Comunicação: lições da crise econômica

Para encerrar o ciclo de textos sobre as palestras da 12ª. edição do Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, realizado esta semana em São Paulo, volto a escrever sobre a Alcoa – desta vez, sobre a palestra de Jack Bergen, vice-presidente mundial de Comunicação da empresa. Falando diretamente de Nova York, ele focou nos efeitos da crise econômica sobre a comunicação corporativa – e compartilhou percepções e dicas importantíssimas para quem trabalha na área.

Segundo Jack, a confiança nas empresas caiu em média 62% em todo o mundo. Na Islândia, ela caiu 83%. Nos Estados Unidos, 77%. Em linha com a tese da marolinha, no Brasil a queda foi de apenas 21%. O desafio dos profissionais de comuicação corporativa em todo o mundo, portanto, é reconquistar a confiança que a sociedade (e o governo, atualmente pressionado pela opinião pública para regular mais) depositava nas empresas. Ah, e nos seus presidentes, ou CEO´s também: em sua palestra, Jack falou que menos de um terço deles são considerados confiáveis.

Uma nova categoria de fontes de informação ganhou força com a crise econômica: os acadêmicos, os estudiosos, o pessoal das universidades, os especialistas. Estes foram os únicos a ganhar a confiança pública desde que a crise eclodiu. Porque junto com os CEOs, perderam credibilidade os analistas financeiros, os governantes e até as organizações não governamentais.

Dentro das empresas, quem tem mais credibilidade é o funcionário – ainda assim, apenas 40% (percentual que parece um paraíso quando comparado aos 13% de confiança que a publicidade das empresas desperta, ou dos 27% do contato direto com a gerência sênior).

Com base nesse cenário, Jack ofereceu uma saborosa “receita de bolo” para quem trabalha com comunicação:

• Trazer os especialistas para o lado das empresas – isso inclui os jornalistas, com quem as organizações precisam dialogar mais e melhor;
• Transforme seu presidente em um expert, em um pensador, em um especialista.
• Informe e engaje (argh!) seus colaboradores.
• Mantenha o diálogo contínuo com todas as partes interessadas.

Ah, sim: e faça tudo isso com transparência e, sobretudo, verdade – sem este último item, não há credibilidade.

Reciclar pessoas

Ciente de que seu produto é feito de materiais recicláveis, mas que não eram reaproveitados por não haver tecnologia que separasse o plástico, o papel e o alumínio que compõem uma embalagem longa vida, a Tetra Pak investiu recursos técnicos e financeiros no desenvolvimento de maquinário adequado, procurou empreendedores dispostos a apostar neste novo negócio, identificou cooperativas de catadores, conversou com o varejo. Em suma, organizou a cadeia produtiva da reciclagem de suas embalagens.

Mas não basta ter a cadeia produtiva: é preciso ter matéria prima para que ela opere. Por isso, a empresa desenvolveu o site http://www.rotadareciclagem.com.br/, onde é possível encontrar o ponto de coleta mais próximo de sua residência. E realizou uma campanha, desenvolvida em duas fases. A primeira, de call-to-action, ou seja, mobilização, envolveu ações nos pontos de venda (detalhe: sem custo, porque os supermercados aderiram à causa) e merchandising em programas de TV, além de um concurso cultural e mídia na internet. Na segunda fase, institucional, a empresa foi para TV e mídia impressa. Juntas, elas geraram mais de 136 mil consultas aos endereços dos pontos de coleta no site www.rotadareciclagem.com.br, elevando o volume de embalagens retornadas para reciclagem para as 50 mil toneladas / ano almejadas para esta etapa.

Mas talvez o resultado mais significativo seja a transformação na vida das pessoas envolvidas. Não deixe de ver o vídeo abaixo, com depoimento de um dos catadores de uma das cooperativas envolvidas no projeto: nele, fica evidente como uma ação de cunho ambiental torna-se mais viva e completa ao incluir o aspecto humano.



Depois de ver esse vídeo, você ainda acha que seu condomínio deve se apropriar dos recursos gerados pela reciclagem? Converse com seus vizinhos, com seus amigos e com o síndico: opte pela doação do seu lixo reciclável para cooperativas. Assim, você não reciclará apenas o lixo: você reciclará seres humanos.

12º. Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa: um balanço

Terminou hoje a 12ª. Edição do Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, realizado pela Mega Brasil, que reuniu o que está acontecendo de melhor e mais atual no setor. E depois de uma maratona de três dias de palestras com cases nacionais e internacionais, não tenho dúvidas: vivemos a era da incerteza

A imprensa não sabe como será seu futuro. O advento da internet não modificou apenas o timing e o formato da notícia: ela alterou a própria cadeia produtiva da notícia, que agora sai das mais inúmeras e variadas fontes diretamente para o leitor / espectador de blogs, Twitter, YouTube e redes sociais. Trata-se de um processo sem controle que, sim, tangencia a questão da credibilidade. Porém de uma maneira mais positiva do que negativa: se existem alguns cases de atitudes irresponsáveis que podem comprometer levianamente marcas respeitáveis, na maior parte das vezes nos deparamos é com uma impensável transparência que exige de todos – empresas e comunicadores – uma postura mais verdadeira, com maior coerência entre discurso e atitude.

Fiquei impressionada com a quantidade de palestras com dica de como agir na internet e, principalmente, com o fato de que tais dicas invariavelmente abordam a necessidade de ouvir, de falar de igual para igual e de ser transparente – evidências de que talvez a comunicação das empresas não ouvisse, não fosse transparente e não falasse de igual para igual. Isso é preocupante porque vai contra todo o discurso corporativo do nosso setor, que sempre pregou isso, mesmo antes da web 2.0.

Esse ruído foi bem captado pelas pessoas que, em função da crise, questionam a idoneidade das empresas e a credibilidade do discurso controlado e burocrático das empresas. Não custa lembrar que embora os cases de notícias e vídeos mentirosos chamem mais nossa atenção, foi no mundo offline que se deu a grande crise de credibilidade, no esteio da crise financeira. Foi fora da internet que caiu a reputação de marcas, de presidentes de empresas, de agências de rating, de governos e até de ONGs. Foi fora da rede que se percebeu que a fonte direta – os funcionários das empresas – é mais verdadeira.

Arrisco-me a dizer que a crise da mídia tradicional vem “por tabela”: a necessidade da função jornalística Edição, defendida apaixonadamente neste Congresso, talvez não seja tão valorizada pela sociedade por ser confundida com esse controle da comunicação que impediu a transparência das relações. Daí a maior confiança na fonte direta, como demonstrado em inúmeras pesquisas citadas ao longo do Congresso. Mas isso é só um palpite meu, sujeito a pedradas de vários lados...

Mas se a falta de controle passa uma sensação de veracidade para as pessoas, para as empresas ela é entendida como risco. Porque no século passado, a empresa tinha o controle sobre sua comunicação e sua marca. Ainda hoje, ela é contabilizada como um ativo no balanço contábil. Há uma dificuldade em entender que no século XXI as marcas são dos consumidores, que as ressignificam a cada relação de compra e uso e também no contato com outras pessoas. É difícil embarcar em relações nas quais não há mais o controle, mesmo mediante todos os bem-sucedidos cases proporcionados pelas oportunidades geradas pela participação de terceiros. Aliás, aprendi um termo ótimo para designar isso: gestão da falta de controle!

Ao abrir mão do controle, criam-se as brechas para a participação e a criação coletiva. Mas ninguém vai participar e criar voluntariamente para dar lucro para uma empresa, certo? Isso só acontece quando há um significado que é compartilhado por vários stakeholders (outra palavrinha horrorosa da moda). Isso faz com que as ações de relacionamento ganham em relevância. Tornam-se preferenciais. Obtêm adesão espontânea, comprometimento e, em caso de crise, defesa por terceiros. O termo técnico para isso é engajamento. Quem fez a tradução direta e grotesca do inglês “engajement” conseguiu alijar o termo de todo seu élan. Afinal, aliança (de casamento, noivado) é engajement ring. Ou seja, engajamento é envolvimento, enlaçamento. E aqui está outro ponto alto do Congresso, que mostrou como as ações que trazem resultados efetivos para as empresas estão baseadas em ações de “engajamento” (argh!). Em outras palavras: o significado da relação está se tornando mais importante que a forma, em um mundo de formas e canais tão abundantes.

E é aqui que Sustentabilidade, Web 2.0 e Comunicação Corporativa se unem: em todos os casos, o desafio é dar um novo sentido às ações e ao discurso que comunica tais ações. Um sentido que seja escolhido por todos e, portanto, relevante – ou , para usar mais um termo feio que está na moda, “material”. Um sentido que seja compartilhado pelas partes interessadas e, portanto, legítimo. Um sentido que permita que todos participem, criem em colaborem em pé de igualdade. Que favoreça o diálogo e a mudança / correção de rota mediante o feedback desse diálogo.

E no meio de toda essa transição, está o coitado do comunicador. Que agora acumula novas funções. E que precisa de novos conhecimentos. E de novas habilidades. E que não conta nem com escola, nem com manual que lhe ensine como fazer as coisas. E que, por isso, encontra-se tão inseguro como as empresas e a imprensa.

Não por acaso, as palestras mais reconfortantes eram as que colocavam nossos pés no chão e diziam: use o bom senso. Não queira fazer tudo ao mesmo tempo. Mas, quando fizer, faça com estratégia, com objetivos e parâmetros. Neste ponto, o mundo 2.0 nos traz uma lição inestimável: mais vale ter uma relação de qualidade com os nichos que influenciam a sociedade sobre sua marca do que com a massa que não mantém relação de significância com ela. Tags, e não números, passam a ser a moeda que mensura os resultados. Porque, sim, precisamos perder essa mania de achar que não dá para medir os resultados da comunicação. Porque somente medindo – e em métricas compreensíveis fora do mundinho – é que conseguiremos valorizar a atividade (em todos os sentidos da palavra).

