temos que fazer algo para que ouçam nossa voz”. Ele chegou a fazer um mea culpa público porque o setor concentrou seu lobby nos ministros dos transportes de seus respectivos países, e não nos ministérios e departamentos ambientais.

Pois é, não é por acaso que o número de lobbistas lidando com questões climáticas cresceu 300% nos últimos cinco anos nos EUA. Ok, o diálogo integra o DNA da democracia e o lobby é seu instrumento válido e legítimo. Porém, a atividade tem este nome justamente porque quando surgiu, no Parlamento Inglês, só era permitida na recepção do prédio (em inglês, lobby), diante de todos, para assegurar a transparência do processo.

Pelo que tenho lido sobre Copenhagen, parece que há um endurecimento de posições, tanto de setores econômicos, como de países - o bom e velho criar dificuldades para negociar facilidades. Por isso, a participação de todos nós é muito importante. Com a internet, estamos a apenas um clique do site oficial da Conferência, da IATA, do governo norte-americano ou do Itamaraty. Ah, sim, e da imprensa! Não deixe de cobrar uma posição mais clara e firme no trato da questão ambiental: faça-se ouvir você também!

São Paulo sai na frente no combate ao lixo eletrônico

A boa notícia do dia é que a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou um Projeto de Lei que obriga as empresas que fabricam, importam ou comercializam produtos eletrônicos a reciclar ou reutilizar o material descartado, total ou parcialmente. Quando não for possível reaproveitá-lo, será necessário neutralizar o lixo. Para entrar em vigor, falta a assinatura do governador José Serra, o que deve ocorrer dentro de 30 dias. Depois, virá a regulamentação, pela Secretaria do Meio Ambiente, que determinará as normas e categorias de aplicação. O que já se sabe é que o descumprimento da lei implica em sanções que vão de advertência a multas diárias em torno de R$ 14 mil.

A lei paulista sai antes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que está há mais de 10 anos sendo “debatida” no Congresso Nacional. Ou seja, atualmente não há uma legislação que regulamente o descarte do lixo tecnológico (a não ser pilhas e baterias, cobertas por legislação CONAMA). Ocorre que computadores, TVs e geladeiras possuem metais pesados e outros elementos contaminantes do ambiente. Por isso, seu recolhimento pelos fabricantes, quando deixam de ser usados, é uma tendência em todo o mundo.

Quando sair a lei, será importante que fiquemos de olho na forma como os produtos serão reciclados. Nos Estados Unidos, por exemplo, a lei gerou um fluxo de exportações de lixo eletrônico para países em desenvolvimento, como China, Índia e Paquistão, nos quais os custos de reciclagem são 1/15 menores que nos EUA. Só que preço baixo geralmente significa que as externalidades não são computadas.

Resultado: um dano humano e ambiental seríssimo.

Confira o vídeo abaixo, produzido pelo site norte-americano Good, que explica de forma bem didática o risco do lixo eletrônico – e o problema da exportação da reciclagem.



Caso queira mais informações sobre o assunto, clique em LIXO ELETRÔNICO no menu de categorias (tags) que fica no lado esquerdo na tela deste blog.

Clima vitima cinco vezes mais que guerra

Nos últimos dez anos, a média anual de pessoas afetadas por desastres naturais atingiu 211 milhões – número cinco vezes maior do que o de pessoas afetadas por conflitos nesse mesmo período. As contas são das agências de assistência da ONU, que fizeram nesta segunda um apelo para que os acordos que serão firmados no final do ano, durante a Conferência Internacional do Clima de Copenhagen, contemplem o impacto humano provocado pelo aquecimento global.

Eventos climáticos extremos, como enchentes, tempestades, secas, desertificação e a elevação do nível dos oceanos, estão afetando mais pessoas a cada ano – e geralmente os mais pobres e vulneráveis, que já lutam contra a fome, a insegurança e condições precárias de saúde, como outro estudo da ONU já comprovou. Sua intensificação alterará também os padrões de imigração, levando mais pessoas a buscar novos lugares para construir a vida. Para exemplificar, o Comitê Inter-Agências (IASC) da ONU lembrou que mais de 20 milhões de pessoas tiveram que deixar seus lares por conta de eventos relacionados com clima apenas no ano de 2008, segundo um novo estudo conduzido pelo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU e pelo Conselho Norueguês de Refugiados.

Arquitetura verde em Dallas

A recuperação de bairros ou quarteirões degradados sempre traz benefícios econômicos e sociais. Puerto Madero, em Buenos Aires, por exemplo, tornou-se um pólo de escritórios e de restaurantes da moda depois de décadas de abandono. Agora, os novos projetos trazem também um forte viés ambiental.