Porque o ser humano só valoriza o que é medido e só mede o que tem valor: mais uma das lições da sustentabilidade entrelaçadas na web 2.0 e que norteará a nova comunicação corporativa.

Vale a pena fazer bem feito

No segundo dia do Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa(*), tive o privilégio de mediar a apresentação do case Prêmio Brasileiro Imortal, da Vale, apresentado por Mônica Ferreira, Gerente de Relacionamento com Imprensa da empresa. Aliás, mediar não é o verbo mais apropriado, pois o que fiz foi babar diante da criatividade e da abertura do novo que a Vale apresenta.

Trata-se de uma história que demonstra, na prática, várias das teorias que ouvimos em aulas sobre sustentabilidade. A primeira delas: que o olhar da sustentabilidade pode entrar por qualquer porta da empresa. Pois este case entrou pela Assessoria de Imprensa. E de forma despretensiosa: tudo começou quando eles se questionaram sobre o número de árvores que a Vale já plantou ao longo de sua trajetória e descobriram que a empresa não tinha esse número. Atrás dele, vieram informações sobre o trabalho de preservação da flora – incluindo a pesquisa de novas espécies nas áreas mantidas pela companhia.

Na reserva de Linhares, que fica em município homônimo localizado no estado do Espírito Santo, seis novas espécies já haviam passado por toda a burocracia de comprovação de que não estavam catalogadas. Como é praxe na botânica, toda nova espécie recebe um nome. Há regras para isso: são sempre duas palavras, ambas em latim – a primeira, para a família à qual ela pertence; a segunda, a espécie. Assim como acontece com os humanos, também para as plantas não se escolhe o nome da família. Mas o da espécie, sim. E aí surge o problema: que nome dar ao bebê? Pois embora tenham sido descobertas em áreas da Vale por pesquisadores da Vale e com recursos da Vale, as novas espécies não pertencem à Vale, mas sim a todos nós. Ter a sensibilidade para perceber isso e não se arrogar o direito de colocar nomes relacionados à própria empresa (como alusões à marca ou ao nome do presidente) é outra lição de sustentabilidade.

Para solucionar a questão do nome , a assessoria de imprensa da Vale teve a idéia de fazer um concurso aberto ao público. A escolha se deu a partir de uma pré-seleção realizada por um conselho de notáveis, o que assegurou a legitimidade das indicações: três para cada categoria (cinco regionais, representando as localidades onde a Vale está presente, e uma nacional). A votação foi feita pela internet em plataformas que permitiam a participação dos públicos externo e interno da empresa. Além da divulgação pela imprensa, o concurso contou com publicidade na web e na TV. Mais algumas lições de sustentabilidade (transparência, busca de legitimidade, participação das partes interessadas).

Essa foi a espinha dorsal que permitiu a organização de diversas ações de divulgação e educação, como visitas de jornalistas à reserva de Linhares, para conhecer in loco o trabalho de pesquisa e preservação, e concurso de frases sobre responsabilidade ambiental para mensurar o nível de compreensão sobre este tema. Gerou uma edição especial de selos do Correio, com as imagens das novas espécies. Permitiu, ainda, incluir uma homenagem à então recém-falecida Ruth Cardoso, que não constava na lista inicial.

Como a própria Mônica ressaltou no início de sua apresentação, na Vale o desafio é fugir dos superlativos. Então, para um concurso que premiaria 10 frases, eles receberam mais de 200 mil. Em um concurso para dar nomes brasileiros a espécies brasileiras, acessaram o site pessoas de 97 países (detalhe: a Vale está presente em uns 30).

Este ano, nova edição do Prêmio deve ser lançada – mas, com “algumas complicações a mais”, como brincou Mônica. Porque fazer as coisas direito nem sempre é simples ou fácil. Mas sempre vale a pena.
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(*)12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa
De 27 a 29 de maio de 2009
Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, SP
Realização: Mega Brasil – www.megabrasil.com.br

A sustentabilidade, segundo a Alcoa

Tive o prazer de acompanhar a palestra de Nemércio Nogueira, diretor de Assuntos Institucionais da Alcoa, no 12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa (*), a qual teve início com uma proposta instigante: demonstrar como a Alcoa tem o direito de usar seu atual slogan “Sustentabilidade é a nossa natureza”.

Para tanto, ele lembrou que quando a empresa se instalou no Brasil, na década de 60, não havia legislação exigindo a revegetação de áreas mineradas. Por consequência, não havia know how em nosso país – ninguém sabia como fazer! Pois a Alcoa criou um sistema de revegetação, inspirando-se no modelo australiano (na época, o mais avançado), porém adaptando-o às condições locais de Poços de Caldas, MG, por meio de parcerias com universidades (Viçosa, Lavras, USP, Unicamp). A legislação que passou a exigir tal prática das mineradoras só veio em 1988 – e o primeiro manual do Ibama a respeito, publicado em 1990, foi redigido por um funcionário da Alcoa.

Já no final dos anos 70, a empresa decide abrir uma unidade fabril na ilha onde fica São Luís do Maranhão. Os habitantes, na época sem familiaridade com a atividade industrial, receberam a notícia com desconfiança. Ou melhor: com a boca no trombone, já que era o fim da ditadura e todos estavam ávidos para se expressar. A democracia era mote e, em sintonia com o zeitgeist, a Alcoa firma três compromissos éticos para atender as demandas da população: 1) elevar a qualidade de vida; 2) alavancar a economia local; 3) conservar o meio ambiente. Tais compromissos foram atendidos por meio de investimentos que permitiram o fornecimento estável de água e energia elétrica à população; a implantação de um projeto ambiental sofisticado, que já incorporava um parque ambiental dentro da área da fábrica; geração de impostos e apoio ao desenvolvimento de fornecedores locais; e com o investimento social externo conduzido pelo Instituto Alcoa.

Hoje o desafio é Juruti, no norte do Pará. Esse pequeno município, que em seus 125 anos de história só recebeu a visita de um governador do Estado há três anos (por conta do projeto da Alcoa), está entrando no mapa da sustentabilidade da indústria mundial de mineração. Pois é objetivo da Alcoa criar um modelo de implementação aplicável a outros lugares no Brasil e nos demais países onde a empresa atua. Para tanto, a companhia investiu no diálogo com as partes interessadas - em sintonia com a absoluta liberdade de expressão, com a tolerância institucional aos movimentos sociais e com a comunicação global instantânea que caracterizam nossos tempos.

A principal parte interessada é a comunidade local. Pois para ela, além dos mecanismos de diálogo já previstos em lei (como as audiências públicas), foram criados canais e ferramentas específicas de interação com a Alcoa e com as outras partes interessadas: as demais empresas que atuam na região, o poder público e ONGs. Juntos, eles integram o Conselho Juruti Sustentável, modelo desenvolvido pelo Centro de Estudos da Sustentabilidade da FGV que prevê a efetiva participação das partes, a construção de indicadores materiais (no sentido AA1000 do termo, ou seja, definidos pela comunidade) e a criação de um fundo de desenvolvimento, que, neste caso, é gerido pelo Funbio. Trata-se de uma audiência pública permanente, segundo Nemércio.

Se o diálogo é diferente, a compensação ambiental não poderia ser a mesma. E não é: ciente de que os recursos são finitos e de que um dia a mineração acabará (ainda que daqui a um século), a empresa está fazendo investimentos maciços (financeiros, humanos e técnicos) para elevar o IDH do município e reduzir a dependência da população local. Detalhe: os investimentos foram definidos em conjunto com a comunidade, em audiências públicas em Juruti, Santarém e Belém que, juntas, reuniram oito mil pessoas.

Ao final, Nemércio destacou que sustentabilidade é comportamento – é a alma da companhia: “ Em épocas de crise, pode ser que seja inevitável cortar projetos. Mas não se corta atitude. Ela permanece naquilo que sobreviveu aos cortes. Não se pode encarar sustentabilidade como um projeto, mas como uma maneira de ser. Esta é a única maneira de se pensar isso, senão vira campanha de RP. E sustentabilidade não é marketing, não é RP, é muito mais que isso”.

Para mim, ficou provado que a Alcoa tem o direito de usar o slogan “Sustentabilidade é a nossa natureza”. E você, o que acha?

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(*)12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa
De 27 a 29 de maio de 09
Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, SP

Cobertura: http://12cong.blogspot.com/
Realização: Mega Brasil –
www.megabrasil.com.br

Porque ninguém é sustentável 0% ou 100%

Você certamente já ouviu falar do Nano, celebrado com o carro mais barato do mundo (menos de US$ 2 mil). Pequeno e econômico (20 km por litro), ele já acumula 203 mil encomendas desde abril deste ano, quando foi colocado à venda na Índia. Seu fabricante, o grupo Tata, não conseguirá atender a esta demanda e terá que sortear as primeiras 100 mil unidades, que serão entregues a partir de julho. O público-alvo, naturalmente, são pessoas até então alijadas do mercado automotivo pelo fator preço – porém ávidas pelo conforto e pelo status que um carro proporciona. Tanto que, sem chegar às ruas, o Nano já responde por 17% do mercado local. Detalhe: apenas 2% dos 1,2 bilhão de indianos tem carro hoje. Dá para imaginar o potencial desse mercado?

Um carro eficiente no consumo de combustíveis, que permite a inclusão de milhares de consumidores a uma forma de transporte amplamente reconhecida como mais digna e que gerará empregos em seu fabricante, lucros e dividendos. Uma boa notícia, portanto, dos pontos de vista ambiental, econômico e social. Ou não?