Este é o caso do antigo estacionamento que ficava em frente à prefeitura de Dallas, no Texas. A ONG Central Dallas Community Development Corporation (CDCDC), com apoio da ONG Urban Re:Vision, realizou um concurso que recebeu projetos de escritórios de arquitetura de 14 países para recuperar o local – e chegou a três finalistas pródigos na sustentabilidade ambiental.

O projeto Forwarding Dallas veio do atelier Data & MOOV, de Lisboa. Baseado em um modelo de colinas e vales, ele comporta pontos para captação de energia solar e eólica que deixam o condomínio autossuficiente. Também incorpora estufas para produção de alimentos, além de muita vegetação para capturar o CO2.

O projeto da norte-americana Little, o segundo finalista, incorpora uma fazenda vertical para produção de alimentos e campos para criação de gado. Os autores incluíram uma instituição de ensino, um restaurante de slow food e um instituto de agricultura orgânica no condomínio, tornando-o um centro de referência para o restante da comunidade.
O terceiro finalista também tem muito verde. Mas diferencia-se dos outros por preservar um prédio que já existe na área da construção como forma de dar maior ênfase à história e à herança arquitetônica de Dallas.

O projeto selecionado será efetivamente construído pela CDCDC, que contará com a ajuda da prefeitura e de créditos fiscais federais, além do apoio de fundações.

Olhando para as imagens acima, lembrei-me do Lula falando que se JK tivesse que construir Brasília hoje, ele não conseguiria licença ambiental para pousar seu avião. Pois é... Nos dias de hoje, o próprio projeto de Niemeyer e Lúcio Costa seria visto como desatualizado. Alguém aí dá um toque pro Andrea Matarazzo pensar nisso quando olhar para a Cracolândia??

Meio ambiente não é só floresta. Mas é também floresta.

A MP da Grilagem foi aprovada esta semana no Congresso. Fiquei indignada e enviei carta de protesto para a Senadora Kátia Abreu, líder da bancada ruralista, com cópia para O Estado de S. Paulo,que a publicou na versão eletrônica do Fórum de Leitores. Resultado: minha caixa de emails está sendo invadida. Alguns se identificam, outros permanecem anônimos. Em comum, há um tom raivoso contra “essa gente da cidade” que não conhece e não entende os problemas do homem do campo. E vários argumentos se repetem: é preciso mais terra para plantar comida; sem agricultura ou pecuária não há condições dignas de sobrevivência na Amazônia; agricultura é desenvolvimento e floresta é atraso; com quê moral vocês que destruíram o Tietê veem falar da gente...

Tem muita frase de efeito que carece de fundamento. Mas há também verdades: a falta de uma política ambiental séria deixa o produtor sério em um imbróglio, pois as atuais estruturas ditas de “preservação” só favorecem a corrupção e o corrupto. A lentidão do Ibama e dos órgãos ambientais estaduais é conhecidíssima para além da fronteira rural! Idem para o jogo de empurra-empurra de responsabilidades que impede a instalação de negócios legais, em todos os sentidos da palavra. Na prática, o governo finge atuar e as pessoas fingem respeitar a lei, como em tantos outros aspectos de nossa vida. Só que agora a questão ambiental adquiriu uma importância que não era percebida antes: dela, depende a sobrevivência de nossa espécie – daí o interesse do povo da cidade pela floresta, daí a pressão internacional...

Ocorre que, como muito bem disse o Christian Gasparotto, de Juara, no Mato Grosso: meio ambiente sem levar em consideração o fator homem não é meio ambiente. Porque meio ambiente não é só floresta.

Meu amigo, você tem toda razão!

Quando falamos de sustentabilidade, é de pessoas que estamos falando. Porque o planeta vai sobreviver, mesmo que a temperatura se eleve 100 graus. Nossa espécie é que pode perecer no meio do caminho. Para que isso não aconteça, precisamos reduzir drasticamente a emissão de CO2. Ou seja, precisamos parar de queimar floresta indiscriminadamente para gado e soja – um cenário que tende a se agravar com a MP da Grilagem.

Mas como já tive a oportunidade de escrever aqui, a sanha dos ruralistas no Congresso está levando os ambientalistas a defenderem uma estrutura que não é defensável. Todos nós sabemos que o atual modelo de defesa do ambiente está equivocado – a começar pelo fato de que não existe uma base de conhecimentos técnicos que permita formatar uma política ambiental séria e eficiente para a Amazônia, como o pessoal do Imazon já cansou de falar. Porque preservar não é só manter árvore em pé: é preciso saber como inserir as populações de forma digna e sustentável nesse meio.