Vamos fazer uma conta tosca: imagine que um centésimo da população indiana adquira o Nano. Seriam um milhão de carros a mais no mundo. Imagine que cada carro rode pouco, uns 5 mil km por ano. Como o carro faz 20 km por litro, seriam apenas 2,5 milhões de litros de gasolina a mais em consumo por ano. Um carro 1.0 movido a gasolina libera 2,3 kg de CO2 por litro de combustível. Usando essa estatística, o total de nossa frota hipotética liberaria 5,75 milhões de quilos de CO2 na atmosfera. Ou seja, do ponto de vista ambiental, a economia proporcionada unitariamente não conseguirá reverter a curva ascendente provocada pelo conjunto da frota que será adicionada nas ruas do planeta.

Só que é complicado falar disso, né? Afinal, com que direito aqueles que consomem há décadas, há séculos, devem agora ter pruridos com a entrada de novos consumidores no mercado? Quem sou eu, que há anos usufrui o conforto de um carro próprio (mesmo sendo um Uno Mille) para sugerir que milhares de pessoas devem deixar de ter tal regalia em prol do ar que respiramos?

A necessidade de reduzir (se possível, eliminar) as causas do efeito estufa convive com o direito à dignidade humana – a qual é entendida, na nossa sociedade, como consumo e conforto (entre outras coisas). Essa percepção, tão disseminada a ponto de ser vista como algo “natural”, não tem nada de natural: ela é fruto de um determinado sistema econômico (capitalismo), de uma determinada cultura (ocidental) em um determinado momento histórico (pós-revolução industrial). Trata-se de uma percepção de direito que, no fundo, é extremamente desrespeitosa com o ser humano. Pois ela se baseia na objetivação da dignidade: ter dignidade significa ter bens (e não ser digno). Ter é ser incluído, não ter é ser excluído.

Voltando ao Nano: o maior acesso ao produto proporcionado pelo preço baixo não quebra o paradigma de inclusão / exclusão de seres humanos pelo que eles têm ou não têm. Sei bem do que estou falando: dirijo um Uno Mille. Todo dia ele me lembra que pessoas não respeitam pessoas: pessoas respeitam dinheiro.

O problema é que não existe um imaginário disponível para substituir o que foi criado pela sociedade de consumo. Se de um dia para o outro acabarmos com o consumo, tal como o entendemos hoje, todos – eu, inclusive – nos sentiremos muito injustiçados. Não contamos ainda com uma rede cultural que dê apoio à transição da nossa psique de um modelo de consumo para outro qualquer.

Se o Nano apenas reforça paradigmas de exclusão social, não é justo cobrar do Grupo Tata que ele quebre tais paradigmas. Isso vai muito além da função de uma empresa, por mais sustentável que ela seja. O máximo que ela poderia fazer seria unir-se em rede a outros agentes de mudança (escolas, ONGs, governo) e participar do processo. Mas duvido que eles estejam fazendo isso: se do ponto de vista do negócio, o Nano foi uma tacada de mestre para a Tata, do ponto de vista macroeconômico, ele nada mais é que a extensão da atual dependência de combustíveis fósseis (ele não foi concebido para rodar com biocombustíveis). Se nem isso fizeram...

Em Israel: corujas no lugar de pesticidas

Em Israel, corujas e falcões estão sendo usados para controlar pestes agrícolas com o objetivo de reduzir a quantidade de insumos químicos na agricultura local.

Esta tática parte da própria cadeia alimentar natural da região, composta por centenas de corujas e falcões. O alvo são os roedores que atacam e danificam as lavouras. Ironicamente, algumas dessas espécies estão ameaçadas de extinção justamente por se alimentar de ratos altamente contaminados com o veneno usado para gerenciar sua população, de acordo com a BirdLife International.

Os cientistas de Israel estão trabalhando com os produtores locais nessa mudança de foco, do pesticida para o controle natural. A abordagem é relativamente simples: fazendeiros instalam ninhos como forma de atrair e reter aves de rapina. Uma vez habituados ao local, eles passam a caçar os roedores, reduzindo sua população.

O uso de aves de rapina no combate aos roedores que atacam as lavouras começou em 1983, quando alguns ninhos foram construídos perto de um kibbutz no vale de Bet-She´na, ao sul do Mar da Galiléia. Primeiro, vieram as corujas. Depois, os falcões. A combinação tem um motive: falcões caçam de dia; corujas, à noite. Desta forma, é possível manter um controle dos roedores 24 horas por dia.

Em Israel, esta prática já se constituiu em um programa financiado pelo governo. Agora, entidades conservacionistas e cientistas palestinos e da Jordânia procuram informações para se unir à iniciativa. De acordo com o World Owl Trust, existem hoje cerca de mil ninhos de corujas em Israel. Em uma delas, a entidade instalou uma webcam para acompanhar o comportamento das aves.

Encontro com o desconhecido

Converse com qualquer pessoa que lida com sustentabilidade e muito provavelmente você ouvirá que não existem respostas prontas às questões trazidas por esta nova forma de olhar o mundo. É uma jornada para o desconhecido.

Por isso, acho que vale a pena assistir à palestra do filósofo Renato Janine Ribeiro sobre o Encontro com o Desconhecido. Ela faz parte do Café com Filosofia, um dos programas do projeto CPFL Cultura , que tem veiculação pela TV Cultura e está disponível no Google Video.




Para quem não conhece: Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, na qual se doutorou após defender mestrado na Sorbonne. Tem se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a idéia de revolução, a democracia, a república, a cultura política brasileira. Entre suas obras destacam-se "A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil" (2000, Prêmio Jabuti de 2001) e "A universidade e a vida atual - Fellini não via filmes" (2003).

Pessoas: é disso que estamos falando!

O termo sustentabilidade tem sido muito associado a problemas ambientais. Ok, eles fazem parte da questão – mas não a esgotam. Pelo contrário! Dentro da equação pessoas-finanças-planeta que sustenta o conceito de sustentabilidade mais aceito atualmente, o planeta é a parte menos ameaçada. Ou você acha que 2, 5, 10 ou 100 graus a mais de temperatura afetarão a existência do planeta? Vênus, aqui do nosso ladinho (em termos astronômicos), tem temperatura de 460⁰C e não se desintegrou até agora por causa disso!

A Terra já passou pela era do gelo, por colisões com meteoros, por nuvens de CO2 advindas de erupções vulcânicas que impediam a passagem da luz do sol... E sobreviveu! Mais: sobreviveu com vida! A questão é que nossa forma de vida, a humana, só sobrevive em condições bastante específicas de temperatura, composição da atmosfera, oferta de água potável e comida. Então, quando se fala de mudança climática e tudo o mais, o foco não é a salvação do planeta, mas a salvação de nossa própria pele.

Se é assim, por que o debate sobre sustentabilidade tornou-se tão verde a ponto de colocar as outras nuances na sombra? Mesmo considerando que esse debate não é neutro e que carrega vários interesses econômicos e políticos, ainda assim: por que a opinião pública comprou a questão ambiental mais facilmente que outras?

Minha humilde contribuição para se chegar a uma resposta satisfatória: porque é mais fácil. É mais fácil sensibilizar-se com imagens de ursos polares que não conseguem gelo firme para caminhar, indignar-se com a derrubada da Floresta Amazônica ou horrorizar-se com os desastres naturais associados ao aquecimento global. É mais fácil associar o problema a um terceiro – o “ambiente”, o “planeta”, fortes candidatos a terem o mesmo destino do “sistema” dentro de nosso vocabulário (e imaginário).

Não estou dizendo que o foco na questão ambiental não é importante. Claro que é! Dela depende nossa sobrevivência e de centenas de outras espécies de vida que, como nós, precisam de condições específicas de temperatura, atmosfera, umidade e alimento. Estou apenas dizendo que a atual ênfase na questão ambiental desvia o foco do debate do que realmente interessa, que são as pessoas.

Porque são pessoas que queimam e desmatam, invadem áreas de mananciais, contaminam água e solo, insistem em práticas de produção de alimentos pouco sustentáveis... São pessoas que fazem e desfazem leis e protocolos que proíbem ou permitem as práticas que estão causando as mudanças climáticas...

Mas mexer com pessoas é mais difícil do que com ursos pandas: bastou o governo chinês investir na questão para a espécie começa a se recuperar. Agora, mexer em uma das economias que mais polui, em uma das culturas que menos respeita o trabalhador e a mulher, aí é bem mais difícil, né? Pois isso implica em mexer com interesses políticos e econômicos (mas esta não é a parte mais difícil). Exige também mudanças na educação e nas leis (esta também não é a parte mais difícil).

O problema é que mexer com pessoas é mexer com corações e mentes. E tem muita gente que não quer mudar (inclusive gente que conscientemente diz que quer). Porque uma coisa é pregar a responsabilidade, a tolerância, o consumo consciente etc. etc. Outra coisa é exercer. Quem não conhece alguém com a ética na ponta da língua, mas que tem amante, sonega, discrimina na hora de contratar etc. etc.? Quem não conhece alguém fique indignado com a devastação da Floresta Amazônica, mas sequer separa seu lixo para reciclagem?

Contradição? Hipocrisia? Cada caso é um caso, mas a verdade é que não é um caminho fácil, seja do ponto de vista individual ou coletivo. Inclusive porque algumas decisões e atitudes contrariam mecanismos atávicos de auto-valorização de nosso ego (como o desperdício como exibição de poder, por exemplo).

Enfim, a questão do porquê a sustentabilidade corre o risco de se tornar sinônimo de questões ambientais certamente não foi respondida com este texto. Mas espero ter contribuído para lembrar que é de pessoas que estamos falando. O tempo todo.

Já que hoje é Shabbat...

Desde que apareceu a primeira estrela no céu antes do por do sol, teve início o Shabbat, dia de descanso que marca o encerramento da semana na cultura judaica. Bom momento para lembrarmos que apenas nesta semana foram descobertas duas gangues que planejavam atentados em sinagogas: uma, aqui no Brasil; outra, nos EUA. Não se tratam de eventos isolados: segundo o Congresso Judaico Europeu, o número de incidentes de anti-semitismo durante os três primeiros meses deste ano já superou o total registrado em 2008.

Estes fatos evidenciam um recrudescimento no antissemitismo, já sinalizado pelo discurso do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na cúpula da ONU sobre racismo (que ironia!), pelas declarações do bispo Richard Williamson, negando o holocausto e, mais recentemente, pela indicação de Farouk Hosny à UNESCO (e que, por razões insondáveis, o Brasil apóia!).

A questão é: por que?

Faz sentido atribuir esse tipo de postura ao desgaste de imagem provocado pela invasão da Faixa de Gaza? O evento, que coincidiu com o fim da era Bush, de amplo e irrestrito apoio a Israel, certamente favoreceu uma atitude global mais enfaticamente crítica em relação a Israel. Mas aqui o foco é a existência ou não dos dois estados, palestino e israelense (dependendo se o ponto de vista da discussão é muçulmano ou radical judaico) e não o direito à existência e o status do povo judaico.

Faz sentido facultar a crença na suposta inferioridade de uma raça à crise econômica mundial, cujas causas são identificadas no setor financeiro – a atividade econômica mais umbilicalmente associada ao povo judaico desde a Idade Média? Afinal, junto com alguns nomes de origem judaica, como Bernard Madoff, vieram inúmeros outros sem qualquer relação religiosa ou genética com o povo de Israel.

Estas não são as causas, certo? São gatilhos de algo que já existia e que permanece na sombra (no sentido junguiano do termo) de nossa cultura: a convicção de que a diferença entre pessoas é qualitativa. Traduzindo: que um é melhor que o outro. Traduzindo de novo: que para que eu seja bom, o outro tem que ser ruim.

Trata-se de um modelo mental tão disseminado que sequer nos damos conta dele. Achamos natural debochar e ironizar com os jeitos e trejeitos da colega de trabalho, do chefe, da vizinha, da artista da novela... Sequer percebemos que, ao fazer tais comentários, estamos afirmando: eu não faço o que ele(a) faz, eu não sou como ele(a), eu sou melhor!

São as duas faces de uma mesma moeda: por trás do processo de negação do outro está a afirmação do Eu - eu sou melhor, eu sou mais puro, eu sou mais digno... Meu grupo tem mais direitos, tem mais história, meu Deus é mais verdadeiro... As facetas são múltiplas, mas a raiz é uma só: uma balança na qual a minha exaltação ocorre na exata proporção da degradação do outro.

E quanto mais eu me exalto, mais degrado o outro. Para ter uma raça pura (ariana, branca, heterossexual, masculina), tenho que ter uma raça impura (judeus, negros, gays, mulheres). Essa divisão coloca um imperativo: você não é igual a mim. Você não é gente, portanto as regras que se aplicam a mim e ao meu grupo não se aplicam a você. Sim, é um raciocínio / emoção que chega a ser tacanho, de tão simplório – mas que permeia nossa sociedade e que gera, no indivíduo, a sensação de legitimidade por seus atos de barbárie.

Trata-se de um tema que tem que ser encarado com seriedade por todos: pelas empresas, que tentam construir uma identidade corporativa junto a seus colaboradores - até que ponto eu incluo a diferença nessa identidade? Que espaço abro para mulheres e negros e gays e portadores de necessidades especiais? Até que ponto demonizo meu concorrente, obrigando meus colaboradores a um consumo compulsório dos meus produtos?

É um tema que precisa entrar também na pauta de governos e entidades da sociedade civil organizada que contribuem para a criação das identidades nacionais: preciso mesmo desvalorizar os argentinos para valorizar a brasilidade? Precisa permear a forma como pais e professores lidam com crianças e jovens: até quando vamos admitir as piadas contra gays e loiras? Precisa, por fim, ser introjetado nos parâmetros de decisão de compra: até que ponto a busca pelo preço baixo não se faz às custas da dignidade humana do trabalhador? E até que ponto eu incentivo uma prática de preço alto apenas para excluir do consumo de determinado produto uma parcela significativa da humanidade?

Shalom!

Sobre o carro a hidrogênio e a democracia

Tô bege: o Obama cortou a verba de pesquisa para desenvolver carros movidos a hidrogênio. Motivo? O presidente norte-americano e seu secretário de Energia, Steven Chu, acreditam que os carros movidos a hidrogênio estão décadas longe do alcance do consumidor e, por isso, eles preferem redirecionar os recursos para soluções mais imediatas.

A grande ironia desta história é que a Honda já produz comercialmente um carro movido a hidrogênio. O Clarity já está disponível no Japão e – pasmem! – chegou à Califórnia em julho do ano passado!!!! Foi um lote pequeno, de 200 veículos, por conta da falta de infraestrutura de abastecimento: a montadora está construindo literalmente sua rede de “postos”, a Honda Energy Station.

Ou seja, fontes alternativas podem transformar uma montadora em uma empresa de energia! Sonho de consumo de muito presidente por aí: deixar de ser empresa de produtos, que fica lutando por vendas que muitas vezes acontecem uma vez na vida, e transformar-se em um prestador de serviço que vende todo dia, toda semana, todo mês...

Pois acredite: nesse ponto entrou outro argumento da dupla Obama/Chu contra o carro a hidrogênio - o custo de implantação da infraestrutura para abastecimento do consumidor. Ah, e eles também choram as pitangas por conta da suposta dificuldade de armazenar o hidrogênio, de produzir o hidrogênio...

Enquanto os EUA engavetam o uso do hidrogênio como fonte energética para veículos (para usos não-automotivos a verba permanece... engraçado, né?), o ônibus a hidrogênio começará a rodar aqui em São Paulo em julho. E os patrocinadores desse projeto acreditam que o Brasil pode se transformar em uma plataforma global de produção e exportação dessa tecnologia – como já acontece hoje, com a tecnologia flex, tão corriqueira aqui, mas que ainda é vista com desconfiança lá fora. Uma pesquisa da Johnson Controls mostrou que embora 90% dos americanos se mostrem abertos a esta tecnologia, 80% deles têm dúvidas se vale a pena adquiri-la.

Se no centro do poder ainda se caminha um passo para a frente e outro para trás (para não parafrasear literalmente o Lênin), aqui na periferia as perspectivas são melhores. Chegou ao mercado agora em março (e está vendendo que nem pãozinho quente) a primeira motocicleta bi-combustível do mundo, desenvolvida pela mesma Honda, do primeiro carro a hidrogênio produzido comercialmente no mundo.

Pois é, o problema não é tecnologia... Nem viabilidade econômica... Como em quase tudo, a questão é a vontade política (ou sua falta). O lobby sem dúvida é legítimo, mas se apenas as empresas o exercerem de forma organizada, não chegaremos a uma solução adequada para o conjunto da sociedade.

A questão é: de que forma eu e você podemos fazer lobby em prol dos nossos interesses? Você tem alguma idéia?

A foto é do Clarity, da Honda, em um posto de abastecimento de hidrogênio.

Veja o mundo de uma forma diferente

Veja os mapas abaixo, publicados em estudo da Lancet que estabelece uma relação direta entre aquecimento global e mortalidade.
No primeiro gráfico, os países são distorcidos segundo sua relevância na emissão de CO2. É onde EUA, China e Europa têm destaque. No segundo, estão ampliados, também proporcionalmente, os países onde mais se morre de doenças decorrentes do aquecimento global, como malária, diarréia e má nutrição. Como você pode perceber, causa e efeito estão dissociadas geograficamente. Os países que mais contribuem para as mudanças climáticas quase não aparecem entre os que são penalizados com as consequências.
Mais uma evidência de que os efeitos das mudanças climáticas são mais severos nos países - e com as pessoas - mais pobres.

Como reciclar CDs

“Estou com vários CDs que de nada servem, pois não são regraváveis e o conteúdo deles está obsoleto. Quero jogá-los fora mas não sei como proceder. Tem alguma idéia?” Carin Duarte.

A primeira pergunta é: o CD exige um descarte diferenciado? Ou ele pode ir para o lixo comum?

Uma análise dos elementos que compõem um CD mostra que ele não possui nenhuma substância tóxica (ufa!), mas sim de materiais que demoram até 450 anos para se decompor. Ou seja, o principal problema do descarte incorreto do CD é o volume que se acumulará na natureza.

Esse volume é composto basicamente por uma base plástica de policarbonato coberta por uma camada reflexiva feita de liga metálica de ouro, prata ou alumínio, além de uma camada de gravação, de laqueamento e uma superfície de proteção.

O processo de reciclagem inclui a desmagnetização, o desmonte dos discos e a reciclagem do plástico e de outros componentes. Ou seja, é complexo e caro. Para se tornar economicamente viável, ele dependeria ou da força da lei, obrigando a reciclagem, ou de incentivos que tornem esses materiais economicamente competitivos.

Pois é: se você pensou “xi... isso não deve existir aqui no Brasil”, sua resposta está eeeeeeeeexata!!!

A reciclagem de CDs já ocorre em países desenvolvidos, porém mesmo lá apenas em escala industrial. O consumidor... bom, quem se importa com o consumidor, né? Para ele, ficam as fatídicas recomendações de “consumo responsável”: diminua a quantidade de dados desnecessários que são armazenados, reveja a necessidade de comprar CDs com informações disponíveis na internet, não aceite CD’s promocionais...