Para que isso fosse possível, seria necessário parar de brigar e começar a cooperar. Pois uma política ambiental legítima e exeqüível precisa incluir o lado do produtor agrícola, do pecuarista, das comunidades da floresta e também de nós aqui, das cidades, que dependemos da função reguladora do clima exercida pela floresta e que precisamos de seus frutos e suas riquezas. Só que isso exige ceder. Na democracia, para ganhar é preciso perder.

Então, não vamos ter a floresta totalmente intocada. Mas ela não será totalmente devastada. O agricultor e o pecuarista terão que focar mais nas áreas degradadas. E nós, contribuintes, vamos ter que pagar impostos para ajudá-los a recuperar tais áreas. Os povos da floresta vão ter aprender o manejo sustentável – e entender seus potenciais e limites. O governo vai ter que parar de criar dificuldades para vender facilidades e se contentar com o dinheiro arrecadado legalmente, por meio de impostos.

Enfim, cada um vai perder um pouquinho – mas, no conjunto, todos poderão ganhar mais do que ganham hoje.

O que não podemos permitir é o radicalismo: meio ambiente sem o homem não é meio ambiente. Mas homem sem meio ambiente não sobrevive.

Estudo da ONU comprova: preservar florestas é o jeito mais eficiente e barato de seqüestrar CO2

Enquanto a Shell e outras multinacionais se orgulham de investir milhões de dólares em mecanismos mirabolantes para captura e armazenamento de carbono, o Programa Ambiental das Nações Unidas divulga hoje um relatório provando queddi a conservação, a reabilitação e a gestão das florestas, turfas, manguezais e outros importantes ecossistemas é muito mais eficiente no combate às emissões dos gases de efeito estufa.

Segundo o relatório, estimativas recentes indicam que as atividades humanas são responsáveis por emissões globais de carbono de cerca de 10 gigatoneladas (Gt). A mesma pesquisa indica que pode haver margem para combater 15% destes, talvez até mais, por meio da gestão dos solos. Segundo Achim Steiner, sub-secretário-geral e diretor executivo do PNUMA, sistemas vivos são capazes de seqüestrar mais de 50 Gt de carbono nas próximas décadas. O relatório aponta florestas tropicais, turfeiras e uma agricultura mais sustentável como prioridades.

As florestas tropicais detêm a maior capacidade de armazenamento de carbono terrestre, com uma aceitação global anual de cerca de 1,3 Gt de carbono, ou cerca de 15% do total das emissões de carbono resultantes das atividades humanas. Mas as taxas globais de desmatamento das florestas tropicais alcançam atualmente atuaaatualmente 14,8 milhões de hectares por ano (aproximadamente o tamanho do Bangladesh), enquanto o desmatamento é responsável por quase um quinto das emissões globais de gases com efeito estufa - mais do que todo o setor dos transportes.

Reduzir as taxas de desmatamento em 50% até 2050 e, depois, mantê-las neste nível até 2100 evitaria a liberação direta de até 50 Gt de carbono neste século, o equivalente a 12% das reduções das emissões necessários para manter as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono abaixo 450ppm. A melhoria da exploração madeireira pode reduzir as perdas de carbono em cerca de 30% em comparação com técnicas convencionais.

O setor agrícola pode facilmente alcançar ganhos maiores no armazenamento de carbono, se utilizar boas práticas de gestão, como evitar virar o solo e utilizar nutrientes naturais compostagem e esterco. Até 6 Gt de CO2 poderiam ser seqüestrados por ano até 2030, o que é comparável ao atual das emissões provenientes do sector agrícola. Em outras palavras, a agricultura poderia ser neutra na emissão de CO2 até 2030 apenas utilizando boas práticas. Detalhe: muitas delas têm custo reduzido ou nulo. A maior parte desse potencial – 70% - pode ser realizado em países em desenvolvimento.

O custo da gestão dos ecossistemas é muito baixo em comparação com outras formas de "energia limpa". A gestão de pastagem, fertilizantes e fogo em pastagens custam US $ 5 por tonelada. A recuperação de solos degradados e terrenos custam cerca US$ 10 por tonelada, enquanto que os custos de captação e armazenamento de carbono tecnológico são estimados em US$ 20-270 por tonelada de dióxido de carbono. E se as emissões de carbono foram avaliadas em US$ 100, em 2030 o sector agrícola seria potencialmente o setor mais importante para atingir reduções de carbono.

Informações mais detalhadas podem ser obtidas aqui.
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