O consumo responsável é importante, porém ele complementa (e não substitui) a necessidade de processos de reciclagem que permitam o correto descarte do material já existente – e que foi adquirido sem que houvesse qualquer informação ou educação ao consumidor sobre seu impacto no ambiente. A reciclagem artesanal, responsável por peças belíssimas e inusitadas, é uma alternativa complementar, porém de baixo impacto e, evidentemente, insuficiente para resolver o problema.

Enfim, Cárin, enquanto a legislação não vem, tente o site http://www.setorreciclagem.com.br/, onde existem recicladores que aceitam doações de CDs.

Estudo da ONU: favelas são mais castigadas pelas mudanças climáticas

Estudo da Estratégia Internacional para a Redução de Desastres, ligada às Nações Unidas, conclui que a soma do crescimento das favelas em todo o mundo com as mudanças climáticas resulta em riscos maiores de megadesastres. Esta equação aplica-se mais diretamente aos países em desenvolvimento, muitos dos quais não possuem mecanismos ou estruturas estatais de apoio à sociedade nesses momentos.

As 200 páginas deste estudo mostram como as variáveis ambiental, social e econômica estão intrinsecamente interligadas: a pobreza leva a população para áreas de risco que, por conta das mudanças climáticas, ficam mais expostas a acidentes. No caso da população rural, por exemplo, o estudo chama a atenção para o risco maior existente em regiões de desmatamentos de floresta, mais suscetíveis a deslizamentos, ou para os que habitam em regiões secas, que devem ser mais castigadas nos próximos anos.

E se a mudança climática amplifica o problema social, a falta de recursos econômicos dificultará cada vez mais que tais populações consigam absorver e se recuperar de tais impactos, que comprometem a própria economia como um todo: apenas em 2008, 300 desastres naturais provocaram prejuízos da ordem de US$ 180 bilhões. A parcela da economia global que é diretamente ameaçada por enchentes dobrou desde 1990.

Cerca de 900 milhões de pessoas vivem em favelas e assentamentos em localidades vulneráveis a desastres como inundações, ciclones e terremotos. Detalhe: essa população cresce a uma taxa média de 25 milhões de pessoas a mais por ano. Desde 1975, 1,7 milhão de pessoas morreram em 23 "megadesastres". Vinte e oito por cento mais pessoas correm o risco de perder suas casas, rendas e vidas hoje do que duas décadas atrás.

Embora seja inevitável lembrar das enchentes que estão atualmente afetando o Norte e Nordeste do Brasil – bem como das catástrofes que todo ano atingem Rio de Janeiro e Minas Gerais – o estudo indica que os maiores riscos estão na Ásia: três quartos das pessoas que correm o risco de morrer em enchentes em todo o mundo se concentram em Bangladesh, Índia e China.

PS - não deixe de ler o excelente artigo de José de Souza Martins, publicado no caderno Aliás do Estadão deste domingo, 17/05, sobre a maneira bastante peculiar com a qual nós, brasileiros, lidamos com a questão da enchente - transformando sua previsibilidade em um fator de adaptação que tolhe a efetiva solução dos problemas.

Foto do site da prefeitura de Rio do Sul, da enchente ocorrida na cidade em 1954.

Amazônia: ponto de ruptura acontece em 4 anos

Acredito firmemente que relacionar sustentabilidade a algo que não esteja próximo de nossas vidas é uma armadilha para deixarmos tudo como está. Mas embora fique a quilômetros de distância, a Amazônia tem, sim, a ver com a nossa vida: ela é uma âncora climática que segura os padrões de chuva e temperatura no mundo todo. Ela é também uma fonte de inúmeros recursos econômicos. É, ainda, um celeiro de diversidade social e cultural cuja integração está por acontecer.

Essa percepção tornou-se mais aguda depois de ler a entrevista do Adalberto Veríssimo, um dos fundadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), publicada na edição de final de semana do Valor Econômico (agradeço ao José Eli Veiga pelo envio do material). Abaixo resumo os principais tópicos destacados na matéria:

I - O problema:

· A grande Amazônia tem 8 milhões de km2, dos quais 5 milhões estão no Brasil.
· Ela responde por 8% do PIB e 55% dos gases de efeito estufa emitidos pelo Brasil.
· 900 mil km2 (= uma Venezuela), ou 15% do total já foram desmatados. Desse total, 730 mil km2 estão do lado brasileiro da floresta.
· Por ano se extraem cerca de 24 milhões de metros cúbicos de madeira, o equivalente a 6 milhões de árvores (nesse processo danificam-se outros 4 milhões de árvores, que não são necessariamente derrubadas, mas cuja vida fica comprometida).
· Quando atingirmos 30% de área desmatada, o processo de degradação será irreversível – ou seja, a partir daí não adiantará de nada parar de desmatar porque a floresta entrará automaticamente em colapso, pois seu mecanismo de recuperação terá sido destruído. Em termos técnicos, isso se chama ponto de ruptura.
· Esse ponto deve ser atingido daqui a 4 anos.

II – O ciclo econômico que gera o desmatamento

· A exploração econômica da Amazônia baseia-se na abertura de fronteira permanente, como se não houvesse limites.
· Ela começa com a tomada de posse de uma grande área, cuja floresta é derrubada para gerar o caixa necessário para se instalar a infra-estrutura de ocupação. Ocorre que o solo da Amazônia varia muito: salvo em lugares de minérios ou de terra com composição química adequada ao plantio (de pastagens ou grãos), a atividade implantada não se sustenta e a riqueza acaba quando a madeira acaba.
· Quando a área fica degradada, o agente econômico muda-se para uma nova fronteira de desmatamento, deixando para trás um município falido, sem renda ou emprego, que se torna totalmente dependente dos programas do governo.

III – Os entraves à produção sustentável

· A produção de madeira manejada na Amazônia representa apenas 10-15% do total.
· Um dos principais motivos para o baixo uso da produção manejada é que ela exige áreas legalizadas e 53% do território da Amazônia Legal não tem uma definição clara de quem é o dono (dos 47% restantes, 43% são áreas protegidas).
· A questão fundiária depende de Brasília e o Governo Federal: 1) não finalizou um zoneamento econômico-ecológico desse bioma que dê suporte às políticas para a região, portanto ele trata coisas diferentes com uma mesma medida; 2) não considera a região uma prioridade – tanto que o Plano Amazônia Sustentável, lançado em maio do ano passado, não decolou por falta de verba. A área econômica do governo só vê a Amazônia como prioridade nos investimentos dentro do plano de geração de energia. Nesse vácuo, a Bancada Ruralista age obtendo autorização para desmatamentos crescentes.
· O zoneamento econômico-ecológico é importante para que se saiba o que é preciso preservar e onde dá para ter atividade econômica. Em áreas de ocupação expressiva, faz mais sentido intensificar a atividade econômica do que reflorestar, inclusive como forma de reduzir a pressão por mais desmatamento.

IV – O ciclo de degradação da floresta

· Começa com a exploração madeireira e o corte das árvores, das de maior valor para as de menor valor.
· Como essas áreas de exploração ficam perto de pastagens, elas em seguida são invadidas pelo fogo que, nesse estágio, é rasteiro, ou seja, não consome as árvores e, portanto, não é detectado pelos satélites. Esse fogo mata as raízes das árvores, as sementes e mudas do solo, ou seja, a próxima geração da floresta.
· A recuperação fica comprometida por conta da maior quantidade e tamanho das aberturas pelas quais entra o sol (geradas pelo desmatamento), as quais intensificam o processo de ressecamento do ambiente.
· A partir deste ponto de pouca umidade e baixo estoque de sementes e mudas, a floresta não consegue se recuperar e entra em colapso, mesmo que não haja mais desmatamento.

Inclusão: o exemplo da Lusa

Esporte e inclusão social têm uma relação direta, na qual as Paraolimpíadas são o aspecto mais visível dessa equação. Mas além dos portadores de necessidades especiais e dos dependentes químicos, há um outro público que pode reentrar na sociedade pela porta do esporte: os ex-presididários.

O exemplo vem da Lusa, a Associação Portuguesa de Desportos, de São Paulo. Na peneira do time juvenil, eles não tiveram medo de selecionar entre 200 candidatos um rapaz que foi preso por latrocínio (assalto seguido de homicídio) aos 16 anos. Ele conquistou a semiliberdade no início deste ano. Junto, veio o apoio do time para treinar em seu estádio, no bairro do Canindé, onde, no começo, chegava com escolta policial. Agora, já treina sem escolta – e com a promessa, feita pelos dirigentes da Lusa, de que será contratado ao final da pena.

Veja a matéria (emocionante) que saiu esta semana no Globo Esporte e aproveite o ócio do final de semana para rever a questão da reintrodução de ex-presidiários na sociedade.

Sobre o ônibus a hidrogênio e a neutralidade da ciência

Em julho começa a rodar em São Paulo o primeiro ônibus movido a hidrogênio. Caso você queira detalhes sobre a tecnologia, recomendo a matéria do site Planeta Sustentável. Obviamente, ela é retratada como simples, segura, limpa, bacana... sonho de consumo sustentável!

É o tipo de notícia que alimenta nossa esperança na capacidade do ser humano de desenvolver soluções inovadoras que nos permitirão superar o desafio das mudanças climáticas, da excessiva dependência do petróleo, do esgotamento das matérias-primas...

Mas quando tiro os óculos cor-de-rosa, um sub-texto me chama a atenção nessa notícia: que o teste dessa tecnologia esteja acontecendo aqui. Mais: que um dos especialistas que participou do desenvolvimento do ônibus a hidrogênio, Ferdinand Panik (adorei o sobrenome – risos!), declare que o Brasil deverá se tornar um pólo exportador de veículos a hidrogênio. Se isso acontecer, reforçaremos nossa tradição no apoio ao desenvolvimento e disseminação de energias alternativas, que inclui o desenvolvimento do motor a álcool e da tecnologia Flex.

Por que aqui e não na Alemanha ou Japão ou nos EUA, que têm tradição (e recursos humanos e financeiros e tecnológicos) no desenvolvimento de novas tecnologias? Se a tecnologia é tão limpa, por que ela já não foi saudada como a salvação da lavoura e recebeu incentivos para entrar nas linhas de produção, já que não se fala em outra coisa senão em aquecimento global? Porque uma consulta rápida ao oráculo, quer dizer, ao Google, mostra uma infinidade de sites e matérias: todos sobre projetos futuros, promessa, protótipos mostrados em feiras de automóveis e eventos e competições alternativas... Mas nada ao alcance do consumidor.

Se a tecnologia está sendo colocada em uso no transporte público aqui em São Paulo, ela deve ser segura: nenhum político se arriscaria a mandar para o além as 50 pessoas que cabem em um ônibus! Deve dar para rodar bastante (a matéria fala em autonomia de 300 km), já que o trânsito aqui torna qualquer percurso de cinco minutos em uma penitência de meia hora. E a questão do preço não chega a ser um entrave. Primeiro, porque há muito dinheiro de subsídio rolando mundo afora na pesquisa e desenvolvimento de fontes de energia alternativas ao petróleo. Segundo, porque preço mais alto é uma característica comum a qualquer nova tecnologia (quem não se lembra do assalto que era um celular nos anos 90?) e já é contemplada na curva de adesão do produto pelo consumidor.

Não, não estou querendo desenvolver nenhuma teoria da conspiração. Só estou querendo chamar a atenção para o fato de que a ciência não é neutra, ao contrário do que acredita o senso comum, e ela se move e se desenvolve de acordo com os interesses econômicos (motivo pelo qual, por exemplo, você não cura inúmeras doenças: apenas administra os sintomas mediante ingestão constante de algum medicamento). E o poderio econômico de quem fornece energia hoje não é desprezível e ainda dá várias cartas na atual rodada do pôquer energético.

Note que eu não estou falando em práticas escusas, mas do lobby legítimo e, principalmente, da maneira como são tomadas as decisões sobre mudanças tecnológicas. Sobre este tema, recomendo a leitura do estudo da WWF sobre porquê as tantas ótimas soluções já descobertas para minimizar os impactos do atual modo produtivo não vingam. Entre os principais obstáculos estão o apoio grande e contínuo, direto ou indireto, para melhorar de métodos já defasados e a tendência, na política de planejamento e de investimentos públicos, de se consultar principalmente ou somente os grandes da indústria e do mundo dos negócios, que geralmente são a favor de soluções tradicionais.

Em outras palavras: quando deixamos a indústria farmacêutica se tornar o principal pólo de pesquisa sobre saúde, teremos remédios (e não a cura) como solução. Quando deixamos a indústria de petróleo pesquisar alternativas ao petróleo, a solução será outro tipo de carboneto (isso lembra algo para você) que também gera CO2 no ar. Não quero, com isso, negar a importância do desenvolvimento científico. Quero apenas chamar a atenção para o fato de que precisamos de um pouco de senso crítico para entender quais avanços a “ciência” está nos trazendo e, principalmente, questionar e cobrar se são esses os avanços que queremos.

De que forma? Veja o vídeo abaixo, da ONG Aavaz. É uma iniciativa. É um começo.


Você é um ecotariano?

Não, não se trata de um novo signo zodiacal, mas sim de uma nova forma de encarar a alimentação. O termo pega carona no já conhecido “vegetariano”. Mas aqui a proposta não é ser veggie, mas ser eco, ou seja, incluir a sustentabilidade no cardápio.

A definição completa do termo pode ser encontrada na Wikipedia. Mas, em resumo, ela fala de pessoas que selecionam o que vão colocar no prato considerando, por exemplo, a quantidade de energia que foi necessária para produzi-las. Trata-se de uma equação que une alimentação orgânica, abastecimento de produtores locais e comércio justo. Além, é claro, da questão da carne: os ecotarianos não são contra seu consumo, desde que ele seja feito dentro de determinados parâmetros (sem exageros, de produtores locais e a partir de animais criados em condições dignas).

Vamos deixar de lado o aspecto exótico da história (e do termo) e pensar na viabilidade efetiva desta proposta. Por um lado, ela exige compromisso do indivíduo. Porém, do outro, demanda oferta de mercado – afinal, ninguém vai passar fome porque não encontrou um prato feito com produtos cultivados do lado de sua cidade, sem agrotóxicos e com respeito pelos animais.

Ocorre que a cadeia de produção e consumo não está organizada para atender esse tipo de demanda. Portanto, se você gostou da idéia, lembre-se: tudo começa com seu compromisso e sua mudança de atitude, sim. Mas não para aí: você tem que se mobilizar para que o mercado (a sociedade, o governo etc. etc.) estruturem os processos necessários para que seu novo hábito de consumo possa ser atendido. De que forma? Não sei! (não me xingue: pelo menos, eu sou sincera!) Intuitivamente, acredito na força do exemplo e da boca-no-trombone.

Só não deixe te reduzirem a um ecochato, caso queira seguir por esta seara. Faça o que fizer, exija respeito.

Cresce o número de pássaros em risco de extinção

Quem me conhece sabe o quanto aaaaamo pássaros, portanto não poderia deixar de registrar aqui a triste notícia, divulgada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) de que 1.227 espécies, ou 12% de todos os pássaros conhecidos, estão em situação de risco. Destas, 192 estão em situação crítica - inclusive o beija-flor da foto ao lado.

O avanço da agricultura permanece como uma das principais causas, ao lado da atividade madeireira (= nome bonito para desmatamento) e convivência com espécies invasivas.

Pasárgada, versão Século XXI

Quem já não pensou "Vou-me embora para Pasárgada", repetindo a perfeita síntese que Manuel Bandeira fez do sonho de morar em um lugar idílico, onde se é amigo do rei?

Pois no Século XXI, o que atrai em Pasárgada não é mais a amizade do rei, mas a ausência de carros ou o compromisso de ficar um dia por semana sem comer carne. Face à necessidade de reduzir drasticamente as emissões dos gases causadores do efeito estufa, municipalidades estão investindo em soluções coletivas que alteram hábitos de consumo - com a adesão e o apoio da população.

Este é o caso de Vauban, na periferia de Freiburg, na Alemanha, em cujas ruas não há carros (com exceção da rua principal, por onde passa o bonde para o centro de Freiburg, e de umas poucas ruas na zona limítrofe da comunidade). Lá, 70% das famílias não têm automóveis e 57% venderam o carro para se mudarem. Sim, foi exatamente isso que você leu: as pessoas optaram por vender seus carros para ter a oportunidade de morar nesse bairro. Motivo? Qualidade de vida.

Junto com a qualidade de vida, veio o ganho ambiental. Carros de passageiros são responsáveis por 12% das emissões de gases causadores do efeito estufa na Europa, segundo a Agência Ambiental Europeia, e por até 50% em algumas áreas dos Estados Unidos. No Brasil, se expurgarmos os gases gerados pelas queimadas, também teremos nos veículos a principal fonte de emissão de CO2: estima-se que o trânsito de de S. Paulo responda por 5% de todo CO2 emitido em nosso País. Caso queira mais detalhes sobre essa história, que saiu no NYT e foi traduzida pelo UOL, clique aqui.

A Vauban soma-se a cidade de Ghent, na Bélgica. Lá, a tentativa de reduzir a pegada ecológica da localidade tem outro foco: a redução no consumo de carne , já que sua produção, segundo as Nações Unidas, responde por um quinto dos gases que provocam o efeito estufa. Para tanto, a municipalidade propõe um dia vegetariano para todos os habitantes. A iniciativa começará pelo serviço público, que esta semana passa a se alimentar de opções vegetarianas uma vez por semana. Para incentivar a população, 90 mil mapas com indicações de locais onde se vende comida veggie estão sendo distribuídos para os habitantes. Em setembro, o dia veggie deve ser levado para as escolas.

Tais iniciativas estão sendo acompanhadas pelas agências e profissionais de planejamento urbano e têm tudo para se disseminar em outros países. E se você gostou da idéia, cobre de sua prefeitura.

Comunicação responsável: celulares ecológicos

Mais um exemplo de como a comunicação pode comprometer a imagem de sustentabilidade de uma empresa. Desta vez, no mercado de telefones celulares.

Motorola e Samsung lançaram aparelhos com apelo ecológico. A primeira veio com o MOTO W233, que tem 25% de sua estrutura externa feita de material reciclado a partir de garrafas pet e vem com o certificado Carbonfree, que garante que o produto compensa as emissões de carbono no seu processo de fabricação, distribuição e uso com investimentos em projetos de preservação ambiental. A segunda, com o Samsung Blue Earth, o primeiro telefone celular que pode ser carregado por energia solar. Totalmente feito de plástico reciclado de garrafas PET, ele vem com um pedômetro que calcula a redução de emissões de CO2 geradas por nossos percursos a pé e apresenta o resultado sob o número de árvores que foram salvas. Ah, e ele foi apresentado ao mercado antes do modelo da Motorola!

Pelas informações acima, tenderíamos a considerar a Samsung mais “sustentável” que a Motorola, correto? Antes de responder, considere apenas mais esta informação: o produto da Motorola já está à venda; o da Samsung, não – o anúncio foi feito com a pulverização de fotos maravilhosas, mas não temos acesso a esta oitava maravilha da tecnologia. A Motorola, por sua vez, teve o cuidado de alardear seu produto apenas quando ele entrou no mercado (em parceria com a Claro e Wal-Mart).

Depois de tomar conhecimento desse pequeno detalhe, qual das duas empresas lhe parece mais sustentável?

Apple: transparência total na comunicação

Ontem falamos da Coca-Cola, que exagerou na comunicação de suas ações de sustentabilidade a ponto de colocá-las em xeque perante a opinião pública. Hoje, vamos falar do oposto: uma empresa que decidiu explicitar todos os limites de uma ação de reciclagem.

Trata-se da Apple, nos Estados Unidos (porque aqui no Brasil os caras não têm qualquer iniciativa de logística reversa). Até 31 de julho as escolas daquele país podem se cadastrar no site deles para que seus computadores – qualquer um, de qualquer marca – sejam recolhidos para reciclagem. A ação não está vinculada a qualquer ato de compra, não implica em custo para as escolas, mas vale apenas para as instituições com mais de 25 máquinas para reciclagem.

A comunicação da empresa está sendo totalmente transparente: eles informam a abrangência da ação (qualquer computador), público à qual se direciona (escolas nos EUA com mais de 25 computadores para reciclagem), duração (até 31 de julho) e custos (por conta da Apple).

Pergunta: como você reage a este tipo de comunicação? Você fica com a impressão de que é muito pouco, face o tamanho da Apple no mercado? Ou você fica satisfeito com a coragem dos caras em comunicar os reais limites de uma ação pontual em todas suas dimensões?

Poste em COMENTÁRIOS (ver abaixo) a sua opinião!

Viva Positivamente: analisando um dos filmes da Coca-Cola

Você já deve ter visto na TV o filme abaixo. Ele dura meros 30 segundos e conta que as garrafas da Coca-Cola são transformadas em mochilas, brinquedos e até bolas de futebol depois de usadas. No encerramento, uma frase ambiciosa: “Toda vez que você bebe Coca-Cola, você contribui para melhorar a sua comunidade”.

Várias pessoas que não acreditaram nessa alegação sugeriram que eu escrevesse sobre isso aqui no blog. Mas como todo mundo é inocente, até prova em contrário, eu entrei no site Viva Positivamente, que reúne o programa de Sustentabilidade da Coca-Cola e suas engarrafadoras, e no site institucional da empresa.

Descobri que, assim como a propaganda criticada por meus amigos, o site de sustentabilidade tem muito visual e pouca consistência. Foi no institucional que encontrei informações, e não só alegações, sobre o quê de fato a Coca-Cola está fazendo nessa seara. A abordagem da empresa para redução do descarte de embalagens é multifacetada e envolve:

• A redução de seu peso – este programa levará a uma economia de PET suficiente para fabricar 270 milhões de embalagens de 2 litros/ano, quando totalmente implementado. Só que o texto não informa quando ele estará “totalmente implementado”.

• A reutilização de embalagens – tive que ir ao site americano para descobrir que a reutilização corresponde a 19% do total das embalagens da empresa no mundo. Ou seja, um quinto do problema.

• A reutilização do PET – para isso, a empresa deu apoio para que o projeto Bottle to Bottle, que permite produzir uma embalagem de PET nova a partir da resina PET reciclada, fosse aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Só que isso aconteceu em 2007 e o site não informa se a empresa já está usando PET reciclado em suas embalagens. Encontrei apenas a informação de que o PET reciclado é usado em equipamentos de promoção de vendas, como rack, menu board (display para exposição do cardápio em pontos de venda) e camisetas promocionais. Nada sobre seu uso para fazer as próprias embalagens PET.

• A não pigmentação das embalagens, processo que dificulta a reciclagem, sem uma ação compensatória. O site não explica o que é e como é calculada essa ação compensatória.

• A reciclagem – chegamos ao tema do referido comercial. Descobri que o programa de reciclagem da Coca já foi até reconhecido em prêmios de sustentabilidade. Mas descobri também que tem dimensões muito pequenas para a alegação, feita no comercial, de que “Toda vez que você bebe Coca-Cola, você contribui para melhorar a sua comunidade”. Primeiro, porque ele envolve apenas 37 cooperativas em 24 estados. Ou seja, não está presente em todo o País, mesmo se a ele somarmos a parceria com o Wal-Mart para instalação de estações de coleta de resíduos recicláveis em todas as lojas este ano. Pois embora a empresa declare que o programa, “quando totalmente implementado” (acho que eu já vi isso antes...) beneficiará diretamente 80 cooperativas e 2.500 catadores em todo o Brasil, o Wal-Mart está apenas em 18 estados. Em segundo lugar, foram apenas 4 milhões de quilos reciclados pelo programa em 13 anos de existência, segundo a própria empresa. E esse número contempla tanto as embalagens de alumínio, como as embalagens PET. Como sabemos que as latinhas são muito mais recicladas que o PET, podemos deduzir que o índice de reciclagem do plástico ainda é incipiente, insignificante, ridiculamente pequeno perto da produção da Coca-Cola – e, portanto, não justifica os milhares de reais empregados na produção e veiculação do referido comercial.

Ou seja, a indignação de quem me contou sobre esse comercial se justifica. Mas o lado triste da história é que a empresa está efetivamente fazendo muito mais que sua obrigação. Ou seja, o problema não é o que a Coca faz, mas o que ela diz que faz. O exagero da mensagem publicitária torna pequeno o que ela vem efetivamente fazendo há tanto tempo e com tanta seriedade.

Ao prometer demais, a empresa cria expectativas que não são cumpridas e arranha sua credibilidade.

Em resumo, um anti-case de comunicação para a sustentabilidade.


Combustíveis fósseis: entre a inflação e a poluição

Eu não sou economista, mas um amigo meu que é me explicou que substituir os combustíveis fósseis é, antes de mais nada, uma questão de preço: ainda não existe fonte tão barata, salvo hidrelétrica e nuclear. É preciso que o petróleo encareça muito para que energias alternativas, como eólica e solar, se tornem realmente competitivas.

Isso significa que qualquer mudança partirá de uma decisão política: incentivar um setor em detrimento de outro. Isso pode ser feito, por exemplo, mediante taxação das emissões de carbono, um dos resultados possíveis da Conferência do Clima de Copenhagen. Podemos inclusive imaginar um mecanismo de imposto sobre o petróleo para subsidiar fontes limpas de energia. Em qualquer das alternativas, o saldo será o mesmo: energia mais cara.

Ou seja, estamos na encruzilhada entre a inflação e a poluição.

A poluição leva ao aquecimento global.

A inflação eleva os preços das mercadorias, excluindo do mercado consumidor a parcela mais carente da população.

Em suma, não dá para tratar o aquecimento climático sem uma estratégia de inclusão social que permita à sociedade absorver a crescente contabilização das externalidades.

É como no cubo mágico: quando você mexe em um lado, altera o outro. A solução só vem quando um determinado movimento atende várias facetas.

Pergunta: a ONU incluiu esse tema na agenda da Conferência do Clima em Copenhagen?

Conheça os primeiros refugiados do aquecimento global

Os habitantes das ilhas Carteret, pertencentes à Papua Nova Guiné, na Oceania, são os primeiros refugiados oficiais do aquecimento global. A elevação do nível do oceano, prevista há anos, está agora invadindo plantações e contaminando as fontes de água doce, tornando inviável a vida das 2 mil pessoas daquele atol.

Quem está acompanhando a história é Dan Box, da revista The Ecologist. Foi ele quem testemunhou em 22 de abril a saída de um barco a motor com cinco pais de família em direção a Bougainville, uma ilha maior que fica nas redondezas, onde está em curso a construção de suas novas casas. A mudança de toda a comunidade deve ocorrer até junho, quando a primeira colheita de batatas doces na outra ilha servirá para alimentá-los.

De acordo com o National Tidal Center da Austrália, a cada ano o mar na região está subindo 8,2 mm. Isso signfica que daqui a seis anos, em 2015, as ilhas de Carteret deixarão de existir, submersa pelo mar.

Conheça a ilha e seus habitantes no vídeo abaixo:


Seu cabelo pode solucionar vazamentos de óleo

Nem todo mundo sabe, mas cabelo humano e pelos de animais têm excelente capacidade de absorver óleo. Por isso, são materiais excelentes para minimizar os efeitos de vazamentos de óleo no ambiente. A questão é: como reunir uma quantidade suficiente para tecer os tapetes de cabelo usados em ações ambientais?

Nos EUA já existe uma ONG especializada no recolhimento desse material, na produção dos tapetes e envio para as entidades que lidam com acidentes ambientais envolvendo vazamento de óleo. Trata-se da Matter of Trust, que recebe doações de salões de cabeleireiro de todo o país. Os custos de remessa são pagos pelos próprios cabeleireiros

A idéia de usar cabelo para absorver petróleo é do hair stylist Phil McCrory. Impressionado com a cobertura do acidente do Exxon Valdez em 1989, ele começou a testar a eficiência do cabelo que antes era jogado no lixo em seu salão para absorver óleo e acabou chegando à solução dos tapetes de cabelo. Ele levou a solução para a ONG Matter of Trust, que incorporou a causa e passou a receber doações de cabeleireiros de todo o país.

O potencial desta técnica é enorme, uma vez que cada salão gera uma média de meio quilo de cabelo por dia, segundo a entidade. O programa também aceita outras fibras naturais, como pelo de cachorro ou cavalo, restos de lã e meias de nylon (que são usadas na produção dos tapetes). E recentemente, a Matter of Trust iniciou pesquisas para usar o cabelo humano como fertilizante.

Espalhe esta notícia entre ONGs e pesquisadores aqui no Brasil e também para seu cabeleireiro. Quem sabe não conseguimos implantar em nosso país um esquema semelhante?

73 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2015

Relatório da Pike Research diz que o descarte de lixo eletrônico no mundo atingirá seu ápice em 2015, quando o descarte atingirá a incrível marca de 73 milhões de toneladas de computadores e celulares e iphones e ebooks etc. A partir de então, segundo o estudo, essa quantidade declinará graças à regulamentação governamental e à adaptação da indústria.

Será?

Bom, estamos falando em um horizonte de seis anos. E vários fabricantes, como Cisco, Dell, HP, Motorola, Nokia, Research In Motion, Sprint Nextel e Vodafone já acordaram para o problema e estão investindo em logística reversa (que é o nome técnico que se dá à prática de recolher os produtos que os consumidores descartam, como acontece aqui no Brasil com as baterias de celulares). Só que, como o próprio estudo admite, essa cadeia ainda é cheia de vulnerabilidades: quem não recebeu por email aquelas imagens de crianças separando lixo eletrônico na China?

Segundo o estudo, o principal desafio é o comportamento do consumidor porque “é muito fácil e relativamente barato simplesmente jogar no lixo” - nas palavras de Clint Wheelock, diretor da Pike Research. Tá. É mesmo. Agora, como consumidor, que alternativas você tem? Já escrevemos sobre isso neste blog: as opções de descarte correto são poucas, mal divulgadas, trabalhosas e geram custos. Nesse contexto, qual a margem de manobra dos consumidores? - lembrando que , no Brasil, a classe C é prevalente, portanto a questão do custo é fundamental.

O estudo admite que a consciência do consumidor está mudando e coloca esse como um dos itens que permitirá a redução do nível de lixo eletrônico a partir de 2016. Mas só consciência não basta: é preciso ter os meios para se fazer algo. E é aqui que entram empresas e governo.

À empresa cabe conversar com a cadeia recicladora e criar um ciclo de vida de produto mais sustentável.

Ao governo, cabe regular. E aqui, prezado(a) leitor(a), há um desafio enorme. Pois não são todos os países que têm legislação sobre lixo eletrônico. Pegue o caso aqui do Brasil: a lei só regula o descarte de pilhas e baterias. Mas um computador, uma televisão e – por que não lembrar? — uma geladeira, um microondas, um radinho de pilha também tem inúmeros componentes perigosos. Por conta disso, muitas multinacionais agem de uma maneira no país onde há lei e de outra, no país onde não há.

Como tampouco existe um padrão global, é grande o risco de termos legislações diferentes de país a país, dificultando a cooperação e o estabelecimento de uma cadeia global de recolhimento, reciclagem e reintrodução dos materiais no ciclo produtivo.

No Brasil e em outras nações em desenvolvimento temos a opção de doá-los. A primeira vista, é uma solução que incorpora um benefício social. Mas o que acontece quando quem recebe a doação precisa jogar fora o produto doado? Pois é: o que aparentemente é socialmente justo é, na verdade, uma simples transferência do problema para a população mais pobre. Em outras palavras, a doação não substitui a montagem de um processo de descarte correto.

Sinceramente, não sei se conseguiremos reverter o crescimento do lixo eletrônico.

Mas eu gostaria muito que fosse possível.

EUA lançam financiamento para agricultura orgânica

Saiu na Reuters: o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos criou um fundo de US$ 50 milhões para que os agricultores financiem as despesas de conversão da agricultura tradicional para a orgânica. Sim, é isso mesmo que você leu: o governo dos Estados Unidos está incentivando a adoção da agricultura orgânica!

Os recursos serão repassados por meio do Environmental Quality Incentives Program e abrangem também projetos de expansão das lavouras orgânicas certificadas já existentes. O programa estabelece um teto de US$ 20 mil por ano por propriedade ou um máximo de US$ 80 mil num prazo de seis anos – ou seja, o plano é formatado para atender pequenos e médios produtores.

Seis práticas são passíveis de financiamento: rotação de culturas, cobertura de culturas, gerenciamento integrado de doenças, gerenciamento de nutrientes, pastagem rotativa e gerenciamento da colheita de forragem. Os produtores interessados terão de 11 a 29 de maio para preencher os formulários.



Consumidores não acreditam no apelo verde

Pesquisa conduzida pela agência Havas Media com 20 mil consumidores de 50 marcas de 10 diferentes mercados indica que apesar da crise 48% dos consumidores concordam em pagar um Premium Price de 10% por produtos ou serviços realmente sustentáveis do ponto de vista ambiental e social. O problema é que 64% dos pesquisados não confiam no que é comunicado pelas empresas – para eles, há muito greenwashing, ou o uso indevido do apelo verde. Resultado, de acordo com os pesquisadores: a falta de confiança impede que a intenção se torne ação – e o consumo de produtos com apelo verde acaba sendo menor que seu potencial.

Esta quebra de confiança do consumidor na marca é significativa: a mesma pesquisa informa que mais de 80% dos consumidores afirmam respeitar as companhias que são responsáveis. Ou seja, não estamos mais falando em um tema restrito a um nicho, uma tribo ou um cluster de consumidores. Tanto que para 70% dos pesquisados, a responsabilidade de encontrar soluções para as questões da sustentabilidade é das empresas; apenas 30% creditam esta conta aos governos. Por conseqüência, cerca de 80% dos ouvidos acreditam que as empresas deveriam se envolver ativamente com o tema e entendem que eles mesmos, consumidores, precisam se adaptar e mudar seu estilo de vida para combater os atuais problemas.

A crítica em relação à comunicação das empresas tem por base amplos percentuais de entendimento do que é sustentabilidade: 90% informaram ter familiaridade com o tema, com 50% informando que ouvem frequentemente sobre o assunto. Como a pesquisa foi conduzida em países desenvolvidos e em desenvolvimento, percebeu-se que a atenção ao assunto é maior nestes últimos: por exemplo, enquanto 89% dos chineses declaram ouvir falar sempre do assunto, apenas 21% dos americanos fazem a mesma afirmação.

A falta de conexão entre o que é feito e o que é percebido se constitui em um grande desafio para as empresas que são sérias e comprometidas com a sustentabilidade. Nessa seara, estão se saindo melhor as corporações dos setores de alimentos e produtos de consumo (FMCG – Fast Moving Consumer Goods), como Danone, Nestlé, Unilever e Procter & Gamble. O varejo também tem expoentes que estão lidando melhor com esse problema, tais como Marks & Spencer e Tesco, no Reino Unido, Bimbo, no México, e KMart, nos Estados Unidos.

Como era de se prever, a agenda climática levou o consumidor a perceber o setor de petróleo como causador de prejuízos ambientais e sociais. Mas não o de veículos: ao avaliar marcas isoladas, o consumidor não as culpou pelas questões ambientais na mesma proporção que responsabilizou as petrolíferas.

Sacolas plásticas: a solução britânica

Common sense, ou bom senso, é uma expressão tipicamente inglesa. Ela sintetiza como nenhuma outra o espírito bretão – e também a forma como os problemas são resolvidos por lá.

Pegue o caso das sacolas plásticas, por exemplo. Por aqui, existe um esforço de comunicação para convencer o consumidor a utilizar embalagens retornáveis – no último domingo, por exemplo, o Wal-Mart distribuiu eco-bags para os assinantes de O Estado de S. Paulo. Mas a efetividade dessas iniciativas ainda está para ser provada: pelo menos eu não achei nenhum balanço de quantas sacolas plásticas deixaram de ser usadas por conta de tais ações. Caso você tenha visto algo, me conta, por favor! Porque o que eu tenho visto por aí é muita gente usando ecobags como bolsa – e sacolas plásticas para transportar as compras do supermercado e da feira.

Pois lá na terra da Rainha, ao invés de apelar para a consciência, eles resolveram cutucar o ponto mais sensível do ser humano: o bolso. E um ano depois de ter introduzido uma taxa de 5 pence por sacola, a Marks & Spencer, uma das maiores redes varejistas da Inglaterra, constata uma queda de impressionantes 80% em sua utilização. The National Trust, organização não governamental que cuida de propriedades históricas nas ilhas, confirma a tendência. Desde que começou a cobrar pelas sacolas plásticas em suas lojas, em maio do ano passado, viu a demanda por esse item cair 85%.

A cobrança, naturalmente, veio acompanhada por campanhas para que as pessoas adquirissem e não se esquecessem de usar as sacolas retornáveis.

Mas se o bolso do consumidor foi o alvo eleito para sensibilizá-lo sobre a questão das sacolas plásticas, as táticas eleitas não foram as mesmas. A Tesco, por exemplo, uma enorme rede de supermercados lá da terra de Shakespeare, optou por conceder pontos no cartão de fidelidade dos clientes que reutilizassem as sacolas plásticas em suas compras. Também tiveram grande sucesso – 50% de redução na utilização de sacolas novas – porém 1/3 atrás de quem resolveu ser menos sutil e cobrar pelo produto.

Graças à participação ativa dos varejistas, o consumo total de sacolas plásticas na Inglaterra caiu de 13,4 bilhões em 2006 para 9,9 bilhões no ano passado, segundo o Waste & Resources Action Programme. E o Department for the Environment Food and Rural Affairs acredita que as metas auto-impostas pelo varejo britânico farão com que 5 bilhões de sacolas deixem de ser consumidas por ano na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Se tal meta for atingida, eles deixarão de emitir 130 mil toneladas de CO2 na atmosfera – o mesmo que tirar 41 mil carros da rua todo ano.
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Fonte: The Guardian.

Foto: não achei a quem creditar esta ótima imagem que demonstra de maneira inequívoca como as sacolas plásticas estão matando a vida no planeta (não custa lembrar, nós somos vida no planeta também...)
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